quarta-feira, maio 25, 2022

Haja Luz - Terra Sem Forma e Vazia

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E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. (Gênesis, 1: 2)


E a terra era sem forma e vazia; este é o modo em que o redator bíblico se manifestou, para ele a terra era informe, isto é, sem forma.

Quando alguém compra um terreno e planeja ali a construção de sua casa, em seu campo mental a casa já está pronta, ele consegue visualizar tudo, e até transitar mentalmente entre os cômodos. Ao chegar um desconhecido ele tenta mostrar a casa para este que não consegue visualizar nada, pois  o terreno está vazio e sem forma.

Para o Deus o tempo não passa, o tempo é; Ele é anterior ao tempo. No Campo Mental do Criador tudo sempre existiu e de forma organizada.

Nada é vazio. "O que te parece vazio está ocupado por matéria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos."1

O "gérmen primitivo"2 de tudo sempre existiu em estado latente, eles ficam aguardando o momento propício para se desenvolverem3.

Para o homem existe o antes e o depois ele tem de construir e construir-se, o princípio é vazio e sem forma cabe a cada um dar a sua forma preenchendo o vazio. Esta é a oportunidade de trabalho, e a partir daí, de sua própria edificação.

e havia trevas sobre a face do abismo; a luz irradia pelo infinito. Deus é luz, Deus é amor; deste modo a luz é anterior a tudo. Porém em nosso universo material e devido aos nossos sentidos adaptados a este universo a luz expressa-se nas trevas. É preciso a treva para que ela reflita. A luz precisa de seu oposto para manifestar-se. Do mesmo modo é a relação entre bem e mal.

Na criação de nosso orbe a treva sobre a face do abismo expressa o caos inicial quando os elementos ainda estavam em confusão.4Pouco a pouco cada coisa tomou o seu lugar.

Na intimidade do Espírito se dá do mesmo modo, antes da revelação crística em nós reina as trevas, após a absorção da Luz, que representa o entendimento da Revelação, apaga-se a noite do desequilíbrio que gera a desarmonia.

havia trevas sobre a face do abismo;

...e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. Passam-se milhares de anos… desde a terra sem forma e vazia [o princípio de formação planetária , momento em que os técnicos espirituais sob a coordenação do governador planetário iniciam a construção do orbe físico], até o princípio da vida orgânica com o surgimento do protoplasma.

OS PRIMEIROS HABITANTES DA TERRA

Dizíamos que uma camada de matéria gelatinosa envolvera o orbe terreno em seus mais íntimos contornos. Essa matéria, amorfa e viscosa, era o celeiro sagrado das sementes da vida. O protoplasma foi o embrião de todas as organizações do globo terrestre, e, se essa matéria, sem forma definida, cobria a crosta solidificada do planeta, em breve a condensação da massa dava origem ao surgimento do núcleo, iniciando-se as primeiras manifestações dos seres vivos.

Os primeiros habitantes da Terra, no plano material, são as células albuminóides, as amebas e todas as organizações unicelulares, isoladas e livres, que se multiplicam prodigiosamente na temperatura tépida dos oceanos.

Com o escoar incessante do tempo, esses seres primordiais se movem ao longo das águas, onde encontram o oxigênio necessário ao entretenimento da vida, elemento que a terra firme não possuía ainda em proporções de manter a existência animal, antes das grandes vegetações; esses seres rudimentares somente revelam um sentido - o do tato, que deu origem a todos os outros, em função de aperfeiçoamento dos organismos superiores.5


Este momento representa a reunião dos elementos que refletem o pensamento de Deus no plano aplicativo (dinâmico), e as unidades psíquicas que já se ajustam ao desenvolvimento natural do orbe neste estágio em que se encontra a evolução.

Os espíritos superiores estão presentes porque há trabalho.

O campo dinâmico do psiquismo, desde o psiquismo do homem até uma bactéria, estão amplamente conjugados.

Nosso próprio organismo é um ótimo exemplo, existem nele unidades psíquicas que iniciam no processo evolutivo, tudo sob a orientação do Espírito já em fase superior de evolução.

O espírito de Deus se movia é a representação do plano operacional.

Se moviam (dualidade), saindo de um lugar e indo para outro.

O plano da caridade através do trabalho é dual.

Face das águas; são os elementos receptores do espírito de Deus. Importância do campo mental na estruturação das realizações, do preparo da "face das águas" para que o espírito de Deus produza algo positivo.

Face do abismo; tipos de elementos que ficam estagnados, como se fosse a unidade psíquica vinculada ao mineral.

Face das águas – movimento dinâmico.

Abismo –profundidade que acolhe os elementos embrionários. (germe)

Temos no abismo dois tipos de elementos:

  • Em evolução normal.

  • Em queda das faixas superiores.

    • O erro, ou o pecado dentro da concepção das religiões, é o mesmo que a queda das áreas superiores do psiquismo para as profundidades do abismo, da consciência para a inconsciência.


1 KARDEC, 1980,questão 36

2 Idem, Ibidem, questão 46

3 Id., ib., questão 44

4 Id.,ib., questão 43

5 (XAVIER F. C. / Emmanuel (Espírito), 1980), cap. II





  

quarta-feira, maio 18, 2022

No Princípio




No princípio criou Deus os céus e a terra. (Gênesis, 1: 1)


O Evangelho tanto quanto o Antigo Testamento devem ser estudados em seu aspecto reeducativo. É bom lembrarmos que a evangelização é pessoal, não se evangeliza a massa; a massa é o nosso instrumento de crescimento e a oportunidade de lançarmos a semente do Evangelho.

Quando estudamos evolução devemos levar em consideração que a evolução que deve ser estudada é a que promove o progresso moral do Ser, esta é a proposta de Jesus.

Para que o Espírito evolua, ele deve estar associado à matéria. A matéria é o instrumento que o espírito usa para a evolução.1

Esta evolução é feita em dois sentidos: descendente e ascendente.

O espírito mergulha na matéria, evolução descendente.

O espírito emerge da matéria, evolução ascendente.

Segundo os espíritos, na questão 621 de O Livro dos Espíritos, a Lei de Deus está gravada na consciência, Lei que foi esquecida. Segundo entendemos este esquecimento se deu na evolução descendente. Na ascendente buscamos lembrar o que foi esquecido. "quis Deus que ela lhes fosse lembrada."2.

Na descida as qualidades são potencializadas e na subida evolutiva, dinamizadas.

O berço da evolução é o campo físico. Ela acontece nos dois planos, físico e espiritual, entretanto, em nosso estágio atual não há como prescindir da matéria para realizarmos a evolução.

Já no primeiro versículo deste capítulo do Gênesis temos esta realidade:

Céus e terra representando:

  • Matéria e espírito

  • Informação e transformação

  • Intelecto e moral

  • Periferia e aprofundamento.

Notamos que segundo a ordem do relato bíblico temos céus e terra, sugerindo que os céus, o plano do espírito puro, veio antes, a terra como expressão do que é material só acontece depois. Em seu primeiro momento – se é que podemos assim dizer – Deus que é Espírito, cria espiritualmente, fora das dimensões tempo e espaço. Tempo e espaço só surgem com a formação do Universo material.

Através da evolução descendente surge a matéria, o espírito que neste momento perde a sua consciência irá readquiri-la pelo processo da evolução ascendente.

Temos aqui o símbolo da "queda do espírito". Antes, no paraíso de Deus, ele vive em espírito, depois ele cai na matéria e precisa, pelo esforço de recomposição – no suor do teu rosto comerás o teu pão3 - a ele voltar. É o que as religiões denominaram "salvação", ou "redenção".

Só se salva ou se redime o que se perdeu.

É neste sentido que devemos entender a palavra "religião", no de religar; religar a criatura ao Criador. Aqui temos o que é verdadeiramente religião, não confundirmos com as organizações religiosas criadas pelos homens.

A história da Bíblia é esta, a de salvação do Espírito. Ela inicia com a criação, depois temos a queda, na sequência as incessantes lutas do homem buscando Deus, e no final – no Apocalipse – a Jerusalém Libertada, que é justamente o símbolo da salvação do Espírito, da volta para Casa, para a Unidade Divina.

Em Adão temos o símbolo do rompimento da a Aliança feita com Deus, através de Jesus temos a retomada da Aliança, por isso Paulo com a autoridade que lhe era peculiar pôde dizer ser Jesus o último Adão.4

No Princípio; a expressão no princípio, em hebraico, beréshit, nos fala de uma origem; alguns analistas têm visto este princípio desvinculado de qualquer ideia de tempo, seria assim atemporal. Deus é eterno e incriado, deste modo a criação seria eterna, algo que jamais começou. Todavia podemos também entender este princípio como um momento escolhido no tempo para iniciar um relato. Dizemos assim, pois desta forma fica mais fácil a compreensão de algo que transcende o nosso entendimento: a origem de tudo.

Assim, temos o princípio de acordo com o estado evolutivo individual de cada um. Para uns a vida começa com o nascimento físico, outros aceitam com facilidade a preexistência da alma. Entre estes últimos há os que creem que a vida inteligente só acontece a partir do reino animal ou hominal, entretanto há aqueles que já veem o princípio inteligente no mineral, ou até mesmo antes deste.

De que princípio fala o texto, da origem do universo material? Das dimensões tempo e espaço? Ou simplesmente da fundação de nosso Orbe? Como dissemos, cabe a cada um analisar de acordo com a sua possibilidade evolutiva.

Os rabinos observam que a primeira letra do alfabeto hebraico é o "aleph". Esta simbolizaria Deus em sua Unidade; "beth", a segunda, a inicial de beréshit representaria assim, a dualidade. Portanto, beréshit (princípio), seria a entrada do universo na dualidade, a criação do mundo corpóreo.

Criou; ou criava segundo algumas traduções. Em hebraico "bara", verbo que só é utilizado tendo Deus por sujeito. Representa assim ação criadora divina que é diferente da ação produtora do Espírito. Deus cria a partir do que não existe, o Espírito só produz a partir do que já tem existência.

Deus; no texto original temos o nome Elohîms para designar o Deus que hoje conhecemos. Deus é único, singular, absoluto; porém Elohîms é plural. Segundo Chouraqui5, nas línguas semíticas, Elohîms é o termo genérico para designar o conjunto de divindades. Seriam assim, dentro da terminologia espírita, os Espíritos Puros, aqueles que segundo André Luiz realizam uma Co-Criação em plano maior. Relata-nos este autor espiritual:

Nessa substância original, ao influxo do próprio Senhor Supremo, operam as Inteligências Divinas a Ele agregadas, em processo de comunhão indescritível…

(…)Essas Inteligências Gloriosas tomam o plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes ou obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis predeterminadas…6

Emmanuel também nos esclarece a respeito:

Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias.7

Estas anotações estão em pleno acordo com o que nos ensinam os Espíritos na Codificação; em O Livro dos Espíritos encontramos:

Deus não exerce ação direta sobre a matéria. Ele encontra agentes dedicados em todos os graus da escala dos mundos.8

Portanto, quem constrói e formam os mundos físicos e materiais são os Espíritos destacados pelo Senhor Supremo para esta função, e Elohîms, Cristo, Logos, na verdade são nomes que expressam esses "agentes dedicados" que servem a Deus desde o princípio dos tempos.

Assim podemos compreender melhor estas primeiras informações do Gênesis como sendo a expressão de formação de mundos materiais, o nosso orbe por exemplo. Já existe "tempo", deste modo, é correto dizer no princípio. Deus é aqui a representação dos Espíritos Puros, Co-Criadores em plano maior, Elohîms.

Os céus e a terra; céus, no plural representa o infinito. Terra no singular, o finito.

Quando os cientistas estudam uma provável data para o surgimento do Universo (aproximadamente uns 15 bilhões de anos), falam do Universo físico. O Big Bang foi uma grande explosão a partir da qual surge o Universo, porém, é preciso perceber que alguma coisa explodiu, o quê? Não sabemos, porém era algo que já existia. A cada percepção de princípio da ciência, descobriremos que algo já existia antes, pois a ciência trata do relativo enquanto Deus é o Absoluto. Pode-se descobrir Deus através da ciência, porém, sua intimidade transcendental não é objeto de pesquisa desta.

Nossa visão de infinito é sempre relativa. Existem teorias sobre o infinito, mas não sabemos o que é.

Entramos no terreno da fé. Fé pode significar algo que não conhecemos mas que deduzimos.

Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêem.9

(…) porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos10

Portanto, Deus Cria, nós co-criamos.

Céus representa também a primeira criação. Mesmo nós que co-criamos iniciamos qualquer ação produtiva nos céus, isto é, no campo mental.

A terra representa assim o campo operacional; é onde executamos os projetos elaborados nos momentos de idealizações.


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1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 22, 50ª ed. Rio de Janeiro, FEB, 1980

2 Kardec, 1980, Questão 621. a)

3 Gênesis, 3: 19

4 Cf. 1 Coríntios, 15: 45

5 CHOURAQUI, 1995, pág.31

6 XAVIER Francisco C./ Waldo Viera / André Luiz (Espírito) Evolução em Dois Mundos, Cap. 1 1ª Parte, 13ª Ed. Rio de janeiro, FEB, 1993,

7 XAVIER, Francisco C. / Emmanuel. A Caminho da Luz, 10a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1980.

8 KARDEC, 1980, Questão 536, letra b

9 Hebreus, 11: 1

10 1 Coríntios, 13: 9




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quinta-feira, maio 12, 2022

Os Sete Anjos e as sete Trombetas

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Os sete Anjos munidos com as sete trombetas se prepararam então para tocar. (Apocalipse, 8: 6)

Neste versículo é importante relembrar que os Anjos são enviados de Deus, são Espíritos de grande evolução, por isso representam o Poder Divino, eles são portadores de uma mensagem vinda diretamente do Criador.

Depreendemos assim, que na ocorrência há uma determinação superior, uma Providência gerenciando os fatos e que estes têm um propósito no encaminhamento dos acontecimentos gerais que virão. Como dizia nosso querido e saudoso companheiro Leão Zálio, a circunstância é a vontade do Criador em favor da criatura, e nós não estamos à mercê delas de uma forma desordenada, tudo tem a sua razão de ser dentro de um plano mais amplo, e o gestor de tudo neste nosso planeta é o Cristo e em última instância o próprio Deus.

Aprendemos assim, que estas trombetas, que têm uma importância considerável em toda literatura judaica, e em especial neste livro que encerra os registros da Nova Aliança, vão nos trazer grandes revelações e para isso é necessário que haja preparo, nada acontece ao acaso, sem um planejamento superior. Se desejamos ser também portadores de revelação, instrumentos de Deus através de nossas realizações, nos preparemos, não esqueçamos que cada minuto é importante para a economia universal e para as conquistas que temos que realizar; cada ocorrência por mínima que seja é instrutiva e traz em si informações que se bem aproveitadas muito podem nos ajudar, não desprezemos as pequenas coisas, eles estão ajudando a construir em nós o psiquismo do Ser Renovado, da Nova Criatura portadora da Mensagem de Deus onde quer que nos manifestemos.

É preciso que estejamos preparados para tocarsempre em nome de Deus e de Seu Cristo.

E o primeiro tocou... Caiu então sobre a terra granizo e fogo, misturados com sangue: uma terça parte da terra se queimou, um terço das árvores se queimou e toda vegetação verde se queimou.(Apocalipse, 8: 7)

E o primeiro tocou...; trata-se do primeiro de uma série, uma série de "sete", não podemos perder isto de vista, que são sete ciclos reveladores que acontecerão e que no livro serão descritos nos próximos capítulos.

Caiu então sobre a terra granizo e fogo, misturados com sangue; a princípio uma manifestação terrível, vejamos só: granizo que são pedras de gelo, trazem muitas vezes, destruição. Fogo é um elemento incendiário, oposto ao gelo que é formado a partir da água, entretanto não é menos destruidor; e sangue que pode ser símbolo de dor, de desastres e até mesmo de morte, é sempre visto com um grande pavor. Temos uma chuva em que estes três elementos estão misturados.

Percebamos as expressões. Tudo isto caiu sobre a terra, "terra" esta que podemos considerar como sendo o terreno íntimo onde são germinadas as sementes de nossos sentimentos. Portanto, como temos dito, todas estas ocorrências têm um sentido plenamente reeducativo para o Espírito.

Nas anotações de Mateus, no terceiro capítulo, nos é dito sobre o batismo de João:

Eu vos batizo com a água para o arrependimento, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu (…). Ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo.1

O que temos aqui neste texto do Apocalipse é um desdobramento das palavras de João, o Batista, uma profecia ocorrendo.

O granizo é a água que representa para nós a justiça. A destruição que ele traz não é para extinção, mas como o Codificador nos orienta quando analisa a Lei de Destruição, para transformação. Construímos algo errado em nossa vida? Isto precisa ser destruído, ou melhor, transformado. O batismo de João era para o arrependimento, o "arrependei-vos" dito por ele é uma trombeta que soa na acústica de nossa alma. Arrependimento para conversão, conversão que é transformação mental, do homem interior; um novo padrão de vida é o desejado.

O Batista disse que "aquele que vem", que é o Cristo, nos batizaria com o fogo… é a mesma palavra que temos aqui. É o batismo do processo evolucional consciente quando adotamos a mensagem do Evangelho em nossa vida.

O fogo tem um sentido eficaz de purificação, no antigo Testamento ele simboliza a intervenção de Deus purificando as consciências.

Temos um texto no Eclesiástico que nos ajuda na compreensão:

pois o ouro se prova no fogo, e os eleitos, no cadinho da humilhação.2

Granizo e fogo misturados com sangue, é como se tudo estivesse junto no mesmo processo. Na simbologia do batismo de João temos o Espírito Santo, que é o Espírito redimido pela purificação realizada na vida em seus encaminhamentos ao testemunho. Portanto este batismo é processo antes mesmo de resultado, é através do processo que chegamos lá. Comparamos assim, este batismo do Espírito Santo com o sangue deste texto revelador.

Como dissemos, se muitos vêm o sangue como pavor, sangue também é vida. O próprio Jesus simbolizou a Nova Aliança com o sangue, o Seu sangue que seria derramado em favor de muitos. Trata-se do plano aplicativo do Evangelho, é o operacional do dia a dia, o exemplo vivo de Jesus circulando em nós através de nossas atitudes renovadas.

Portanto, nesta primeira trombeta o que temos é um batismo do Espírito promovendo nele novos lances em favor de sua evolução.

Não esqueçamos, mesmo aqueles que estão provisoriamente no mal, todos são filhos de Deus, estes acontecimentos escatológicos jamais vêm para perda destes ou de quem quer que seja, mas para cumprir um papel transformador de suas almas objetivando a salvação plena. Pois se um pai humano que tem um amor imperfeito sempre perdoa seu filho amado, e quer estar junto dele para sempre, o que não podemos dizer de Deus, que é Pleno em todas as Perfeições, em relação aos Seus filhos, mesmo os ainda pecadores?

uma terça parte da terra se queimou, um terço das árvores se queimou e toda vegetação verde se queimou. Quando estudamos a gênese mosaica a partir do primeiro livro do Antigo Testamento vamos ver que a primeira produção da terra foi a vegetação verde, "ervas que deem semente"3.

Assim, nos colocando no centro da revelação, e como objetivo maior de nossos estudos buscando o aperfeiçoamento do Ser perfectível que somos, vamos ver que esta terra somos nós mesmos e que esta vegetação verde são nossas criações mentais, que como sementes produzirão árvores, frutos, novas sementes, e assim por diante.

Esta queima de terça parte da terra e das árvores, representam a queima de nossas construções no terreno das ilusões e da transitoriedade. São aqueles componentes de natureza inferior que criamos baseados na mentalidade antiga que é aquela que nos faz o centro do Universo. Estas criações devem ser destruídas por esta chuva de granizo misturada com fogo e sangue para que o novo possa ser estabelecido em nós e a partir daí gerenciarmos melhor nossa evolução.

Notemos que só uma terça parte será destruída, não tudo, por quê? Porque não podemos destruir o nosso ser por inteiro, isso seria voltar a estados anteriores e inferiores de nossa evolução o que não é possível já que o Espírito não retrograda. Não há como mexer no nosso subconsciente, deste faz parte aquilo que já vivenciamos; é o passado, criações já realizadas. Deste modo só podemos interferir no presente que são nossas construções atuais, é no plano das realizações do hoje que temos que realizar a queima, daí nossas provas e expiações, nossos desafios no campo do testemunho.

Mas pode-se perguntar, o texto diz que toda vegetação verde se queimou; é que esta vegetação simbolizando nossas primeiras criações, representam nosso plano mental, nossa forma de agir, nossos interesses e anseios, trata-se de nossa participação dinâmica na criação, e isto tudo tem que ser transformado na base. A Nova Criatura tem que realizar completamente diferente da antiga, seus interesses e anseios devem ser outros, nossas criações na negatividade devem ser mesmo purificadas, queimadas. Só assim, preservando as lições anteriores, mantendo o foco e os objetivos superiores que são determinísticos em Deus, mas mudando nossa vida hoje, criaremos a nova mentalidade que é a base do Ser renovado que devemos ser segundo a Vontade de Deus através do plano aplicativo do Cristo.

1 Mateus, 3: 11

2 Eclesiástico, 2: 5

3 Gênesis, 1: 11 e 12


   Extraído do  Livro "Segredos do Apocalipse" disponível em :