segunda-feira, março 05, 2012

Evangelho Miudinho: Ainda sobre o Sermão Profético de Jesus


E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas.
Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; e todas as tribos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória.
E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus. (Mateus, 24: 29 a 31)

E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas.
E, logo depois… - Esta expressão define para nós que em se tratando de acontecimentos dentro do andamento natural da Lei, tudo tem a sua a hora, existe uma seqüência a ser cumprida sem ferir a ordem geral que tudo rege.
da aflição daqueles dias… - Daqueles dias exprime, como temos dito, estes momentos de transição necessários a passarmos de uma fase a outra. São dias difíceis tanto no particular quanto no geral. Se existem obstáculos a serem vencidos pela individualidade, o mesmo podemos dizer da coletividade; originando, deste modo, guerras, calamidades e doenças generalizadas que tanto nos incomodam.
Entretanto, se tais situações são geradoras da aflição predita por Jesus, muito maior é a que sentimos no campo íntimo, por já possuirmos o discernimento espiritual sem todavia, alterarmos nossa conduta para melhor como se faz necessário; é o que poderíamos chamar de angústia gerada pelo “complexo de Moisés”, que é aquele sentimento de ver a “Terra Prometida”, sem no entanto poder adentrá-la. Ou seja, nós muitas vezes sabemos o que fazer, sem entretanto realizarmos deste modo; temos o sentimento do Reino, sem, todavia, lá nos situarmos como posição conquistada. Esta dualidade em que nos situamos, nos causa profundo desconforto, sendo deste modo, a causa desta angustia das nações de que nos fala Lucas, porque qual a origem do todo, senão o que vai na intimidade das partes?
o sol escurecerá… - O sol, como elemento mantenedor de nosso sistema planetário, podemos entendê-lo como a própria Luz Divina. Então, como compreender que ele escurecerá, se a Luz vinda de Deus não se apaga nunca?
É que devemos entender a vinda do Filho do homem como o momento da ressurreição1 da própria criatura, e não podemos esquecer que a esta antecede a crucificação. O escurecimento do sol, é justamente este instante de martírio íntimo, em que nem mesmo o auxílio espiritual parece nos socorrer, é aquele momento em que procuramos ajuda num amigo, e ele não se encontra, procuramos por uma página consoladora e mensagem que cai é outra completamente diferente do que estamos querendo; nos alertando assim, para a necessidade de vencermos aquele momento com recursos próprios. O amparo do Alto existe, mas é como se houvesse um hiato, para que possa ser avaliado as nossas possibilidades. Foi para nos ensinar que este momento seria necessário, que Ele o Maior entre todos os educadores, disse:
Eli, Eli, lemá sabactâni, isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?2
e a lua não dará a sua luz… - A lua não tem luz própria, a luminosidade que ela manifesta é originária do sol, assim, podemos simbolizá-la, como aqueles valores que possuímos ainda não devidamente acolhidos em nossa intimidade como conquista definitiva; deste modo, para que eles se manifestem é necessário um contato maior com o grupo que nos apoia ou com a nossa Consciência Profunda; quando falta a luminosidade do sol íntimo, a nossa lua, também não dará a sua luz. É o momento da fé vacilante, é como se faltasse aquele piso que nos dá a devida segurança.
e as estrelas cairão do céu… - As estrelas são justamente aqueles recursos que falamos anteriormente, com os quais temos de contar nestes instantes aflitivos, é a luz própria, ou dizendo de outro modo, as virtudes conquistadas. Num primeiro momento podemos pensar que elas também falharão, pois fala-nos o Senhor que elas cairão do céu. Mas é questão de interpretação, elas cairão do céu, quer dizer que naquele momento, elas não vão iluminar a coletividade, vão atender é às nossas necessidades mais íntimas; estrelas serão sempre estrelas, não há perda ou retrocesso na Economia da Vida. A queda das estrelas do céu, quer justamente dizer que elas vão sair do plano simplesmente contemplativo, para o operacional, será a dinamização dos recursos que já possuímos, no sentido de construirmos a própria segurança.
e as potências dos céus serão abaladas. – Se tudo isto se dará no campo íntimo, haverá logicamente, e como dissemos em outra parte, um reflexo no coletivo. As potências dos céus são justamente aqueles Espíritos encarnados ou desencarnados já afinados com os valores espirituais, e que trabalham na Seara do Cristo para a implantação do Evangelho no coração das criaturas; ou ainda, representam a própria Mensagem do Eterno que sempre esteve presente no seio de todos os povos. Quando Jesus diz que elas serão abaladas, não fala de um abalo em si mesma, pois o que é de Deus, não sofre oscilações; fala-nos de um abalo de fora para dentro, o que é natural, de uma descrença que pode acontecer, de uma supremacia dos valores do mundo sobre os valores do Cristo. É o que deixa-nos nas entrelinhas a mensagem da morte de Jesus; por dois dias a terra, representando o poder transitório ficou em cima do Cristo – são os dois milênios de domínio das trevas -; para no terceiro dia – terceiro milênio – haver a Ressurreição, e as Potências do Céus, que representam a Verdade de Deus, ficarem acima da terra, ou, reinarem na Terra como um planeta Governado e Dirigido pelo Cristo de Deus.
Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória.
Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do homem… - Após estes momentos de dores e de angústias, onde todos serão testados, tanto individual como coletivamente, informa-nos o Senhor que, então, isto é, como conseqüência do amadurecimento gerado por estes acontecimentos, aparecerá no céu o sinal do Filho do homem. Esta é uma manifestação da misericórdia divina, e do andamento natural da Lei; quando finda o tempo necessário ao aprendizado, inicia uma nova fase, baseada nos valores conquistados.
O sinal do Filho do homem aparecerá no céu, ou seja, através de nossa vinculação com um estado de espírito superior. O Cristo existiu desde sempre em nós, e também em todas as manifestações do nosso orbe…
Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.3
Entretanto, devido à nossa sintonia inferior não O percebemos…
estava no mundo, e o mundo foi feito por ele e o mundo não o conheceu.4
Ele aparecerá no céu. Este é um prenúncio de que está a terminar nossos ciclos de resgate, pois conforme nos diz Jesus segundo as anotações de Lucas, está próxima a nossa redenção.5 Ou segundo os dizeres do converso de Damasco:
Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus…
na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.6
e todas as tribos da terra se lamentarão… - As nações e os povos antigos eram subdivididos em tribos. O uso desta expressão aqui significa que todos se lamentarão; a mais intima das células da sociedade se lastimará diante do grande acontecimento que será o reencontro com o Filho do homem. Este lamento se dá, porque por mais que realizemos em favor do progresso espiritual, a Misericórdia do Criador é ainda maior, e veremos neste encontro conosco mesmo, que poderíamos ter feito mais. Tal situação é muito comum de se dar no regresso do Espírito ao plano espiritual após uma oportunidade reencarnatória. No momento em que ele se vê diante de si, e de suas realizações, o primeiro sentimento que tem, é o de que perdeu oportunidades; sendo que alguns ainda afirmam que nem mesmo o maior dos fracassos no plano da matéria é mais doloroso do que a vergonha que se sente por ter, em vários momentos, se estacionado, ou simplesmente deixar de ter feito o Bem.
Se isto se dá no final de uma simples etapa encarnatória diante da grandeza da Vida Espiritual, o que não se dará no final de um ciclo maior, em que o Espírito muitas vezes se vê diante da oportunidade de uma promoção a um Mundo mais elevado em matéria de espiritualidade?
e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu… - A nuvem é o cenário normal da manifestação dos Espíritos representantes de Deus ou do Filho do homem, conforme vemos em Daniel, no Apocalipse, e em outros livros tanto do Velho como do Novo Testamento:
Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele.7
Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim! Amém!8
Disse, pois, o Senhor a Moisés: Dize a Arão, teu irmão, que não entre no santuário em todo o tempo, para dentro do véu, diante do propiciatório que está sobre a arca, para que não morra; porque eu apareço na nuvem sobre o propiciatório.9
Esse vir sobre as nuvens, quer justamente dizer-nos do caráter espiritual que terá esta manifestação, virá do Alto, em uma, e de uma vibração elevada, superior a tudo o que conhecemos neste mundo transitório. Este momento de Unificação Plena com o Criador é Único, Deus é espírito, e só espiritualmente podemos compreendê-Lo.
com poder e grande glória. – Ter poder é ter possibilidade, autorização, força, para realizar algo. Nada dá mais poder do que a Autoridade conquistada pela vivência do que se conhece, a glória é justamente esta conquista.
A Lei Divina é o regulamento que tudo dirige, tanto no micro quanto no macrocosmo; tanto no mundo físico, quanto no espiritual. Estar em acordo com esta Regulamentação, é estar Uno com o Pai, é ter em si o Verdadeiro Poder, o único que realmente dá segurança e força para qualquer realização.
Quando deste modo, realizamos em nós a edificação estruturada na Verdade Universal, adquirimos este Poder, e a Glória será tão grande que nada será capaz de impedir a nossa total e definitiva vitória sobre o mundo e todas as suas imperfeições.
Não é outro o sentido das Palavras Daquele que assim tendo feito, pôde declarar-Se com a Suprema Autoridade, ser o Pão da Vida:
E, naquele dia, nada me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar.10
E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus.
E ele enviará os seus anjos… - A vinda do Filho do homem permitirá o aparecimento de seus anjos. No plano exterior, estes anjos representam aqueles Espíritos que estão junto com Jesus trabalhando para a implantação do Evangelho como norma a ser vivida. Hoje eles estão por aí se manifestando seja de uma forma ostensiva ou apenas intuitiva nos templos ligados a todas as religiões.
No plano íntimo podemos entender estes anjos como aqueles valores que já conquistamos ajustados à moral cósmica. São eles que nos permitirão realizar o encontro com o Cristo interno, e é este encontro que possibilitará que eles possam se manifestar de uma forma mais visível.
com rijo clamor de trombeta… - Como se dará o aparecimento destes anjos? Informa-nos o texto evangélico que, com rijo clamor de trombeta.
Rijo é robusto, vigoroso, forte. Clamor é ação ou efeito de clamar, um grito de queixa. O Clamor normalmente sai de dentro, com força, alto, dando a entender que esta manifestação não será apagada, mas visível a todos. A trombeta por sua vez é um instrumento de sopro, uma espécie de corneta, seu som é alto e estridente, o que vem confirmar o que dissemos anteriormente, de ser esta manifestação algo que se destaca.
Ora, tanto a manifestação dos Espíritos tem sido hoje, algo que não se consegue esconder, como as virtudes já conquistadas por um homem, também são mostradas a todos; mesmo sendo humildes aqueles que as possuem, não há quem não veja aquele que age com o verdadeiro amor em seu coração.
Várias são, como vemos, a forma do Criador despertar as criaturas para as necessidades preeminentes; o toque da trombeta referencia justamente este insight que se dá no momento oportuno, seja no silêncio de Deus, ou no grito de um necessitado.
os quais ajuntarão os seus escolhidos… - Este ajuntamento se dá justamente por causa da Lei de afinidade. Se hoje, no plano físico em que nos movimentamos, a Lei que rege é a da necessidade através do reajuste que se faz imprescindível, quando esta fase terminar, viveremos de acordo com o plano eleito em nossos corações e com aqueles que se afinizarem com o mesmo. Será aquele momento de separação do joio do trigo.
Sobre os escolhidos, dissemos anteriormente que se trata daqueles que já elegeram a Moral como norma de conduta de forma consciente. Assim, eles serão automaticamente unidos pelo seu ideal superior. Isto já ocorre no plano espiritual, onde vivemos de acordo com o que cultivamos, e com aqueles que comungam a mesma faixa de interesses.
desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus. – A expressão quatro ventos se refere à totalidade do plano físico; e, de uma à outra extremidade dos céus à completude do plano espiritual. Pois o número quatro representa justamente o todo em se tratando do mundo em que vivemos. São os quatros pontos cardeais a delimitar o que vemos, as quatro estações definindo o tempo de um ano completo. Assim falando o Senhor, mostra-nos a amplitude da manifestação do Filho do homem, que é o Deus em nós, e que no momento oportuno será revelado a todos.

(Extraído do livro O Sermão Profético)
 
1 Adotamos aqui a idéia de ressurreição como ressurgir para a Vida, e não como ressurreição de corpos, que segundo algumas crenças se dará no dia do juízo final.
2 Mateus, 27: 46
3 João, 1: 3
4 João, 1: 10
5 Conforme Lucas, 21: 28
6 Romanos, 8: 19 e 21
7 Daniel, 7: 13
8 Apocalipse, 1: 7
9 Levítico, 16: 2
10 João, 16: 23

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