sexta-feira, outubro 02, 2009

Introdução à Doutrina Espírita

Ao falarmos sobre História do Espiritismo, devemos diferenciar os fatos espíritas do Espiritismo propriamente dito. Os fenômenos espíritas aconteceram em todas as épocas da Humanidade. No livro do Velho Testamento, encontramos inumeráveis casos de prática mediúnica, obsessão, curas, que se naquele instante foram tidos como sobrenaturais, hoje, à luz da doutrina consoladora, são explicados com muita tranqüilidade. Por isso, quando falamos em história do Espiritismo, queremos falar daquele instante em que Arthur Conan Doyle nos afirma ter havido uma “invasão” das entidades desencarnadas.

O fato mais marcante deste período é sem dúvida o episódio de Hydes-ville, mas antes gostaríamos de citar dois médiuns maravilhosos que foram Emanuel Swedenborg e Andrew Jackson Davis, que tiveram importante atua-ção como precursores do Espiritismo.

O primeiro foi um sábio sueco que viveu no século XVIII, e que em suas incursões pela espiritualidade, nos antecipa o mundo que mais tarde Allan Kardec iria metodicamente estudar. O segundo, Jackson Davis, foi um excep-cional médium americano contemporâneo das irmãs Fox. Dono de uma grande força profética, tem em seu currículo as profecias detalhadas que fez antes de 1856 do automóvel e da máquina de escrever.

O próprio aparecimento do Espiritismo foi por ele previsto nos seus “Princípios da Natureza”, publicados em 1847, onde ele diz:

“É verdade que os Espíritos se comunicam entre si, quando um está no corpo e outro em esferas mais altas, e, também, quando uma pessoa em seu corpo é inconsciente do influxo e, assim, não se pode convencer do fato. Não levará muito tempo para que essa verdade se apresente como viva demonstração. E o mundo saudará com alegria o surgimento dessa era, ao mesmo tempo que o íntimo dos homens será aberto e estabelecida a comunicação espírita, tal qual a desfrutam os habitantes de Marte, Júpiter e Saturno”.

HYDESVILLE

O episódio de Hydesville, vilarejo situado próximo à cidade de Roches-ter, no condado de Wayne, nos Estados Unidos, passou à história como um marco do Espiritismo.

Numa tosca cabana residia uma família protestante composta por John Fox, sua mulher Margareth e as filhas menores Margareth e Catherine (Kate).

Nessa modesta residência, se verificaram fatos estranhos que alarmaram seus moradores e toda a vizinhança: ruídos, pancadas, batidas, punham todos em desassossego. Ninguém descobria sua origem.

As filhas do casal Fox, Margareth e Kate, no dia 31 de Março de 1848 quando as pancadas (em inglês chamadas raps) se tornaram mais persistentes e fortes, resolveram desafiar o mistério travando um diálogo com o que todos julgavam fosse o diabo.

O batedor invisível contou sua história: Chamava-se Charles Rosma, fora um vendedor ambulante hospedado naquela casa pelo casal Bell (antigos mo-radores), que ali o assassinaram para roubar-lhe a mercadoria e o dinheiro que trazia . Seu corpo fora sepultado no porão.

Graças ao depoimento de Lucrécia Pelves, criada dos Bell, Fox e outros desceram à adega, onde cavaram, encontrando tábuas, alcatrão, cal e cabelos humanos, bem como utensílios do mascate. Seu corpo, todavia, só apareceu em 1904 (56 anos depois), quando uma parede da casa ruiu, deixando descoberto o esqueleto do morto.

Assim, os fatos vieram confirmar a estranha denúncia de um morto, que saía das trevas para relatar a ação criminosa de que fora vítima, havia anos.

Entretanto é preciso considerar o episódio em suas verdadeiras finalida-des: “É para unir a humanidade e convencer as mentes céticas da imortalidade da alma”, disseram os espíritos; era de fato o início de um movimento de caráter quase universal tendente a despertar a humanidade para a vida espiritual, que seria revelada, pouco depois, pela codificação Espírita, tarefa gigantesca a ser realizada pelo grande missionário Allan Kardec.

Como queriam os espíritos, o acontecimento repercutiria na Europa, despertando as consciências e, ao lado dos fenômenos das “Mesas Girantes”, prepararia o advento do Espiritismo.

AS MESAS GIRANTES

Paralelamente ao episódio das irmãs Fox, a Europa e também os Estados Unidos puderam observar outros fenômenos de causa até então desconhecida. Eram pancadas, ruídos e movimentos de objetos, a partir da influência de certas pessoas, designadas Médiuns, que podiam de alguma sorte provocá-los à vontade, o que permitiu repetir-se as experiências. Serviu-se, para isso, sobretudo, de mesas; não que fosse esse o único objeto possível a dar condições a tais fenômenos, mas por seu caráter de comodidade e de facilidade para se assentar à sua volta. Obteve-se, dessa maneira, a rotação da mesa, em seguida de movimentos em todos os sentidos, erguimentos, pancadas com violência, etc.

Até então, os fatos eram explicados somente por uma suposta ação mag-nética ou de uma corrente elétrica, mas não tardou a se reconhecer nesses fe-nômenos, efeitos inteligentes, porque o movimento obedecia a uma vontade; a mesa se dirigia à direita ou à esquerda, sobre um ou dois pés, batendo o núme-ro de pancadas convencionadas para a obtenção de respostas , etc. Desde então ficou evidente que a causa não era puramente física, e segundo o axioma: “todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente”, concluiu-se que a causa desse fenômeno deveria ser uma inteligência.

A princípio pensou-se que a natureza desta inteligência seria um reflexo da própria inteligência do médium ou dos assistentes, mas estudos posteriores revelaram a impossibilidade destas afirmativas. Foi demonstrado pelos pró-prios Espíritos que ninguém mais eram, que homens que já não viviam sob a roupagem física deste planeta; que a matéria poderia ser influenciada por eles, usando fluidos fornecidos pelos médiuns, gerando assim as manifestações físi-cas e inteligentes.

As comunicações por pancadas eram lentas e incompletas; reconheceu-se que adaptando-se um lápis a uma cesta ou a uma prancheta ou a outro objeto qualquer sob o qual colocavam-se os dedos, esse objeto se punha em movimento e traçava caracteres. Mais tarde, certificou-se que esses objetos não eram senão acessórios os quais podia-se dispensar. A experiência demonstrou que o espírito agindo sobre um corpo inerte para dirigi-lo à vontade, poderia agir do mesmo modo sobre o braço ou a mão, a fim de conduzir o lápis.

Desde este momento, as comunicações não tiveram mais limites e a troca de idéias pôde ser feita com tanta rapidez e desenvolvimento quanto entre os vivos. Era um vasto campo aberto à exploração, à descoberta de um mundo novo: O mundo dos Espíritos.

sábado, setembro 26, 2009

Allan Kardec


A Missão

Emmanuel, Espírito que teria participado da equipe de Espíritos orientadores durante o período de atividades de Allan Kardec no plano físico, nos afirma nos capítulos XXII e XXIII do livro “A Caminho da Luz”, o seguinte:

“(...)nascia Allan Kardec (...), com a sagrada missão de abrir caminho ao Espiritismo, a grande voz do Consolador prometido ao mundo pela misericórdia de Jesus Cristo.”[1]
“Consolador da Humanidade, segundo as promessas do Cristo, o Espiritismo vinha esclarecer os homens, preparando-lhes o coração para o perfeito aproveitamento de tantas riquezas do Céu.”
[2]

E no livro “O Consolador”, completa:

“O Espiritismo não pode guardar a pretensão de exterminar a outras crenças, parcelas da verdade que a sua doutrina representa, mas, sim, trabalhar por transformá-las, elevando-lhes as concepções antigas para o clarão da verdade imortalista. A missão do Consolador tem que verificar junto das almas e não ao lado das gloríolas efêmeras dos triunfos materiais.(...)”[3]

Voltando ao livro “A Caminho da Luz”, temos:

“A tarefa de Allan Kardec era difícil e complexa. Competia-lhe reorganizar o edifício desmoronado da crença, reconduzindo a civilização às suas profundas bases religiosas.”[4]
E no capítulo XXIV continua:
“Somente o Espiritismo, prescindindo de todas as garantias terrenas, executa o esforço tremendo de manter acesa a luz da crença, nesse barco frágil do homem ignorante do seu verdadeiro destino(...)”.


Dados Biográficos[5]

Hippolyte Léon Denizard Rivail nasceu em Lyon, na França, a 3 de outubro de 1804, de uma família antiga que se distinguiu na magistratura e na advocacia. Apesar disso não seguiu essas carreiras, desde a primeira juventude, sentiu-se inclinado ao estudo das ciências e da filosofia.
Educado na Escola de Pestalozzi, em Yverdun (Suíça), tornou-se um dos mais eminentes discípulos desse célebre professor e um dos zelosos propagandistas do seu sistema de educação, que tão grande influência exerceu sobre a reforma do ensino na França e na Alemanha.
Dotado de notável inteligência e atraído para o ensino pelo seu caráter e pelas suas aptidões especiais, já aos catorze anos ensinava o que sabia àqueles seus condiscípulos que haviam aprendido menos do que ele. Foi nessa escola que lhe desabrocharam as idéias que mais tarde o colocariam na classe dos homens progressistas e dos livres pensadores.
Nascido sob a religião católica, mas educado num país protestante, os atos de intolerância que por isso teve de suportar, no tocante a essa circunstância, cedo o levaram a conceber a idéia de uma reforma religiosa, na qual trabalhou em silêncio com o intuito de alcançar a unificação das crenças. Faltava-lhe, porém, o elemento indispensável à solução desse grande problema.
O Espiritismo veio, a seu tempo, imprimir-lhe especial direção aos trabalhos.
Concluídos seus estudos, voltou para a França. Conhecendo a fundo a língua alemã, traduzia para a Alemanha diferentes obras de educação e de moral e as obras de Fénelon, que o tinham seduzido de modo particular.
Era membro de várias sociedades sábias, entre outras, da Academia Real de Arras, que no concurso de 1831 lhe premiou uma notável memória sobre a seguinte questão: Qual o sistema de estudos mais de harmonia com as necessidades da época ?
De 1835 a 1840, fundou em sua casa, cursos gratuitos de Química, Física, Anatomia Comparada, Astronomia, etc..
Preocupado sempre com o tornar atraentes e interessantes os sistemas de educação, inventou, ao mesmo tempo, um método engenhoso de ensinar a contar e um quadro mnemônico da História da França, tendo por objetivo fixar na memória as datas dos acontecimentos de maior relevo e as descobertas que iluminaram cada reinado. Entre suas numerosas obras de educação, se destacam as seguintes: Plano proposto para melhoramento da instrução pública (1828); Curso Prático e teórico de Aritmética (1824); Gramática Francesa Clássica (1831); entre outras.
Pelo ano de 1855, posta em foco a questão das manifestações dos Espíritos, o professor Rivail entregou-se a observações perseverantes sobre esse fenômeno, cogitando principalmente de lhe deduzir as conseqüências filosóficas. Entreviu, desde logo, o princípio de novas leis naturais: as que regem as relações entre o mundo visível e o mundo invisível. Reconheceu, na ação deste último, uma das forças da natureza, cujo conhecimento haveria de lançar luz sobre uma imensidade de problemas tidos por insolúveis, e lhe compreendeu o alcance, do ponto de vista religioso.
Em 1857, quando da publicação da primeira edição de “O Livro dos Espíritos” foi que surgiu pela primeira vez o nome Allan Kardec. Vendo a necessidade de diferenciar suas obras exclusivamente didáticas das espíritas, o até então professor Rivail teve a idéia de usar um pseudônimo. Foi aí que seu guia espiritual lhe sugeriu o nome Allan Kardec, lhe dizendo ter sido um companheiro seu nos tempos dos druídas, quando ele tinha este nome.
Fundou em Paris, a 1o de abril de 1858, a primeira Sociedade Espírita regularmente constituída, sob a denominação de “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas”, cujo fim exclusivo era o estudo de quanto possa contribuir para o progresso da nova ciência. Allan Kardec se defendeu, com inteiro fundamento, de coisa alguma haver escrito debaixo da influência de idéias preconcebidas ou sistemáticas. Homem de caráter frio e calmo observou os fatos e, de suas observações, deduziu as leis que os regem. Foi o primeiro a apresentar a teoria relativa a tais fatos e a formar com eles um corpo de doutrina, metódico e regular.
Data do aparecimento de “O Livro dos Espíritos” a fundação do Espiritismo que, até então, só contara com elementos esparsos, sem coordenação, e cujo alcance nem toda gente pudera apreender.
Trabalhador infatigável, sempre o primeiro a tomar da obra e o último a deixá-la, Allan Kardec sucumbiu, a 31 de março de 1869, quando se preparava para uma mudança de local, imposta pela extensão considerável de suas múltiplas ocupações.
Desencarnou conforme viveu: trabalhando. Sofria, desde longos anos, de uma enfermidade do coração, que só podia ser combatida por meio do repouso intelectual e pequena atividade material. Consagrado, porém, todo inteiro à sua obra, recusava-se a tudo o que pudesse absorver um só que fosse de seus instantes, à custa das suas ocupações prediletas. Deu-se com ele o que se dá com todas as almas de forte têmpera: a lâmina gastou a bainha.
Um homem houve de menos na terra; mas, um grande nome tomava lugar entre os que ilustraram este século; um grande Espírito fora retemperar-se no infinito, onde todos os que ele consolara e esclarecera lhe aguardavam impacientes a volta!

Obras Básicas

A codificação do Espiritismo, em seus aspectos inseparáveis e inalienáveis de Filosofia, Ciência e Religião, compreende as seguintes obras, o chamado “Pentateuco Espírita”:

  • O Livro dos Espíritos
  • O Livro dos Médiuns
  • O Evangelho Segundo o Espiritismo
  • O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo
  • A Gênese (Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo)
A ordem de publicação das obras da Codificação não foi arbitrária, tendo obedecido à orientação da equipe de Espíritos Superiores que assistiam Kardec.

O Livro dos Espíritos

O Livro dos Espíritos, a primeira obra que levou o Espiritismo a ser considerado de um ponto de vista filosófico, pela dedução das conseqüências morais dos fatos; considerou todas as partes da doutrina, tocando nas questões mais importantes que ela suscita, foi, desde os seu aparecimento, o ponto para onde convergiram espontaneamente os trabalhos individuais.
Contém a doutrina completa, como ditaram os próprios Espíritos, com toda a sua filosofia e todas as suas conseqüências morais. É a revelação do destino do homem, a iniciação no conhecimento da natureza dos Espíritos e nos mistérios da vida de além túmulo. Quem o lê compreende que o Espiritismo objetiva a um fim sério, que não constitui frívolo passatempo.
Os princípios básicos da doutrina espírita são ali expostos de forma lógica, por meio de diálogo com os Espíritos, às vezes comentados por Kardec, e, embora constitua, pelas importantes matérias que versa, o mais completo tratado de Filosofia que se conhece, sua linguagem é simples e direta, não se prendendo a preciosismos de sistemas dificilmente elaborados.
Os assuntos tratados na obra, com a simplicidade e a segurança das verdades evangélicas, distribuem-se homogeneamente, constituindo, por assim dizer, um panorama geral da Doutrina, desenvolvida, nas suas facetas específicas, nos demais volumes da codificação, que resulta, assim, como um todo granítico e conseqüente demonstrativo de sua unidade de princípios e conceitos, características de sua grandeza.
A sua primeira edição era em formato grande, in-8o, com 176 páginas de texto, e apresentava o assunto distribuído em duas colunas. Quinhentas e uma perguntas e respectivas respostas estavam contidas nas três partes em que então se dividia a obra: “Doutrina Espírita”, “Leis Morais”, “Esperanças e Consolações”.
A partir da 2a edição, “O Livro dos Espíritos” saiu modificado, já igual ao que temos hoje. São 1019 perguntas e respostas divididas em 4 partes:


  • “Das causas primárias”,
  • “Do mundo espírita ou mundo dos espíritos”
  • “Das leis morais”
  • “Das esperanças e consolações”.

Partes estas que são desenvolvidas nas suas outras quatro obras:


  • Das Causas Primárias - A Gênese
  • Do Mundo Espírita ou Mundo dos Espíritos - O Livro dos Médiuns
  • Das Leis Morais - O Evangelho Segundo o Espiritismo
  • Das Esperanças e Consolações - O Céu e o Inferno

O Livro dos Médiuns

O Livro dos Médiuns, destina-se a guiar os que queiram entregar-se à prática das manifestações, dando-lhes conhecimento dos meios próprios para se comunicarem com os espíritos. É um guia, para os médiuns; e o complemento do Livro dos Espíritos.
Sua primeira edição deu-se em janeiro de 1861, que englobava, outrossim, as “Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas”, publicadas em 1858. A edição definitiva é a 2a, de outubro de 1861.
Lê-se no frontispício da obra que ela “contém o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo.”
Nesse livro expõe-se, conseqüentemente, a parte prática da Doutrina, mediante o estudo sistemático e perseverante, como queria Kardec, de sua rica e variada fenomenologia, com base na pesquisa, por método científico próprio, o que não exclui a experimentação e a observação, enfim, todos os cuidados para se evitar a fraude e chegar-se à evidência dos fatos.
Hoje, quase cento e cinqüenta anos depois de publicado, “O Livro dos Médiuns” é ainda o roteiro seguro para médiuns e dirigentes de sessões práticas. Os doutrinadores encontram em suas páginas abundantes ensinamentos, preciosos e seguros, que a todos habilitam à nobre tarefa de comunicação com os Espíritos, sem os perigos da improvisação, das crendices e do empirismo rotineiro, fruto do comodismo e da fuga ao estudo.

O Evangelho Segundo o Espiritismo

Passada a fase de “revolução espiritual” com a publicação de “O Livro dos Espíritos” - contendo a filosofia e os princípios da doutrina - , e de “O Livro dos Médiuns” contendo a parte científica, era chegada a hora de lançar “O Evangelho Segundo o Espiritismo” - terceira obra da Codificação, - trazendo a explicação das máximas morais do Cristo à luz do Espiritismo.
Kardec não pretendeu com esta obra substituir o Evangelho de Jesus, como muitos possam pensar, mas dar-lhe uma explicação em concordância com a Nova Revelação.
São os próprios Espíritos quem nos afirmam no livro “Obras Póstumas”:

“Com esta obra, o edifício começa a libertar-se dos andaimes e já se lhe pode ver a cúpula a desenhar-se no horizonte”.[6]

Esta obra provocou a reação daqueles acostumados a ensinar a moral cristã à força de dogmas e explicações enigmáticas, ridículas e fantasiosas, e o que é pior, adulterando seus ensinamentos tendo como base interesses próprios, mesquinhos e criminosos.
Data de 1864 a primeira edição do Evangelho sob o título de “Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo”, sendo que a partir da 2a edição passou a ter o título que hoje conhecemos, e só depois da 3a edição (1865) com o texto novamente modificado por orientação dos Espíritos, teve seu conteúdo definitivo.

O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo

A quarta obra da Codificação foi lançada em agosto de 1865.
Já na “Revista Espírita” do mês seguinte afirma o Codificador sobre sua mais nova publicação:

“O título desta obra indica claramente o seu objetivo. Aí reunimos todos os elementos próprios para esclarecer o homem sobre o seu destino. Como nos nossos outros escritos sobre a Doutrina Espírita, aí nada introduzimos que seja produto de um sistema preconcebido, ou de uma concepção pessoal, que não teria nenhuma autoridade: tudo aí é deduzido da observação e da concordância dos fatos.”

Combatendo a idéia, que leva a tristes conseqüências, de que a morte põe fim a tudo, mostrando que o temor da morte, por outro lado, decorre menos do instinto de conservação do que mesmo do conhecimento e do juízo errôneos do que seja a vida espiritual, a que homens são levados por crenças espiritualistas mal informadas e provando o absurdo da doutrina das penas eternas, tendo em vista a bondade e a justiça de Deus, esta obra caracteriza o céu e o inferno, não como lugares de gozos perenes e improdutivos ou de sofrimentos atrozes, que nunca terminam, mas, racionalmente, como estados de consciência que o próprio Espírito cria e nos quais vive.

A Gênese (Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo)

Em janeiro de 1868, Allan Kardec publicava “A Gênese”, fechando, assim, o ciclo das obras da Codificação.
Notamos que as Revelações Divinas têm uma seqüência lógica. A primeira, a de Moisés, tem como obra inicial o livro “Gênesis”, a terceira, a dos Espíritos, têm como livro final “A Gênese”. Como vemos a revelação divina começa com “Gênesis” e termina com “A Gênese”, nos deixando deduzir de tal fato não só que há interligação entre elas, mas também, que toda a verdade está contida dentro destes valores e que cabe a nós analisá-la com muito carinho para o bem de nossa própria história evolutiva.
Sobre a Gênese escreveu Pedro Franco Barbosa em seu livro “Espiritismo Básico”:

“(...) Encerra, atendidos os métodos de trabalho adotados desde a obra inicial, de observância dos fatos, de sua universalidade e concordância, a série de livros da codificação e apresenta, na Introdução, as razões que fizeram da Doutrina uma obra monolítica, pelas conexões e coerência de seus preceitos, ou seja generalidade e concordância no ensino dos Espíritos, até hoje não refutado pelos homens, nem desmentido pelos acontecimentos.”

Nos próximos capítulos, Kardec nos mostra as características da Revelação Espírita, seu aspecto divino, originada que foi dos Espíritos Superiores; examinando, em seguida, Deus, e a difícil compreensão de Sua existência por parte dos homens; o papel da Ciência e os problemas da cosmogênese; o espaço; o tempo; os períodos geológicos de formação da terra; a gênese orgânica, a gênese espiritual, inclusive a encarnação e reencarnação dos Espíritos, a gênese mosaica e sua compreensão à luz da Ciência.
A apreciação dos milagres, considerando estes como fatos naturais explicados por leis ainda desconhecidas ou pouco estudadas, é também tema abordado nesta obra, e ainda , os milagres do Evangelho, a natureza de Jesus e os fatos de sua vida na Terra. Sobre as predições e a teoria da presciência, o Codificador faz lúcidas considerações, e na parte final faz uma advertência, suavizada por palavras de esperança, otimismo e fé, alertando a todos para os graves acontecimentos de nossa época de transição e da necessidade de nos enquadrarmos nos ensinos do Cristo como forma de realizarmos o nosso progresso e o progresso de todo o orbe.
Como vemos, a Codificação é uma verdadeira enciclopédia de ensinamentos a respeito da “Lei Maior da Vida” que rege nossos destinos, tendo sido realizada consoante com programação bem elaborada dos maiores da Espiritualidade do qual ALLAN KARDEC, fazendo parte, foi seu executor neste plano da vida.

[1] A Caminho da Luz, Cap. XXII
[2] Idem Cap. XXIII
[3] O Consolador, Q 353
[4] A Caminho da Luz, Cap. XXIII
[5] Este texto biográfico que segue foi parcialmente extraído do livro Obras Póstumas
[6] Obras Póstumas, pg. 309

segunda-feira, junho 01, 2009

Introdução ao Estudo do Evangelho

Nosso problema não é se o lemos, ou analisamos, e nem mesmo se “cremos” nele, intelectualmente falando. Nosso problema é se praticamos ou não seus preceitos. (Russell N. Champlin)


No que diz respeito ao estudo do Evangelho faz-se preciso responder três perguntas:
  • Por que estudar o Evangelho?
  • Para quê?
  • Como?


Na resposta da primeira temos que lembrar o que os Espíritos disseram a Kardec quando de uma pergunta feita por este e que é de fundamental importância para o Espírita. Trata-se da questão 132 de O Livro dos Espíritos:

  • Qual é a finalidade da encarnação dos Espíritos?

– Deus a impõe com o fim de levá-los à perfeição, para uns, é uma expiação; para outros, uma missão. Mas, para chegar a essa perfeição, eles devem sofrer todas as vicissitudes da existência corpórea: nisto é que está a expiação. A encarnação tem ainda outra finalidade, que é a de pôr o Espírito em condições de enfrentar a sua parte na obra da criação. É para executá-la que ele toma um aparelho em cada mundo, em harmonia com a sua matéria essencial, a fim de nele cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. E dessa maneira, concorrendo para a obra geral, também progride.


E Kardec aprofunda o tema na questão 167:

  • Qual é a finalidade da reencarnação?


– Expiação, melhoramento progressivo da humanidade. Sem isso, onde estaria a justiça?
Da análise destas questões depreendemos que a questão expiatória só acontece devido à insistência da criatura no erro, assim tem ele na oportunidade reencarnatória a condição de, pela expiação consertar seu caminho quando erra. Sem isso, onde estaria a justiça.


O objetivo básico da encarnação do Espírito, assim, é o seu aperfeiçoamento, em outras palavras realizar a sua evolução. E como ele realiza isto? Realizando a sua parte na obra da criação, isto é, colaborando.
Dissemos ser a compreensão desta questão básica para o espírita, pois ao nosso ver o que distingue o espírita dos cidadãos não espíritas é a capacidade que tem o primeiro de realizar a sua evolução de forma consciente. O espírita não é melhor do que ninguém, entretanto, a Doutrina codificada por Kardec oferece excelentes instrumentos de conscientização para o Ser.
Assim, faz-se necessário saber: por que encarnamos? Ou, o que estamos fazendo aqui?
A resposta é a que foi dada pelos Espíritos, encarnamos para nos aperfeiçoar, para evoluir.
E o que é evoluir?
Ainda segundo os Espíritos, o arcanjo começou por ser átomo[1]. Depreendemos daí que o Espírito inicia sua evolução na matéria; no átomo primitivo há o máximo de matéria e o mínimo de “espiritualidade”. O Fim da evolução é o Espírito puro, onde, se houver matéria é em mínima quantidade, e há espiritualidade em dose máxima[2].
Concluímos assim, que evoluir é espiritualizar, é ser cada vez menos influenciado pela matéria, até o Espírito Puro que não sofre influência desta. (LE Q. 112)
Mais à frente Kardec retoma o tema e pergunta aos Espíritos qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem, para lhe servir de guia e modelo?
Ou seja, nesta trajetória evolutiva teríamos um guia para nos orientar e um modelo a seguir, e os Espíritos respondem simplesmente: Jesus
Aqui é preciso compreendermos esta resposta com inteligência, Jesus é o guia e modelo, ou seja, temos que nos orientarmos por Ele e segui-Lo. Não é Ele quem fará por nós, Ele simplesmente aponta o caminho, mostra-nos o como chegar lá.
Ele é o salvador como nos fizeram crer o cristianismo oficial? É, e não é ao mesmo tempo. Ele não é salvador se entendermos que ele realizará a salvação por nós, isso ele não fará; todavia é, na medida em que nos tira da treva iluminando o nosso caminho.
Se tivermos perdidos numa floresta escura sem saber para onde ir, correndo riscos enormes e alguém acender uma luz e nos guiar até o destino desejado com segurança, esse alguém não foi naquele momento o nosso salvador?
Esse é o papel de Jesus, e esta luz é o Evangelho. O Evangelho é sem dúvida alguma o instrumento de maior segurança que tem o Espírito para realizar a sua evolução. Entendamos por Evangelho não o livro simplesmente, mas os ensinamentos de Jesus. Não podemos desprezar o mapa, mas o mais importante é o território; o instrumento é de grande importância, mas não tanto quanto a música.
Portanto, podemos com tranqüilidade dizer é fundamental para todos nós estudarmos o Evangelho, mas principalmente para nós os Espíritas, já que queremos trilhar o caminho da matéria para o Espírito de forma consciente e com menos percalços.

Concluindo podemos dizer que no desejo de responder a primeira pergunta respondemos as duas primeiras.
Estudar o Evangelho porque ele é o roteiro de nossa evolução; e para quê? Para assim fazermos de forma consciente, não mais pelos impactos da vida, nem tampouco por disciplina, mas para atingirmos a condição de fazer o bem com espontaneidade, dentro daquela proposta citada por Paulo: …é Cristo que vive em mim[3]

Neste momento devemos responder à terceira questão:

Como devemos estudar o Evangelho?

Não temos nenhuma receita pronta, mas o estudo e a experiência tem nos levado a propor alguns recursos que podem nos auxiliar:

  • É preciso estarmos isentos de quaisquer preconceitos. E aqui devemos analisar o nosso campo mental e a intimidade de nossos corações.
  • Não estarmos presos a dogmas.
  • Abrirmos mão do interesse pessoal, observar o que o Evangelho quer dizer e não impor o que queremos a ele.
  • Quando possível aumentar o nosso patrimônio cultural principalmente no que diz respeito ao conhecimento dos costumes, tradições, história e geografia relativas ao tempo de Jesus e à Palestina de um modo geral.
  • Sendo necessário interpretarmos o Evangelho à luz da Doutrina Espírita, temos de ter o hábito do estudo constante dos princípios básicos da mesma através das obras básicas e das subsidiárias.
  • Extrair de cada passagem o conteúdo espiritual do Evangelho: Jesus, por ser o Educador Maior da Humanidade, ensinava ao Espírito eterno. Desta forma, temos que ter não apenas olhos para as questões transitórias, mas capacidade de enxergarmos o que verdadeiramente educa o nosso Ser espiritual. …as palavras que eu vos disse são espírito e vida,[4] nos alerta o Cristo, segundo anotações de João; ao que Paulo complementa: O que nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, e o espírito vivifica.[5]

Há ainda três questões importantes que devemos analisar:

  • Intenção
  • Subjetividade
  • Limitação


Intenção: Neste tópico é importante refletirmos, com que intenção nos aproximamos do Evangelho?
Para ilustrar tomemos por símbolo uma árvore.
Uma árvore é sempre uma árvore, porém para alguém que está cansado por uma longa caminhada num dia de sol quente ela pode representar uma oportunidade de descanso e de refresco em sua sombra.
Para um artista é ela objeto de inspiração. Uma criança pode ver nela um excelente lugar para amarrar uma corda e fazer um balanço para brincar, enquanto para um marceneiro ela será de grande utilidade como geradora de matéria prima e oportunidade de trabalho.
O que representa para nós o Evangelho?
Pode ser simplesmente literatura para uns, para outros instrumento de pesquisa histórica, para o religioso comum ponto de apoio para seus dogmas, enquanto outros o verão como instrumento reeducativo e oportunidade de trabalho.
Kardec tratou desta questão em O Evangelho Segundo o Espiritismo:


Podemos dividir as matérias contidas nos Evangelhos em cinco partes: 1) Os atos comuns da vida do Cristo: 2) Os milagres: 3) As profecias: 4) As palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja: 5) O ensino moral. Se as quatro primeiras parte têm sido objeto de discussões, a ultima permanece inatacável. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É o terreno em que todos os cultos podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, por mais diferentes que sejam as suas crenças. Porque nunca foi objeto de disputas religiosas, sempre e por toda a parte provocadas pelos dogmas. Se o discutissem, as seitas teriam, aliás, encontrado nele a sua própria condenação, porque a maioria delas se apegaram mais a parte mística do que à parte moral, que exige a reforma de cada um. Para os homens, em particular é uma regra de conduta que abrange todas as circunstâncias da vida privada e publica, o principio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa justiça. É, por fim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade a conquistar, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura. É essa parte que constitui o objeto exclusivo desta obra.[6]


Como notamos Kardec elegeu o ensino moral como a parte prioritária, do mesmo modo assim devemos fazer consoante aquele objetivo já comentado por nós de aperfeiçoamento moral; assim, fomos um pouco além, não só a parte moral, mas faz-se importante evidenciar o campo operacional do Evangelho como instrumento de aperfeiçoamento.
Expliquemos melhor.
É que muitos veem no Evangelho seu conteúdo moral, só que usam isso para corrigir o outro, e não a si mesmo. É preciso compreendermos que o Evangelho é instrumento de educação do Espírito, e educação além de se fazer pelo exemplo, é questão pessoal. Podemos auxiliar no processo do outro, e até devemos assim fazer; mas em verdade, cada um é que educa a si mesmo na medida em que compreendendo o mecanismo busca sua própria iluminação.
Jesus foi claro:

Não vim destruir a Torah ou os profetas, na vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento.[7]

Ou seja, a Torah era uma Revelação, já trazia tudo o que necessitamos, Jesus veio para ensinar-nos a aplicar o conhecimento em favor de nossa efetiva libertação.
O desafio com Jesus ultrapassa a questão do conhecer, passa a ser realizar.
Subjetividade: Este é um tema de fundamental importância. O item anterior mostrou-nos que devemos ser objetivos ao nos aproximar do Evangelho e buscar a sua vivência. Neste vamos buscar compreender todo alcance do mesmo.
Jesus é um Espírito de grande evolução, é preciso termos a certeza disto. A doutrina espírita através das informações trazidas por Léon Denis, Emmanuel, Joana De Ângelis, entre outros, nos mostra que Ele é o Guia Espiritual da Terra, é o Construtor do Orbe.
Depreendemos disto que há cinco bilhões de anos aproximadamente Ela já era um Cristo, um Espírito Puro. E nós, o que éramos há cinco bilhões de anos atrás?
Portanto, a distância espiritual que nos separa Dele é incomensurável. Não temos a mínima capacidade de compreender o seu estado mental nem a sua possibilidade.
Assim, quando Ele veio até nós com o objetivo de educar-nos o Espírito Ele teve que adequar a sua mensagem, caso contrário nós não o compreenderíamos.
Como a sua proposta é universal e são inúmeros os estágios evolutivos dos Espíritos que habitam nosso planeta, ele teve que dizer de tal modo que, desde os mais imaturos até os mais capacitados de compreensão pudessem entendê-lo.
Assim, seus ensinamentos dizem mais do que podemos supor num primeiro contato com eles. Há uma mensagem clara e há também ensinamentos nas entrelinhas, de tal modo que todos possam se beneficiar com suas lições, independentes da condição evolutiva de cada um.
Portanto, ao estudarmos uma passagem evangélica é preciso estarmos atentos para perceber o que o Evangelho quer nos trazer, é preciso termos habilidade para enxergarmos o invisível aos olhos, trabalharmos o plano da subjetividade, as entrelinhas, dentro de linguagem habitualmente usada, tirar o espírito da letra.
Dizemos assim, porque é muito comum nos aproximarmos do Evangelho não para perceber o que ele tem a nos trazer, mas para tentar justificar um posicionamento nosso. Fazendo assim, fechamos a porta de nosso entendimento e perdemos uma grande oportunidade de aprendizado.
Resumindo, é o Evangelho que tem de nos ensinar algo novo, e não nós que devemos agregar a ele os nossos interesses e nosso pouco entendimento.
Para facilitar a compreensão de como operacionalizar este estudo e consequentemente tirar melhor proveito de seus ensinamentos, aprendemos com amigos que nos antecederam no estudo deste Tratado de Reeducação que respondendo algumas perguntas buscando evidenciar a proposta individual de transformação moral, teríamos assim maior sucesso na interpretação e na compreensão da subjetividade das lições.
Assim, ao estudarmos o ambiente ou o local onde as passagens aconteceram, perguntamos, onde? E notamos que tais perquirições nos oportunizam grandes ensinamentos.
Jesus iniciou seus trabalhos na Galiléia (simplicidade), ali arregimentou seus discípulos. Caminhou para Jerusalém (espiritualidade), viu necessidade de voltar para a Galiléia (simplicidade, campo operacional) e escolheu passar pela Samaria (conflitos; nestes a oportunidade de fixação dos valores trabalhados em Jerusalém).
O momento da ação leva-nos a trabalhar outra pergunta que muito pode auxiliar-nos a evidenciar nossa necessidade de novas atitudes na esfera de uma moral mais elevada. Assim perguntamos quando?
Nicodemos procurou o Messias à noite. Por quê? Tem-se tentado dar várias respostas a esta pergunta, muitas podem existir, todavia como nosso objetivo é a reeducação da alma, aprendemos que Jesus é a luz do mundo, quando precisamos de luz? Quando estamos em trevas (noite).
Ao contrário, os grandes eventos realizados por Jesus foram durante o dia, por quê? Porque é quando estamos iluminados que devemos operar em favor do bem.
Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.[8]
A análise dos personagens do Evangelho podem muito contribuir em nossa edificação, assim perguntamos, quem?
Jesus em várias oportunidades escolheu três discípulos para através deles nos deixar grandes lições: Tiago, filho de Zebedeu, João seu irmão e Pedro. Por que assim fez o Mestre, por que gostava mais destes? Não, porque assim ensinava-nos algo.
Tiago representa para nós a capacidade de testemunho, foi o primeiro a ser sacrificado por servir ao Evangelho. Pedro era a firmeza em pessoa - tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja[9]. João representa em nossa análise o sentimento sublimado, o amor. Muitos ainda não compreenderam porque ele era considerado o discípulo amado se Jesus não tinha preferências. Se esquecem estes que do que damos recebemos, se João se sentia o mais amado era porque naturalmente mais amava.


Assim temos três componentes básicos para operarmos em nome de Jesus:

  • Capacidade de Testemunho
  • Firmeza, decisão, prontidão.
  • Amor

Outro fator que muito pode nos auxiliar na proposta reeducativa do Evangelho é a análise das ações em si. Assim perguntamos como?
Zaqueau é um personagem típico para esta análise se aprofundarmos “como” se deu a sua conversão.
Ele entendeu que Jesus era a sua salvação, o fim de todas as suas angústias. Deste modo quis ver Jesus, queria mais, estar com Ele. Mas onde Jesus ia a multidão o acompanhava, ele era de baixa estatura (pequeno, pouca evolução), como Jesus iria vê-lo? Como destacar? Assim, ele correndo adiante, subiu a um sicômoro[10]
Correndo – dinamismo, decisão rápida; tem que fazer o bem, que se faça logo.
Adiante – para a frente. Jesus era importante para ele, estava à sua frente.
Subiu – se elevou, representando nossa necessidade de elevação espiritual para vermos Jesus e merecermos ser por ele notado.

Porém, para ficar com Jesus, para que o Mestre estivesse em sua casa [íntima], teve que descer (cf. Lc, 19: 5), isto é, operar na faixa dos que estavam abaixo [necessitados], e assim fez alegremente (Lc, 19: 6).
Há inúmeras outras passagens que poderiam nos servir de exemplos, como há também outros modos de descobrir na subjetividade do Evangelho nosso plano objetivo de realizações.
Nosso terceiro item é:
Limitação: Este quesito diz respeito não ao Evangelho, mas à nossa limitação de compreendê-lo.
Uma das virtudes mais importantes para se trabalhar quando do estudo do Evangelho é a humildade. É preciso termos a compreensão de nossa pequenez em relação à grandeza da proposta da Vida para cada um de nós.
Por mais que estudemos, por mais que avencemos em entendimento ainda somos bastante limitados e é aí que entra a importância de se estudar o Evangelho em grupo.
O grupo tem papel fundamental para o bom desenvolvimento do trabalho. Em primeiro lugar porque um dos principais objetivos da Boa Nova de Jesus é nos capacitar para uma proposta de colaboração. Esta é a dinâmica da vida, e nada melhor do que um grupo para alargar esta nossa possibilidade. A convivência é um excelente instrumento de didática.
Além deste objetivo, as pessoas nos completam, veem pontos que para nós ainda são obscuros. Outras vezes temos visões deturpadas, nossas experiências de vida podem contribuir positivamente, mas também negativamente nos obstaculizando um melhor entendimento de determinada passagem. O grupo ao mesmo tempo que abre as possibilidades de entendimento também nos limita em nossas vaidades e tendências ao interesse pessoal, corrige distorções.
Assim, é preciso que as Casas Espíritas formem grupos de estudo do Evangelho, pequenos que sejam, mas grandes em possibilidades pelo desejo de aprender para melhor servir em nome do Cristo.
Damos assim por concluída, pelo menos por enquanto, aquela oportunidade de responder às três perguntas, que de tão importantes, vamos repetir:

  • Por que estudar o Evangelho?
  • Para quê?
  • Como?

    [1] Cf. O Livro dos Espíritos questão 540
    [2] Cf. Op. cit. Questão 82: É certo dizer que os Espíritos são imateriais? (…) Imaterial não é o termo apropriado; incorpóreo, seria mais exato.
    [3] Gálatas, 2: 20
    [4] João, 6: 63
    [5] II Cor., 3: 6
    [6] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Introdução.
    [7] Mateus, 5: 17
    [8] João, 9: 4
    [9] Mateus, 16: 18
    [10] Lucas, 19: 4

terça-feira, abril 21, 2009

Da Cruz ao Gólgota: Jerusalém Libertada

Dentro do processo evolutivo do Espírito que caminha para Deus ele tem de experienciar nas faixas inferiores passando pela atração no mineral, pela sensação no vegetal, pelo instinto no animal, e mesmo na faixa hominal trabalha sua instintividade sendo obrigado a matar para não morrer, a demarcar território para possuir seu lar com tranqüilidade; passa por várias experiências na área da sexualidade…
Tudo isso cria nele um psiquismo que mais à frente ele vai ter de abandonar. O problema é que o Espírito passa a gostar desta faixa, entra num processo repetitivo e quando cai em si (sai desta embriaguez[1]) vê a necessidade de tudo isso deixar para traz e construir um homem novo cultivador de novos valores, os valores do Espírito.
Porém esta transição não é fácil, não é simples deixar o que cultivamos por longa data e nos adentrarmos por novos caminhos.
Como fazer?
O Livro dos Espíritos nos aponta Jesus como o Guia e Modelo[2] e analisando sua caminhada conforme a narrativa dos Evangelhos podemos encontrar o caminho desejado.
Jesus vem até nós nascendo em uma manjedoura. Primeiro passo a humildade.

…a humildade representa a chave de todas as virtudes.[3]

Se quisermos sair das faixas inferiores em que nos situamos é preciso iniciar pela humildade de saber quem somos, de nossa pequenez. Só assim poderemos elevar-nos pela conquista de valores mais nobres.
Quando inicia seu ministério Jesus o faz na Galiléia que simboliza para nós a simplicidade. Desta forma vem Ele fixar a lição da humildade ensinando-nos a sermos simples se quisermos vencer nossas complexidades. E na Galiléia recolhe os recursos necessários para seu ministério, e lá onde ele recruta aqueles que iriam auxiliá-lo, e serem os primeiros divulgadores de sua Boa Nova. Podia angariá-los na universidade de Alexandria ou na de Tarso, ou mesmo no Templo de Jerusalém entre os sábios judeus. Porém assim não fez, preferiu a sabedoria dos simples de coração.
Segundo as anotações de João, o Evangelista, após iniciar seus trabalhos na Galiléia segue Jesus para Jerusalém.
Jerusalém tem para nós o símbolo da religiosidade, da luz espiritual, da revelação superior.
Após sedimentada as bases de trabalho, humildade e simplicidade, busca Jesus a informação, a revelação superior. Não que ele precisasse disso; ele já era superior por natureza, porém não esqueçamos que ele veio para nos ensinar o caminho, o modus operandi para sairmos da animalidade.
Ao se colocar como alimento em um cocho para animais (manjedoura) deixa claro esta lição. Mais tarde vai dizer: Eu sou o pão da vida.[4]
Na sequência após a primeira passagem em Jerusalém, significando para nós a necessidade de recolher recursos superiores, Jesus decide voltar para a Galiléia (João, 4: 3), ensinando-nos que era lá, naquele momento, o seu campo operacional, e que após receber as luzes da revelação devemos buscar o serviço onde possamos aplicar os conhecimentos.
E o Evangelista diz: Era preciso passar pela Samaria. (João: 4: 4)
Interessante notar que este não era o caminho mais fácil de Jerusalém para a Galiléia, os judeus não o faziam até porque detestavam os samaritanos.
Por que então era preciso Jesus passar pela Samaria?
Sim, havia necessidade de levar o Evangelho a todas as criaturas, e os samaritanos também pertenciam ao povo hebreu, tinham deixado o Egito com Moisés, porém isto poderia ficar para mais tarde.
É preciso perceber na sequência evangélica toda uma linha didática, após recolher os recursos superiores (Jerusalém) e voltar para a sua vida cotidiana que é o seu campo de ação (Galiléia), temos a necessidade de passar pelas zonas de conflito (Samaria), só assim, se passarmos por elas e bem, fixamos em nós o ensinamento e alcançamos a condição de promoção espiritual.
Portanto, se quisermos vencer a instintividade, o grito da retaguarda em nossa intimidade, tenhamos os passos de Jesus como exemplo:

Humildade → simplicidade → conhecimento → testemunho.

Todo o Evangelho tem esse direcionamento que se inicia na manjedoura e termina no Gólgota.
Aliás, o término mesmo não é na cruz, esta é apenas um momento, um instrumento didático, tudo termina na Jerusalém futura, a Jerusalém celeste, significando nossa libertação pelo conhecimento (que em hebraico tem o sentido de penetração) em nós da Verdade.

[1] Cf. Gênesis, 9: 24
[2] O Livro dos Espíritos, questão 625
[3] A Caminho da Luz, cap. XII
[4] João, 6: 35 e 48

terça-feira, janeiro 27, 2009

Filho do Homem, e Filho de Deus

Assim, o Filho do Homem até do sábado é senhor.[1]
E o centurião que estava defronte dele, vendo que assim clamando expirara, disse: Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus.[2]


Temos divulgado a importância de se estudar o Evangelho do Cristo, e mais, de assim o fazer à luz da Doutrina Espírita.
Muitos podem pensar que a partir desta idéia nos achamos superiores aos irmãos vinculados a outras escolas religiosas, porém esta não é a verdade. Conforme nos ensina Emmanuel todos que se aproximarem do Evangelho com a disposição de aprender e o coração aberto para compreendê-lo com a alma, muito poderão realizar em matéria de iluminação espiritual pertençam a que crença for.
Todavia não podemos deixar de reconhecer que a doutrina codificada por Kardec nos instrumentaliza com recursos valiosíssimos para a compreensão da Boa Nova, sem os quais o entendimento amplo de algumas passagens se torna muito mais difícil.
Russell Champlin, religioso e escritor estado-unidense, Bacharel em literatura bíblica no Immanuel College, pós-graduado em Novo Testamento na Universidade de Chicago, e Ph. D. em línguas clássicas na Universidade de Utah[3], afirma na Introdução ao Evangelho de Marcos que:


O termo Filho de Deus, de conformidade com o evangelho de Marcos é uma expressão muito importante para Marcos, e não pode ser derivada de qualquer compreensão judaica acerca do “Messias”…

Mais á frente, no mesmo artigo, continua:


O Filho de Deus, de conformidade com o evangelho de Marcos, é participante da divina essência… (…) [Ele] triunfou sobre a morte, e promete o mesmo tipo de vida a todos quantos querem segui-lo em sinceridade e verdade. Ele é aquele que tem as propriedades de “asseidade” (do latim a-se-esse, aquele que tem vida em si mesmo, que é auto-existente, independente, participante da vida divina essencial). E é justamente esse tipo de vida que ele promete a outros. Haveremos de transformar-nos em seres que participam da vida divina, por intermédio de Cristo; e então possuiremos vida em nós mesmos, passando a ser verdadeiramente imortais, como Deus é imortal.


Dizendo ainda em outro ponto do mesmo texto:


Contudo, Jesus também aparece no evangelho de Marcos como Filho do homem, estando perfeitamente identificado com o homem, sendo homem verdadeiro, cujos sofrimentos foram reais… (…)Jesus, na qualidade de homem, andou em comunhão com o Pai.


Estaria Champlin enganado em sua interpretação, pensamos que não; todavia diante de suas colocações, ou adotamos a tese simplista e de pouca lógica que Jesus era Deus e homem ao mesmo tempo, ou teremos que buscar nas orientações da filosofia espírita subsídios para interpretarmos a questão dentro de um prisma com melhor fundamentação.
Dentro do nosso entendimento do que ensina a doutrina espírita, muito pelo contrário, Jesus não é nem Deus e nem homem conforme a compreensão usual deste termo. Porém, antes que os leitores deste texto possam se chocar com estas afirmativas, nos apressaremos em explicá-las.
Um dos princípios básicos do espiritismo é a evolução. Evolução que é, segundo Emmanuel, Lei para tudo neste nosso Universo dual.
Assim, explica o espiritismo, que o Espírito inicia sua fase evolutiva na matéria, e segue, passando pelos reinos inferiores da criação, até atingir na faixa hominal a condição de operar sobre o seu próprio destino. Porém este não é o fim, e apesar de não termos informações completas de como a evolução se processa a partir do homem é certo que ele chegará à condição de Espírito Puro, que segundo os Espíritos disseram a Kardec, nesta fase eles não sofrem mais qualquer influência da matéria.
Está é a condição, segundo o próprio Codificador, de Jesus, que por suas virtudes, estava muitíssimo acima da humanidade terrestre.[4]
Ainda segundo as anotações de Emmanuel, Jesus recebeu do Criador a missão de formar, orientar e governar o planeta Terra, e isso se deu desde o início quando este se desprendia da nebulosa solar.
Quando se deu este evento? Há aproximadamente cinco bilhões de anos. Depreendemos deste fato que Jesus já era Cristo há cinco bilhões de anos, quando nós muito provavelmente ainda estávamos na condição de “simples e ignorantes” formando-nos nos reinos inferiores da criação.
Portanto, nada mais lógico do que afirmar que se a condição humana em que nos situamos não é a última na escalada evolutiva, Jesus não pertence à raça humana; como disse Kardec, Ele está muitíssimo acima da humanidade terrestre.
Com isso não queremos dizer que Ele não tenha tomado quando de sua encarnação um corpo semelhante ao nosso tendo neste, sofrimentos reais. Pela lógica que temos aprendido o superior pode vir ao inferior, o contrário é que nem sempre é possível.
Quanto a Jesus não ser Deus, não vamos nos ocupar deste assunto, já que escrevemos para espíritas e estes têm perfeita consciência disto. Seria repetir um tema que outros muito mais competentes do que este que lhes escreve já explicaram melhor.
Mas para aqueles que ainda não se certificaram do assunto e desejam melhor se informar sobre ele, indicamos excelente estudo feito por Kardec no livro “Obras Póstumas”, sob o título: “Estudo Sobre a Natureza do Cristo”.
Dito isto, podemos agora nos ocupar melhor com os comentários citados de Russell Champlin.
Conforme nos ensina o professor Pastorino, a expressão filho de é uma expressão idiomática do hebraico e exprime o ser que possui a qualidade do substantivo que lhe segue. Assim, filho da luz quer dizer iluminado; filho da paz significa pacífico. Portanto, filho de Deus é o ser que se divinizou. Divinizar não é tornar-se Deus, pois isso é impossível, é tornar-se participante da Divindade no sentido de se integrar Nela. O apóstolo Paulo, em Espírito, na questão 1009 de O Livro dos Espíritos nos diz que: gravitar para a unidade divina, eis o fim da Humanidade. Mostrando-nos que isso não só é possível, como é o fim de todos nós.
Dentro desta exposição do professor Pastorino filho do homem é o humano, o que contraria o que dissemos anteriormente sobre Jesus. Porém, explica o mestre que este conceito evoluiu de tal modo que ao tempo de Jesus filho do homem significava aquele que já teria se libertado do ciclo reencarnatório. Enquanto que filho de mulher expressava o homem ainda sujeito às reencarnações, filho do homem era o Espírito que, terminada sua evolução nos mundos materiais não precisava mais encarnar; eram assim, “produto do homem”, “fruto da humanidade”.[5]
A partir destas explicações que só a exegese espírita do Novo Testamento pode realizar, podemos compreender com clareza as colocações do renomado escritor norte americano quando afirma que o Jesus de Marcos – Filho de Deus – era participante da essência divina. Tinha-se feito “Um com Deus”, gravitado para a Unidade Divina.
Ele triunfou da morte, afirma Champlin.
É preciso dissociar na literatura bíblica morte de desencarnação. Já nos primeiros capítulos do livro Gênesis o redator da obra nos diz que Adão e Eva morreriam se se alimentassem do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Como todos sabem eles assim fizeram e não morreram, pois narra-nos o simbólico texto da Bíblia hebraica que foram todos os dias que Adão viveu novecentos e trinta anos[6]
Assim, a morte a que se refere o autor de Gênesis é a morte da transgressão à Lei de Deus, tese esta confirmada pelo apóstolo Paulo ao informar-nos:


Porque o salário do pecado é a morte…[7]


Ele triunfou da morte, ou seja, Ele tornou-se puro, sem pecado; venceu o mundo.[8]
Poderíamos até supor que Champlin conhecesse a Doutrina dos Espíritos, pelo que sabemos ele é protestante, pois afirma com naturalidade que Jesus promete o mesmo tipo de vida a todos quantos querem segui-lo em sinceridade e verdade…haveremos de transformar-nos em seres que participam da vida divina…
Não é isso que sem nenhum dogmatismo, fundamentado na lógica e no bom senso ensina o espiritismo?
Porém, não esqueçamos da continuidade do excelente artigo do também professor norte americano:
Para que tudo assim se dê e possamos realmente ser auto-existentes, independentes, participantes da vida divina essencial é preciso ser como Jesus:


…homem, [que] andou em comunhão com o Pai.


[1] Marcos, 2: 28
[2] Marcos, 15: 39
[3] Dados obtidos em http//pt.wikipedia.org/wiki/Russell_Norman_Champlin
[4] Cf. A Gênese, cap. XV
[5] Cf. Sabedoria do Evangelho, vol. 1
[6] Gênesis, 5: 5
[7] Romanos, 6: 23
[8] Cf. João, 16: 33