sexta-feira, julho 19, 2019

Lendo os Salmos à Luz do Novo Testamento e da Doutrina Espírita

 Salmo 22: O Salmo que Jesus Orou 

Leia aqui Salmo 22: 1 a 6

Este é um Salmo mais que especial. É um dos mais citados e utilizados pela tradição cristã.  Os relatos da paixão de Cristo se inspiram nele.
Esteve como oração na boca do próprio Jesus. É sem dúvida um Salmo de profecia messiânica e mais; ao nos dizer da humanidade do Messias fala dEle como modelo. Neste passo nos identificamos e passamos à condição do Orante,
Devido a especialidade do Salmo, iremos comentá-lo mais detalhadamente.
Podemos ver nele dois lances distintos:
Súplica: Versículos de 1 a 22
Louvor  e agradecimentos futuros como esperança de libertação: Versículos 23 a 31
Importa-nos ainda destacar a urgência do salmista devido ao seu grande sofrimento, e sua atitude nobre: não pede punição para aqueles que o fazem sofrer e nem relaciona o sofrimento a nenhuma culpa ou transgressão que tenha cometido.
Neste ponto temos importante aprendizado principalmente para nós  espíritas: nem todo sofrimento  é expiação pode ser apenas uma prova aperfeiçoando o Espírito. Talvez esteja aqui a compreensão do sofrimento de Jó. Não se trata de retribuição, nem mesmo de causa e efeito, talvez oportunidade de crescimento espiritual.
O primeiro versículo foi repetido como oração por Jesus:
Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste (Salmo 22:1)
É preciso ver as diferenças dele na boca de Jesus e na nossa quando oramos.
Jesus é o Guia e o Modelo para toda humanidade (cf. O Livro dos Espíritos, Questão 625)
Ele não precisava passar por nada que passou, se assim o fez, foi por amor e para ensinar-nos o "caminho" para Deus. Pode até mesmo se identificar com o "caminho"  por ter feito ele com excelência; assim, adquiriu autoridade.
Desta forma ao orar este verso participando de nossa humanidade Ele carinhosamente nos ensina dizendo que vamos passar por momentos de tão grande dificuldade que sentiremos como se Deus tivesse nos abandonado. Estes momentos são aqueles em que ninguém pode nos ajudar, temos de passá-los em solidão.
Existem circunstâncias em nossa vida que somos só nós quem temos que resolver. Neste instante temos não o abandono de Deus, mas Ele fica oculto, os amigos espirituais se afastam não por negligência, mas para nos deixar testemunhar. É este instante que está em foco no verso, é uma realidade pela qual temos de passar; em Jesus é ensinamento, é Ele educando nosso Espírito imortal.
Em nossa boca a oração não deve ser protesto, mas  clamor confiante.
 O Segundo versículo quebra a sequência de outros Salmos. Normalmente aquele que ora clama e o Senhor responde.
Aqui Ele não responde, nem à noite o salmista tem descanso.
Como comentamos trata-se daquele momento provacional por qual todos passamos, momento de grande significação, em que o Criador e os Espíritos Consoladores nos observam de "longe".
Muitas vezes, neste instante, buscamos o conselho de um amigo e não o encontramos, outro, e também não; buscamos nos socorrer com uma página de um livro edificante e a mensagem sorteada é completamente distante da nossa necessidade. Faz parte, nas horas definidoras de nossa evolução temos de decidir a sós, escolher o caminho e nos mantermos nele, é a opção de cada um.
"Deus é Santo", habita em nossos louvores (vers. 3), que são nossas atitudes em obediência a Ele. Só assim, em santidade, que é a realização do projeto Dele para nossa vida, habitaremos em Seu santuário e Ele em nós, em nosso coração.
Nossos pais (vers 4) representam aqueles que nos antecederam na doutrina do Cristo. Podemos vê-los na revelação primeira do Antigo Testamento, na segunda do Novo Testamento, ou na terceira, a dos Espíritos consoladores.
No quarto e quinto versículos a expressão de confiança se repete por três vezes. Já dissemos alhures que no contexto do Antigo Testamento confiar é testemunhar Deus e entregar a Ele a vida e as atitudes.
No Novo Testamento esta confiança e fidelidade é tratada como "fé", que é o ato de estar comprometido com o amor de Cristo.
Nossos pais serviram de exemplo e foram salvos, e nós, que exemplo estamos deixando para os nossos filhos?
O vocábulo "vermes" (Vers. 6) é usado outras vezes na Escritura em outros contextos, aqui ele tem uma conotação social.
Sabemos que somos quase nada diante de nossa destinação futura, porém, quando assumimos uma vida buscando espiritualidade, somos vistos por aqueles que nos rodeiam como um "bichinho esquisito", eles ainda presos à retaguarda não compreendem a transformação que está operando em nós, não somos mais vistos como "homens" comuns.
(continuará na próxima postagem)

quinta-feira, julho 04, 2019

Salmo 18 - Breves Considerações

 
 

Este é um Salmo longo. A Bíblia hebraica coloca como seu título "cântico de Louvor a Deus". Trata-se de um hino em que o autor dá graças pelas muitas bênçãos recebidas.

Para compreendermos o contexto histórico é importante ler o capítulo 22 do Segundo Livro de Samuel, que é outra versão do Salmo com pequenas variações.

Davi foge de Saul e de seus inimigos, e o Senhor o livra de todos; assim, ele, o autor do Salmo, conta a todos os benefícios recebidos.

É mais uma oração em que o autor além de expor as graças recebidas coloca sua confiança no Senhor, sua retidão nos procedimentos, e por isto, a ação de Deus livra-o de seus inimigos.

Os personagens são os mesmos de outros Salmos: o orante, Deus e os inimigos. Entretanto, o Salmo diz algumas coisas que merecem ser destacadas.

Ele inicia falando diretamente com Deus expressando um amor profundo, visceral.

Rapidamente ele alterna e começa a narrar colocando Deus na 3ª pessoa, mais à frente (vers. 25) ele volta à 2ª pessoa contando ao Senhor o que Ele próprio fez, como se Ele não soubesse.

Notamos aí uma necessidade que é também nossa, a de falar a Deus em nossas preces o que Ele já sabe. Na verdade, aprendemos com isto que a necessidade é nossa de ouvir o que dizemos como forma de fixar em nós a virtude ou a gratidão, através do que reafirmamos.

Outra questão a se destacar no Salmo confirmando o entendimento espírita, é o cenário da ação, o plano operacional de Deus em três níveis.

 
  • Plano espiritual superior (céu)
  • Plano físico (Terra)
  • Plano espiritual inferior (inferno)

A ação daquele que ora tem de ser em seu nível de ação, horizontal, na Terra. O mundo espiritual inferior age - inimigos - invadindo o mundo físico e a intimidade de cada um; eles – os inimigos – não conseguem atingir Deus, assim tentam violá-lo através daqueles que têm débito por serem transgressores da Lei maior (os encarnados). Para alcancem a proteção do Alto, os situados no mundo físico têm de verticalizar seus sentimentos através de suas atitudes na horizontalidade (plano operacional)

 

"Recompensou-me o Senhor conforme a minha justiça, retribuiu-me conforme a pureza das minhas mãos.

Porque guardei os caminhos do Senhor,...

... e não rejeitei os seus estatutos." (Salmo,18: 20 a 22)

 

Este é o ponto principal que devemos entender do Salmo, não podemos lutar sozinhos contra os inimigos, sejam eles encarnados, desencarnados, ou seja nossos próprios sentimentos inferiores, precisamos de ajuda do Alto, mas para tal temos de atuar "em baixo". Deus age, a vitória é certa, mas é imperioso nossa colaboração na batalha humana.

 

"Tu deste grande vitória a teu rei, foste leal com teu ungido, com Davi [que somos cada um de nós] e sua descendência para sempre (Salmo, 18: 50)

 

 

Leia aqui o Salmo 18:

segunda-feira, julho 01, 2019

Princípio do Evangelho de Jesus Cristo

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O Evangelho de Marcos é tido pelos estudiosos como o primeiro Evangelho narrativo. Antes, tínhamos apenas alguns manuscritos dos apóstolos,não formando nenhum dos livros como hoje os conhecemos.
Já no primeiro versículo o autor diz:

"Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus"

Princípio; temos aqui uma ressonância do Gênesis (Gn, 1: 1); também Oseias inicia do mesmo modo (Os, 1: 2)
Com isso é provável que o evangelista quisesse dizer do início de uma "nova ordem"  que começa com Jesus.
Uma nova criação?
Não temos dúvida que com o Nazareno temos uma Nova Revelação.
A segunda palavra é Evangelho.
Evangelho tem sido traduzido como "Boa Nova", "Boa Notícia". está correto, mas vai mais além.
O imperador romano era tratado como divindade, senhor do mundo, e também salvador. Suas mensagens eram chamadas de evangelho. O que vinha dele era evangelho.
Assim, Marcos usa esta palavra para designar a "notícia" do Reinado de Deus. Evangelho para a ser a Mensagem de Deus para a humanidade, Ele é O Senhor do Universo, o Redentor. (Cf. Jó, 19: 25).
Isaías, ou o autor do segundo Isaías, um profeta messiânico, usa o termo do mesmo modo:

Tu, ó Sião, que anuncias boas novas, sobe a um monte alto. Tu, ó Jerusalém, que anuncias boas novas, levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas, e dize às cidades de Judá: Eis aqui está o vosso Deus.(Isaías, 40: 9)

Concluindo o versículo Marcos diz de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Ou seja, apresenta Jesus cm um título messiânico: Filho de Deus. Ele é assim, o Messias é quem traz com Ele o Reinado de Deus.
Desta forma, compreendemos o centro da mensagem de Marcos é "o  Reino de Deus está próximo". e Ele coloca estas palavras na boca do próprio Jesus. (cf. Mc, 1: 15)
Na sequência Jesus diz aos primeiros discípulos:

Vinde após mim, e eu farei que sejais pescadores de homens.(Marcos, 1: 17)

Fica claro, se Jesus como Messias é quem traz com Ele o Reinado de Deus, nossa missão como cristãos, isto é, semelhantes a Ele, não é menor.
Pescar homens, convertendo seus corações ao Reino de Bondade temo que ser a meta de cada um de nós.
O autor finaliza deste modo seu livro:

Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. (Marcos, 16: 15) 

Citamos ainda Isaías:
 
Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina!  (Isaías, 52: 7

Queridos irmãos, tenhamos vigilância, é aí que inicia o perigo.

Veja o que diz o escritor católico Alfred Loisy sobre o tema:  Jesus anunciou o Reino e o que veio foi a igreja. (Citado pelo Papa Bento XVI)
Ao que o próprio Joseph Ratzinger comenta em seu livro Jesus de Nazaré:

Nesta palavra pode ver-se uma ironia, mas também uma tristeza.

Para encerrarmos ficamos com o que disse Léon Denis como alerta para todos nós:

O Espiritismo será o que fizermos dele.

Assim, tenhamos atenção...