O Anúncio do Nascimento de João Batista e o Anúncio do Nascimento de Jesus
Vejamos a grandeza da
Mãe de nosso Senhor e a segurança com que agia analisando seu
comportamento num momento que seria de tensão para qualquer um, o
anúncio de que seria a mãe do Filho do Altíssimo.
Um anjo fez esta
revelação para Maria, ela seria mãe do Messias. Só isto já
bastaria para deixar qualquer um apreensivo.
O povo hebreu esperava
um Messias há muitos séculos, ele seria o libertador dos seguidores
de Moisés, reunificaria as doze tribos e faria de Israel a maior
entre todas as nações.
Vivia-se um período de
conflitos, o império romano dominava a nação judaica, e o povo de
Israel desejava ardentemente alguém que revertesse esta situação.
Muitos àquele tempo diziam ser o Messias, ele era aguardado
ansiosamente…
Por que ser ele filho
de uma mulher tão simples? Deve ter pensado, Ele poderia ser filho
de um sumo sacerdote, de um rei, de alguém realmente preparado para
lhe dar melhores condições. Ela deve ter tido vários conflitos a
respeito. Deve ter perdido várias noites de sono se perguntando como
educar o menino, um verdadeiro Filho de Deus. E se ela falhasse,
atrapalharia os planos do Todo Poderoso? Deus tem seus mistérios e
Maria tudo refletia em seu coração.
Nós gostaríamos de
analisar dois aspectos na passagem do anúncio do anjo a Maria,
comparando–a a um anúncio semelhante feito pela mesma entidade
espiritual a Zacarias, aquele que seria o pai de João Batista. Quem
narra é Lucas:
Anúncio
a Zacarias
Existiu, no tempo de Herodes,
rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e
cuja mulher era das filhas de Arão; e o seu nome era Isabel. 6
E eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os
mandamentos e preceitos do Senhor. 7 E não tinham
filhos, porque Isabel era estéril, e ambos eram avançados em idade.
8 E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de
Deus, na ordem da sua turma, 9 Segundo o costume
sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para
oferecer o incenso. 10 E toda a multidão do povo estava
fora, orando, à hora do incenso. 11 E um anjo do Senhor
lhe apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso. 12
E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele. 13
Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi
ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o
nome de João. 14 E terás prazer e alegria, e muitos se
alegrarão no seu nascimento, 15 Porque será grande
diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será
cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe. 16
E converterá muitos dos filhos de Israel ao SENHOR seu Deus, 17
E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter
os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos
justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto. 18
Disse então Zacarias ao anjo: Como saberei isto? pois eu já sou
velho, e minha mulher avançada em idade. 19 E,
respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de
Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas.1
O
Anúncio a Maria
No sexto mês, foi o anjo
Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia,
chamada Nazaré, 27 a uma virgem desposada com certo
homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se
Maria. 28 E, entrando o anjo aonde ela estava, disse:
Alegra-te, cheia de graça! O Senhor é contigo. 29 Ela,
porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar
no que significaria esta saudação. 30 Mas o anjo lhe
disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. 31
Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo
nome de Jesus. 32 Este será grande e será chamado Filho
do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai;
33 ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu
reinado não terá fim. 34 Então, disse Maria ao anjo:
Como será isto, se eu não conheço homem algum?2
É nas reações que
percebemos o estágio evolutivo de um Espírito, assim vamos analisar
apenas as reações de nossos personagens:
Ao ser abordado pelo
anjo, narra o evangelista que Zacarias turbou-se, e caiu temor
sobre ele. E após Gabriel, o anjo, lhe falar sobre a gravidez de
Isabel, sua esposa, e sobre a evolução do Espírito que viria ao
mundo como enviado de Deus, através deles, Zacarias inquiriu: Como
saberei isto? pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em
idade.
Com Maria se deu um
pouco diferente.
O mesmo Espírito,
Gabriel, lhe apareceu e saudou-a. Conta-nos Lucas que ela ao ouvir a
saudação, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que
significaria esta saudação. Do mesmo modo que com Zacarias, ele
explicou que ela iria dar à luz um filho e que ele seria chamado
Filho do Altíssimo e ainda comentou sobre os prodígios que
ele faria. Ela reagiu dizendo: Como será isto, se eu não conheço
homem algum?
Antes de entrar
propriamente na análise do comportamento dos dois, é importante
saber um pouco sobre quem eram e em qual ambiente receberam a
mensagem da Espiritualidade Superior.
Zacarias era um
sacerdote, ou seja, trabalhava no templo, era pessoa que cultivava as
questões espirituais e estudava a Torah. E não só isso, segundo o
texto evangélico era considerado um justo, e além de estudar,
seguia de modo irrepreensível os mandamentos e estatutos de Deus.
Informa-nos ainda Lucas, que era de idade avançada, o que significa
que tinha amadurecimento.
Em que ambiente estava
quando recebeu a mensagem? No templo, no Santuário do Senhor;
realizava o ofício de queimar o incenso. Podemos dizer em linguagem
moderna e espírita, que estava num serviço espiritual em comunhão
com os Espíritos e diz o texto evangélico que as pessoas que o
aguardavam do lado de fora estavam em oração. É como se ele
estivesse numa mesa mediúnica, e os que estavam na assistência
orassem mantendo a vibração e auxiliando-o em seus trabalhos.
Neste ambiente de
vibrações elevadas, e sendo ele já experiente no serviço e de
moral elevada, seria muito natural uma manifestação espiritual como
a que aconteceu, mesmo assim, apesar de todo o seu preparo e também
do ambiente, quando a manifestação aconteceu ele teve medo: caiu
temor sobre ele. E teve mais, ele ficou cético, não acreditou
no que o anjo lhe falava e pediu um sinal, uma prova: Como saberei
isto?
Maria por sua vez era
uma adolescente. Não sabemos bem a sua idade, mas muito
provavelmente tinha entre doze e quatorze anos. Ou seja, pelo menos
em matéria de idade não tinha grande amadurecimento e preparo. O
evangelista não diz onde ela estava, mas provavelmente estava em
casa, onde habitualmente não é comum a manifestação de Espíritos.
Mesmo assim o anjo se manifesta, era natural que ela também se
perturbasse, e foi o que aconteceu. Entretanto, o redator bíblico
nos informa que ela pôs-se a pensar no que significaria esta
saudação, o que podemos depreender que apesar da perturbação
ter sido grande, diz o texto que perturbou-se muito, ela
equilibrou-se rápido pois exerceu uma ação que só quem está
senhor de si assim faz, pôs-se a pensar. No momento do susto,
quem está sob o impacto do medo não pensa, reage simplesmente. Ela
teve tranquilidade, oxigenou o cérebro, e buscou compreender o
porquê daquela saudação. Como era natural, o anjo a orientou que
não temesse, o mesmo já havia acontecido com o marido de sua prima,
todavia ela surpreendeu até mesmo o Mensageiro do Senhor, pois o
texto não fala que ela temeu, e após a exposição de Gabriel sobre
a gravidez maravilhosa por que ela passaria, o que seria mais um
motivo de apreensão, ela ao contrário de Zacarias, creu
imediatamente, e se inquiriu o anjo a respeito não foi pedindo-lhe
provas, mas buscando entender como se daria o processo já que não
tivera relações com nenhum homem.
O texto é claro: Como
será isto, se eu não conheço homem algum? A partir do momento
em que ela pergunta como será isto…? É porque já admitia
o fato, sua fé já lhe abastecera, porém ela quis saber mais já
que não tivera contato sexual com seu noivo. Podemos com segurança
dizer que o que Maria teve foi muita lucidez e naquele momento ela
praticou o que Kardec dezenove séculos depois chamaria de fé
raciocinada, ela não creu de forma cega, mas tendo a confiança
superior, raciocinou, inquiriu e aprofundou seu estado intuitivo.
Mostrou que já tinha vindo preparada para sua missão e que era um
Espírito superior, acima da média, até mesmo de Zacarias que
também fora preparado no plano espiritual, que também era de boa
condição moral, mas em quem o nível de esquecimento era maior
devido sua menor condição em relação a Maria.
E consumando sua
atitude de fé, pois como falaria mais tarde Tiago, a fé, se não
tiver as obras, é morta em si mesma3.,
pôs-se a serviço em nome de Deus dando para todos nós
significativo exemplo: Eu sou a serva do Senhor; faça em mim
segundo a tua palavra.4
1
Lucas, 1: 5 a 19
2
Lucas, 1: 26 a 34
3
Tiago, 2: 17
4
Lucas, 1: 38
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