terça-feira, janeiro 17, 2012

Maria a Educadora de Jesus - Jesus Precisava Ser Educado? (continuação)


Humberto de Campos, este excelente repórter do Mundo Invisível nos conta que:
Desde os mais tenros anos, quando [Maria] o conduzia [Jesus] à fonte tradicional de Nazaré, observava o carinho fraterno que dispensava a todas as criaturas. Frequentemente, ia buscá-lo nas ruas empedradas, onde a sua palavra carinhosa consolava os transeuntes desamparados e tristes. Viandantes misérrimos vinham a sua casa modesta louvar o filhinho idolatrado, que sabia distribuir as bênçãos do Céu. Com que enlevo recebia os hóspedes inesperados que suas mãos minúsculas conduziam à carpintaria de José!… Lembrava-se bem de que, um dia, a divina criança guiara a casa dois malfeitores publicamente reconhecidos como ladrões do vale de Mizhep. E era de ver-se a amorosa solicitude com que seu vulto pequenino cuidava dos desconhecidos, como se fossem seus irmãos.1
Desculpem-nos repetir, mas é importante para nossas reflexões, como deve ter sido desafiadora a tarefa de Maria de educar um filho que desde criança era um sensacional educador…
Normalmente os pais transmitem a seus filhos seus traumas particulares, suas angústias, seus fracassos, seus medos. Teria Maria estes sentimentos? Teria ela passado isto para Jesus?
À primeira pergunta podemos responder que é bem provável que teria, ela era uma mãe genial, todavia não estava isenta de conflitos como podemos notar na literatura que temos analisado. Quanto à segunda, é mais difícil de saber a resposta, talvez em alguns momentos tenha até se mostrado apreensiva diante de seu filho, porém é certo que ela sabia e bem administrar suas emoções, o que é uma das tarefas mais complexas para o homem comum e que mais distinguem aqueles que se destacam na arte de educar.
Retomaremos este assunto mais adiante.
Temos feito algumas colocações baseadas em alguma literatura consultada, mas principalmente nas anotações dos evangelistas. E a partir destas reflexões chegamos à conclusão que Maria não era nem insegura e nem superprotetora, dois sentimentos, diga-se de passagem, que perturbam e muito o processo educacional, era intrépida e destemida. Por que assim dizemos?
A insegurança na educação gera a superproteção, ambas são consequências do temor, do receio diante do perigo; a mãe de Jesus podia, como já dissemos, ter tido alguns momentos de apreensão, todavia não era sua característica o medo.
Além da passagem da crucificação de Jesus, já citada, há outras que podem nos ajudar nesta conclusão.
Infelizmente como é rara a literatura a respeito e o próprio Evangelho fala pouco sobre ela, às vezes depreendemos nossas conclusões a partir das atitudes de Jesus.
Quem é educado num ambiente de superproteção raramente se sai bem diante dos desafios da vida. As primeiras adversidades têm a função de preparar a criatura para adversidades maiores que virão, ninguém pode evitá-las; nem a mãe pode, nem mesmo nenhum educador. Como o organismo que reage positivamente a uma enfermidade através de seu mecanismo de defesa, e assim é fortalecido seu sistema imunológico, as contrariedades fortalecem o nosso Espírito para os desafios que a vida nos propõe como num processo de recomposição de nossa estrutura íntima.
Se Maria fosse insegura e superprotetora jamais Jesus conseguiria dar bom termo à sua missão. Ela deve ter incentivado-o desde criança a superar todos os obstáculos, a jamais temê-los. Se ela desde a infância não o ensinasse a perseverança, a nunca desistir de seus objetivos, a terminar tudo o que começou, é bem provável que ele no momento supremo, o da crucificação, desistisse e realmente apelasse para que o Pai enviasse mais de doze legiões de anjos2 para socorrê-lo.
Aqui é importante lembrar que Jesus enfrentava as situações, as classes dominantes, a hipocrisia, o falso moralismo, tocava em pontos de alta significação para a alma, numa sociedade presa a antigas tradições e que punia severamente quem os contrariava. Em síntese Jesus tinha grande coragem e se é lógico que isso era fruto de sua evolução espiritual, não é menos verdade que sua educação deve ter contribuído para esta realidade. 

(Continua...)

1 (XAVIER/Humberto de Campos 1982), Cap. 30
2 Cf. Mateus, 26: 53

Nenhum comentário: