Humberto de Campos,
este excelente repórter do Mundo Invisível nos conta que:
Desde os mais tenros anos,
quando [Maria] o conduzia [Jesus] à fonte tradicional de Nazaré,
observava o carinho fraterno que dispensava a todas as criaturas.
Frequentemente, ia buscá-lo nas ruas empedradas, onde a sua palavra
carinhosa consolava os transeuntes desamparados e tristes. Viandantes
misérrimos vinham a sua casa modesta louvar o filhinho idolatrado,
que sabia distribuir as bênçãos do Céu. Com que enlevo recebia os
hóspedes inesperados que suas mãos minúsculas conduziam à
carpintaria de José!… Lembrava-se bem de que, um dia, a divina
criança guiara a casa dois malfeitores publicamente reconhecidos
como ladrões do vale de Mizhep. E era de ver-se a amorosa solicitude
com que seu vulto pequenino cuidava dos desconhecidos, como se fossem
seus irmãos.1
Desculpem-nos repetir,
mas é importante para nossas reflexões, como deve ter sido
desafiadora a tarefa de Maria de educar um filho que desde criança
era um sensacional educador…
Normalmente os pais
transmitem a seus filhos seus traumas particulares, suas angústias,
seus fracassos, seus medos. Teria Maria estes sentimentos? Teria ela
passado isto para Jesus?
À primeira pergunta
podemos responder que é bem provável que teria, ela era uma mãe
genial, todavia não estava isenta de conflitos como podemos notar na
literatura que temos analisado. Quanto à segunda, é mais difícil
de saber a resposta, talvez em alguns momentos tenha até se mostrado
apreensiva diante de seu filho, porém é certo que ela sabia e bem
administrar suas emoções, o que é uma das tarefas mais complexas
para o homem comum e que mais distinguem aqueles que se destacam na
arte de educar.
Retomaremos este
assunto mais adiante.
Temos feito algumas
colocações baseadas em alguma literatura consultada, mas
principalmente nas anotações dos evangelistas. E a partir destas
reflexões chegamos à conclusão que Maria não era nem insegura e
nem superprotetora, dois sentimentos, diga-se de passagem, que
perturbam e muito o processo educacional, era intrépida e destemida.
Por que assim dizemos?
A insegurança na
educação gera a superproteção, ambas são consequências do
temor, do receio diante do perigo; a mãe de Jesus podia, como já
dissemos, ter tido alguns momentos de apreensão, todavia não era
sua característica o medo.
Além da passagem da
crucificação de Jesus, já citada, há outras que podem nos ajudar
nesta conclusão.
Infelizmente como é
rara a literatura a respeito e o próprio Evangelho fala pouco sobre
ela, às vezes depreendemos nossas conclusões a partir das atitudes
de Jesus.
Quem é educado num
ambiente de superproteção raramente se sai bem diante dos desafios
da vida. As primeiras adversidades têm a função de preparar a
criatura para adversidades maiores que virão, ninguém pode
evitá-las; nem a mãe pode, nem mesmo nenhum educador. Como o
organismo que reage positivamente a uma enfermidade através de seu
mecanismo de defesa, e assim é fortalecido seu sistema imunológico,
as contrariedades fortalecem o nosso Espírito para os desafios que a
vida nos propõe como num processo de recomposição de nossa
estrutura íntima.
Se Maria fosse insegura
e superprotetora jamais Jesus conseguiria dar bom termo à sua
missão. Ela deve ter incentivado-o desde criança a superar todos os
obstáculos, a jamais temê-los. Se ela desde a infância não o
ensinasse a perseverança, a nunca desistir de seus objetivos, a
terminar tudo o que começou, é bem provável que ele no momento
supremo, o da crucificação, desistisse e realmente apelasse para
que o Pai enviasse mais de doze legiões de anjos2
para socorrê-lo.
Aqui é importante
lembrar que Jesus enfrentava as situações, as classes dominantes, a
hipocrisia, o falso moralismo, tocava em pontos de alta significação
para a alma, numa sociedade presa a antigas tradições e que punia
severamente quem os contrariava. Em síntese Jesus tinha grande
coragem e se é lógico que isso era fruto de sua evolução
espiritual, não é menos verdade que sua educação deve ter
contribuído para esta realidade.
(Continua...)
1
(XAVIER/Humberto de Campos 1982), Cap. 30
2
Cf. Mateus, 26: 53
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