#PaiNosso
Introdução
A oração do Pai-Nosso, ensinada por Jesus no Sermão da Montanha, é mais do que um conjunto de palavras sagradas, é um mapa espiritual, capaz de orientar o ser humano em sua jornada interior e coletiva. Cada versículo dessa prece universal encerra ensinamentos profundos, que falam sobre confiança, fraternidade, perdão, humildade e entrega à vontade divina.
Este estudo busca explorar a riqueza espiritual dessa oração, versículo por versículo, unindo a leitura bíblica com reflexões inspiradas pela Doutrina Espírita. Através da análise do texto original grego, comparações entre os evangelhos de Mateus e Lucas, referências doutrinárias e comentários meditativos, o objetivo é proporcionar ao leitor uma compreensão mais clara, ampla e vivencial da oração que resume o Evangelho.
Que esta leitura seja não apenas informativa, mas transformadora, conduzindo o coração à essência da prece ensinada por Cristo.
⁹ Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; ¹⁰ Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; ¹¹ O pão nosso de cada dia nos dá hoje; ¹² E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; ¹³ E não nos induzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém. (Mateus, 6: 9 a 13)
Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome.
Pai nosso; Jesus nos ensina a nos dirigirmos a Deus como Pai, não apenas meu, mas nosso. Isso evoca uma fraternidade universal. Cada vez que dizemos essas palavras, reconhecemos que todos somos irmãos e irmãs perante Deus.
"Que estás nos céus"; — essa expressão não retrata Deus como um ser distante, isolado em um lugar inacessível. Pelo contrário, ela nos convida a elevar o pensamento e o sentimento a planos mais altos, a uma realidade transcendental onde predominam o amor, a sabedoria e a harmonia divina. "Os céus", nesse contexto, simbolizam estados espirituais superiores, não coordenadas geográficas, mas graus de pureza e consciência. Onde quer que Deus manifeste sua presença — e Ele está em toda parte —, ali também se torna céu, mesmo entre as sombras dos mundos inferiores, como nos lembra o Salmo 139:
⁸ Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também.
Santificado seja o teu nome; aqui não pedimos que Deus seja santo, Ele já é. O pedido é que o Seu nome seja reconhecido como santo. É um convite para que vivamos de maneira a honrar esse nome através dos nossos pensamentos, palavras e ações. Santificar o nome de Deus é tornar nossa própria vida um reflexo da Sua presença. Poderíamos assim orar:
Santo é o seu nome, que possamos santificá-lo através da nossa santificação.
Isso adiciona uma profundidade belíssima, é como se disséssemos: se eu viver com retidão e amor, eu dou testemunho da santidade de Deus. É a espiritualização da própria vida como forma de louvor.
Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu...
Esse trecho da oração carrega em si um apelo por transformação integral: no plano pessoal, coletivo e espiritual.
Venha o teu Reino; aqui, o "Reino" não é um território físico, nem um evento futuro distante. Trata-se de uma realidade divina, um estado de consciência onde reinam o amor, a compaixão, a justiça e a verdade. É o governo de Deus dentro de nós e entre nós, nos corações, nas relações humanas, nas estruturas sociais.
Ao dizermos essas palavras, não estamos apenas esperando que esse Reino chegue, estamos nos comprometendo a construí-lo:
"Senhor, que o teu Reino comece em mim."
Mas vale lembrar: todo Reino é regido por uma lei, e o de Deus não é exceção. O que o torna sublime é que sua lei não se impõe com autoridade externa, mas se inscreve suavemente na consciência, é a voz do bem, do amor, da verdade que pulsa no íntimo de cada ser.
Jesus resume essa lei com uma clareza desarmante:
"Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo." (Mateus 22:37–40)
Ele afirma que toda a Lei e os Profetas se sustentam nesses dois princípios.
Isso significa que entrar no Reino de Deus não exige rituais externos, mas sim uma disposição interna contínua: agir com justiça, viver o amor, estender perdão, cultivar a misericórdia e deixar que a vontade de Deus oriente nossas escolhas diárias.
Dizer "se quisermos estar no Reino, devemos cumprir a sua lei" é reconhecer que o Reino é feito de harmonia, e só habita nele quem se afina com essa vibração. Quem semeia amor, colhe Reino.
Jesus falava frequentemente do Reino como algo presente e futuro ao mesmo tempo.
"O Reino de Deus está entre vós." (Lucas 17:21) Mas também ensinava que ele ainda viria em plenitude. Isso nos coloca como semeadores da promessa: chamados a plantar hoje, com fé, o Reino que florescerá.
...seja feita a tua vontade; essa frase carrega um poder imenso, é um ato de entrega, de confiança e de comprometimento com o divino.
É um grande desafio dizer isso com o coração. É como orar o Salmo, 37: 5
Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará.
Muitas vezes queremos que seja feita a nossa vontade, mas aqui, Jesus nos convida a alinhar nosso querer com o querer de Deus, confiando que a vontade divina é sempre movida pelo amor e pela sabedoria, mesmo quando não a compreendemos de imediato.
...assim na terra como no céu; é como um chamado à unificação. Nos "céus", — ou nos planos superiores da criação — a vontade de Deus é vivida em plenitude, com harmonia e cooperação. Ao pedirmos isso para a terra, desejamos que essa ordem, esse equilíbrio e essa luz também se manifestem aqui: nas nossas escolhas pessoais, nas estruturas sociais, nas relações humanas.
Essa é uma oração para quem quer ser cocriador com Deus, não um espectador passivo. Ao dizer isso, estamos nos colocando como instrumentos:
"Senhor, que a Tua vontade tome forma através de mim."
E isso se alinha com o Espiritismo, que nos ensina que:
O progresso é lei, não apenas do indivíduo, mas dos mundos também. A Terra, hoje um mundo de provas e expiações, caminha rumo à regeneração, e isso depende do nosso esforço coletivo e moral.
Os mundos superiores são habitados por espíritos mais puros, que já vivem em harmonia com as leis divinas. Eles não enfrentam os conflitos e sofrimentos que aqui ainda existem, porque lá a vontade de Deus é vivida com naturalidade. Cumprir essa vontade, é o caminho: cultivando o amor, o perdão, a fé ativa, o serviço ao próximo… tudo isso prepara o solo para que nosso planeta se transforme.
Quando dizemos "Seja feita a tua vontade assim na Terra como no Céu", estamos declarando:
"Ajuda-nos a transformar a Terra num reflexo do teu amor, como já o são os mundos mais adiantados."
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje; esta súplica fala diretamente ao coração humano, pois toca aquilo que é mais essencial: o sustento: tanto do corpo quanto da alma.
No sentido material pedimos a Deus o necessário para viver: alimento, abrigo, saúde, trabalho, tudo aquilo que nos permite cumprir nossa jornada com dignidade.
- Interessante notar que pedimos o "pão de cada dia", e não excessos. Há aqui um ensinamento de confiança no hoje, de viver com simplicidade e fé no cuidado divino.
No sentido espiritual devemos pedir o "pão da vida" que é o alimento da alma. Jesus disse: Eu sou o pão da vida (João, 6: 48)
Se assim oramos, com esta consciência, mostramos que compreendemos essa passagem para além do plano físico. É um convite a nos alimentarmos espiritualmente todos os dias, pois a alma também sente fome, e só se sacia com o amor divino, com a prática do bem, com a busca sincera pela verdade.
Ao pedir "dá-nos hoje", reconhecemos nossa dependência diária de Deus, mas também reafirmamos nossa fé: Ele provê o necessário, no tempo certo.
A confiança filial em Deus: Quando dizemos "dá-nos hoje", estamos, na verdade, nos entregando à divina providência e aprendendo a viver um dia de cada vez, com o coração tranquilo, porque sabemos que Ele cuida de nós como um bom Pastor.
Isso lembra o Salmo 23:
"O Senhor é o meu pastor, nada me faltará."
Esse versículo da oração nos ensina a não nos angustiar pelo amanhã, como o próprio Cristo diz mais adiante em Mateus 6:34:
"Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo."
Há uma sabedoria profunda nisso: viver o presente com confiança, em vez de nos perder em preocupações futuras. A fé torna-se o pão que nos sustenta quando falta o visível.
Então, pedir "o pão nosso de cada dia" é um exercício diário de fé, gratidão e entrega, uma forma de alinhar nosso ritmo ao da providência divina.
Continua no Próximo Post: Reflexões Sobre A Prece do Pai Nosso - Final
Outro significado importante é o de igreja. Vem do grego ekklesia, que literalmente quer dizer reunião de pessoas, assembleia. É interessante que esta palavra aparece cento e quinze vezes no Novo Testamento, mas apenas três nos evangelhos, e todas em Mateus. O que nos dá a entender que a ideia de uma comunidade religiosa só surgiu após o desencarne de Jesus. espiritismoeevangelho.blogspot.com |
A afirmativa de Jesus está no presente: deles é o reino dos céus. É que a humildade nos conduz sempre a este estado de espírito. Não importa onde esteja ou como esteja, o humilde está sempre bem, pois vê em tudo a manifestação do Criador gerenciando todas as manifestações. Se agredido, vê no agressor não um adversário, mas um doente que precisa ser tratado, se a situação lhe ... espiritismoeevangelho.blogspot.com |
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