quinta-feira, julho 24, 2025

Reflexões Sobre A Prece do Pai Nosso - Final


 
                                                                         

#PaiNosso
 


E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores
E perdoa as nossas dívidas; este trecho da oração é um convite à transformação interior. Ele nos lembra que o caminho espiritual passa pela humildade e pelo perdão sincero.
Perdoa as nossas dívidas; aqui, reconhecemos que todos nós, de alguma forma, contraímos dívidas morais e espirituais ao longo da vida, com Deus, com o próximo e até conosco.
Ao pedirmos perdão, expressamos humildade e desejo de recomeçar, confiando na misericórdia divina como fonte de renovação.
...assim como nós perdoamos aos nossos devedores; este é o compromisso que transforma. Ao ligarmos o perdão que pedimos ao perdão que oferecemos, assumimos uma postura ativa: isso nos torna cocriadores da paz interior, quebrando os laços de ressentimento e nos libertando das correntes da mágoa.
No entendimento espírita, as "dívidas" representam também os débitos cármicos que trazemos de existências anteriores. Quando perdoamos com sinceridade, criamos condições para atenuar provas, harmonizar relações e desfazer vínculos negativos do passado.
Perdoar é um ato de coragem e caridade, um presente oferecido ao outro, mas também a nós mesmos. E é tão essencial, que este versículo foi o único da oração do Pai Nosso diretamente comentado por Jesus:

Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas. 
Mateus 6:14,15 (ACF)

O texto original em grego usa as palavras:
  • ὀφειλήματα (opheilēmata)[1] = dívidas, débitos, o que é devido
  • ὀφειλέταις (opheiletais) = devedores
Ou seja, a tradução mais literal seria:
"Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores."
Algumas versões usam "ofensas" ou "pecados" pois, em Lucas 11:4, onde Jesus também ensina a oração, o termo usado é diferente. Além disso, o termo "dívida" passou a ser entendido de forma simbólica, como aquilo que devemos moral ou espiritualmente, ou seja, nossas falhas, erros, pecados.
Assim, a expressão "dívidas" é mais fiel ao texto original de Mateus, e carrega um simbolismo profundo:
- Toda falta é uma dívida moral que contraímos diante da consciência e da Lei Divina.
E o perdão, nesse contexto, é como um acordo de misericórdia: Deus nos alivia da dívida, e nós somos chamados a fazer o mesmo com os outros.
E não nos induzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém. 
E não nos induzas à tentação; o texto grego original diz: kai mē eisenenkēs hēmas eis peirasmon[2]
Tradução literal:
"E não nos introduzas em tentação" ou "E não nos leves para dentro da provação"
  • εἰσενέγκῃς (eisenenkēs): forma do verbo eisphérō, que significa levar para dentro, introduzir, conduzir. Não tem o sentido de induzir com intenção maliciosa, como pode sugerir a palavra "induzas" em português moderno.
  • πειρασμόν (peirasmon): pode significar tentação, provação, teste. No contexto bíblico, muitas vezes se refere a situações que testam a fé ou o caráter, não necessariamente tentações no sentido moral apenas.
 Comparando as traduções:
Tradução
Expressão usada
Observação
ARC (Almeida Revista e Corrigida)
"Não nos induzas à tentação"
Pode sugerir que Deus provoca a tentação, o que não condiz com Tiago 1:13 ("Deus a ninguém tenta").
ARA (Almeida Revista e Atualizada)
"Não nos deixes cair em tentação"
Interpreta o sentido como proteção contra a queda, mas se afasta do verbo original.
Mais literal
"Não nos introduzas em tentação"
Fiel ao grego, mas exige interpretação cuidadosa para não sugerir que Deus tenta.

Conclusão espiritual
A tradução mais fiel ao grego seria algo como:
"Não nos conduzas para dentro da provação" ou "Não nos introduzas em tentação"
Mas o sentido espiritual é:
"Senhor, não permitas que entremos em situações que não estamos prontos para enfrentar, fortalece-nos para não sucumbirmos às provas."
Essa leitura harmoniza com a visão espírita de que as provações fazem parte do progresso, mas que podemos pedir a Deus força e discernimento para não cair nelas.
...mas livra-nos do mal; este pedido vai além da proteção contra perigos externos, trata, acima de tudo, do mal que ainda habita em nosso íntimo: orgulho, vaidade, egoísmo, intolerância… fragmentos da sombra que nos afastam do caminho do bem.
É uma súplica por amparo diante das influências negativas, inclusive de natureza espiritual, que encontram brechas em nossas fragilidades para nos desviar da luz. No entendimento espírita, esse apelo se conecta à assistência dos bons Espíritos, que socorrem aqueles que buscam sinceramente o bem e ajudam-nos a resistir ao assédio das forças inferiores.
Em essência, essa parte da prece é um chamado à vigilância consciente, mas não ao medo. Pois sabemos que não caminhamos sós. Deus, como Pai compassivo, estende Sua proteção, mas também nos convida a desenvolver força interior, cultivando escolhas alinhadas com o amor e a verdade.
Contudo, o maior dos males não é o erro moral isolado, mas o afastamento de Deus. Dessa ruptura nasce a desarmonia interior, a perda de direção, e a vulnerabilidade à tentação. Quando nos sentimos desconectados do Criador, o coração se desorienta.
Essa vivência espiritual é resumida com sabedoria pelo apóstolo Tiago:

"Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós." (Tiago 4:7 — ACF)

Submeter-se a Deus não é abdicar da liberdade, é exercer a liberdade com consciência. E resistir ao mal é cultivar a vigilância com fé. Quando Deus ocupa o centro de nosso ser, não há brechas para a escuridão.
...porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém; há fortes indícios de que essa parte final da oração: porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém,  seja um acréscimo posterior em algumas tradições manuscritas.
Os estudiosos dizem, que os manuscritos mais antigos e confiáveis do Evangelho de Mateus, como o Codex Sinaiticus e o Codex Vaticanus, não trazem essa doxologia no final do versículo 13. A maioria dos estudiosos bíblicos modernos considera que essa frase foi acrescentada posteriormente por escribas, provavelmente como uma forma litúrgica de encerrar a oração com louvor, algo comum nas práticas judaicas e cristãs da época. Apesar disso, ela aparece em muitas traduções tradicionais, como a Almeida Revista e Corrigida, e foi incorporada à prática devocional cristã ao longo dos séculos.
Do ponto de vista espiritual, mesmo sendo um acréscimo, essa doxologia reafirma a soberania de Deus ("teu é o Reino"), reconhece Seu poder absoluto, e rende glória eterna ao Criador. Ou seja, mesmo não sendo parte do texto original de Mateus, ela não contradiz o espírito da oração, pelo contrário, a encerra com reverência e exaltação.
É preciso considerar que, mesmo os elementos aparentemente "acrescentados" podem carregar um propósito pedagógico, moral e espiritual quando guiados pela presença do Espírito da Verdade.
No contexto das três revelações:
  • A primeira, com Moisés, trouxe a Lei.
  • A segunda, com Jesus, revelou o amor em sua forma mais elevada.
  • E a terceira, com o Consolador prometido — o Espiritismo —, veio esclarecer, aprofundar e resgatar o espírito da letra, ajudando-nos a discernir o sentido mais puro das palavras do Evangelho.
Assim, se essa doxologia foi preservada, é porque há um ensinamento ali a ser colhido, mesmo que ela não constasse no manuscrito original. E talvez esse ensinamento seja justamente o de fechar a prece em louvor, elevando a alma:
"Pois teu é o Reino, o poder e a glória, para sempre."
Um lembrete de que, apesar das súplicas, tudo converge para Deus, e é a Ele que entregamos nossa jornada, com confiança, gratidão e reverência.

 
Comparação da Oração entre Mateus e Lucas
Elemento da Oração
Mateus
Lucas
Invocação
Pai nosso, que estás nos céus
Pai
Santificação
Santificado seja o teu nome
Santificado seja o teu nome
Reino
Venha o teu Reino
Venha o teu Reino
Vontade de Deus
Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu
(omitido)
Pão diário
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje
Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano
Perdão
Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores
Perdoa-nos os nossos pecados, pois também perdoamos a todo aquele que nos deve
Tentação
Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal
Não nos deixes cair em tentação
 
 
Observações importantes:
  • A versão de Lucas é mais concisa, com cinco petições, enquanto Mateus apresenta sete.
  • Lucas não menciona explicitamente a vontade de Deus sendo feita "na terra como no céu", nem inclui a doxologia final "pois teu é o Reino…".
  • Em Lucas, o termo usado é "pecados" (ἁμαρτίας), enquanto em Mateus é "dívidas" (ὀφειλήματα), o que
Do ponto de vista espírita, a brevidade de Lucas pode ser vista como uma forma mais direta, talvez mais próxima da oralidade original de Jesus. O que é mais breve pode carregar a essência mais pura, sem adornos litúrgicos posteriores. Mas o Espiritismo nos convida a não desprezar nenhuma forma, pois todas as palavras de Jesus, mesmo que transmitidas com variações, foram inspiradas e preservadas sob a tutela do Espírito da Verdade. Assim, tanto Mateus quanto Lucas são fontes legítimas de luz.
Conclusão
Ao concluir este estudo, renovamos a certeza de que o Pai Nosso não é apenas uma oração, é um caminho, que conduz o espírito à luz do Evangelho. Cada súplica é um convite à reforma íntima, à comunhão com Deus e à vivência do amor em sua expressão mais elevada.
Quando oramos com consciência e sinceridade, nos tornamos colaboradores da paz, da justiça e da esperança no mundo. E como ensinou o próprio Jesus, "o Reino de Deus está dentro de vós". Que cada palavra desta oração se torne vida em nós, e que, pela vivência do bem, possamos santificar o nome de Deus com nossa própria existência.
Que este estudo possa servir como instrumento de elevação, consolação e inspiração, e que a oração do Pai Nosso continue sendo — em todos os tempos e corações — uma ponte entre o humano e o divino.
   #OraçãoDiminical #EvangelhoSegundoOEspiritismo #JesusEnsinou #TextosSagrados


[1] Para uso dos termos gregos acessamos: NEPE Brasil. Bíblia Interlinear – Mateus 6:12. Disponível em: https://search.nepebrasil.org/interlinear/?chapter=6&livro=40&verse=12. . Acesso em: [07/07/2025].
[2] Mais uma vez, para referências para o texto grego e análise dos termos consultamos:
1. Texto Interlinear Grego
2. Concordância de Strong





Outro significado importante é o de igreja. Vem do grego ekklesia, que literalmente quer dizer reunião de pessoas, assembleia. É interessante que esta palavra aparece cento e quinze vezes no Novo Testamento, mas apenas três nos evangelhos, e todas em Mateus. O que nos dá a entender que a ideia de uma comunidade religiosa só surgiu após o desencarne de Jesus.
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A afirmativa de Jesus está no presente: deles é o reino dos céus. É que a humildade nos conduz sempre a este estado de espírito. Não importa onde esteja ou como esteja, o humilde está sempre bem, pois vê em tudo a manifestação do Criador gerenciando todas as manifestações. Se agredido, vê no agressor não um adversário, mas um doente que precisa ser tratado, se a situação lhe ...
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