Em uma missão
espiritual não há como prescindir da fé. Ela é componente
essencial para que tudo aconteça como programado pelo Alto.
Já comentamos sobre
esta virtude em Maria quando da assimilação do conteúdo da
revelação do anjo a ela explicando-lhe a concepção. Mas há
outros momentos importantes que não podem deixar de ser destacados e
que nos ajudarão a compreender o quanto esta missionária era
preparada para realizar a tarefa mais desafiadora de todos os tempos,
a de educar ninguém mais, ninguém menos, que o Governador
Espiritual do Orbe.
José e Maria cumpriam
rigorosamente todos os preceitos judaicos. Circuncidaram o menino no
oitavo dia conforme mandava a lei, e ao completarem os dias da
purificação da mãe, o que ocorria trinta e três dias após1,
levaram Jesus ao templo, em Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao
Senhor2.
Lá encontraram um
homem já idoso, chamado Simeão, que ao ver o menino, inspirado
realiza grande profecia. Entre outras coisas diz ele a Maria:
Eis que este menino está
destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em
Israel e para ser alvo de contradição (também uma espada
traspassará a tua própria alma), para que se manifestem os
pensamentos de muitos corações.3
Imaginemos a cena.
Maria, acompanhada do marido e do filho, estava cansada de uma viagem
longa e feita com muitas dificuldades. Ela estava ainda no período
do resguardo. Deveria estar fraca e altamente sensível…
Apesar de Simeão
exaltar a grandeza espiritual do menino sua profecia não foi nada
agradável. Ele, Jesus, estava destinado tanto para ruína
como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de
contradição.
Isto pressupunha uma
vida de muitas apreensões, de dores e sofrimentos. A nação judaica
era rigorosa quanto à tradição religiosa.
O anjo havia dito que
ele seria Rei, que herdaria o trono de Davi, talvez naquele momento
ela não tenha percebido que para atingir este fim ele teria uma vida
de conflitos, de lutas e de perigos. Agora aquele homem inspirado
dizia que ele seria alvo de contradições que elevaria alguns – o
que se pressupõe eram os simples -, e que também arruinaria muitos,
e aqui podemos depreender que eram os da elite, os do poder.
E ainda diz mais, com
referência ao sofrimento dela própria, uma espada traspassará a
tua própria alma.
Para quem era profunda
conhecedora das Escrituras conforme vimos pelo Magnificat, ela
deve ter entendido na hora a que sacrifício estariam submetidos ela
e seu filho.4
A profecia se cumpriu
no tempo, mas no coração de Maria deve ter acontecido naquele
instante mesmo. Como suportaríamos uma situação desta? Se algo
parecido acontecesse conosco, isto não atrapalharia a educação de
nosso filho?
Vejamos que são duas
situações opostas que acontecem com ela; em qualquer delas
estaríamos em dificuldades e talvez comprometidos na realização da
missão.
Primeiro o anjo lhe
antecipa a vitória. Ela seria mãe do Filho de Deus, ele herdaria o
trono de Davi e reinaria para sempre. Tal informação poderia ser
para ela, se não fosse muito vigilante, pedra de tropeço, pois a
vaidade poderia vir à tona e comprometer todo o processo.
Depois Simeão lhe fala
de lutas incessantes, até mesmo de um provável assassínio de seu
filho mostrando a ela que o final da história talvez fosse trágico.
Este nível de
informações, até contraditórias, dependendo do ângulo em que as
analisarmos, não tenderiam a prejudicar a formação do menino, já
que ela poderia tentar mudar o seu destino?
Se nós soubéssemos
que o nosso filho iria passar por um processo de grande dificuldade,
de provável morte por incompreensão de muitos, mesmo que
soubéssemos que tudo isto era Desígnio do Altíssimo, o que
faríamos? Ajudaríamos Deus em seu projeto, ou tentaríamos evitar o
“pior” para o nosso filho amado, mudando o seu destino?
Dizemos assim, porque
muitas vezes, mesmo não sendo numa questão tão grave quanto esta,
priorizamos para os nossos tutelados, uma boa escola, boas
companhias, uma profissão adequada, mas não visando seu crescimento
espiritual e sim um futuro promissor através de um emprego rentável,
onde através de um salário alto pudesse manter conforto e
estabilidade material.
Falamos muito de
espiritualidade, mas na maioria das vezes a segurança desejada
pensamos estarem nas conquistas transitórias, e assim as perseguimos
ardentemente.
Jesus veio mudar este
paradigma, e para tal tinha de dar o exemplo. Aqueles a Ele
vinculados e que vieram para auxiliá-Lo, fizeram do mesmo modo:
sacrifício como instrumento de libertação.
Hoje nós tentamos
distorcer o entendimento e falamos em prosperidade, porém queremos
prosperidade material esquecendo que a fé se manifesta em qualidade
e em maior escala é na carência e nas dores.
Moisés era um
disciplinador – primeiro passo do processo educativo, a
disciplina antecede a espontaneidade5
-; Jesus veio como educador; Kardec como pedagogo; desta forma,
temos de compreender que este foi um projeto traçado por Deus para
educar a alma, o Espírito imortal. Maria só pôde ser peça chave
deste processo, sendo também educadora, e de Jesus, porque
compreendeu o Mecanismo Divino, e a ele se ajustou fazendo-se serva
do Senhor.
Ela teve a intuição
da missão e a ousadia de executá-la. Quando não compreendia a
superioridade do filho tinha humildade para guardar a lição em seu
coração6
ou simplesmente dizer: fazei tudo o que ele vos disser7.
O melhor entre todos os educadores é aquele que não se cansa de
aprender, e a isso se dedica dia a dia.
(Continua...)
1
Levítico, 12: 4
2
Lucas, 2: 22
3
Lucas, 2: 34 e 35
4
Cf. Zacarias, 12: 10
6
Cf. Lucas, 2: 19 e 51.
7
João, 2: 5
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