…e andai em amor, assim como Cristo também nos amou e se entregou por nós a Deus, como oferta e sacrifício de odor suave. (Efésios, 5: 2)
E andai com amor; como já comentamos em outros pontos trata-se de uma expressão simbólica onde andar quer dizer uma forma de conduta. E conduzir-se em amor é o modelo evangélico que tem em Jesus sua expressão máxima.
É objetivo de todo aquele que deseja ser seguidor do Cristo aprender com Ele e viver seus ensinamentos e deste modo tornar-se melhor. Sendo assim viver em amor, andar em amor, é a síntese de todo este processo educativo é a nossa realização finalística que devemos perseguir como meta.
Assim como Cristo também nos amou; esta é a tônica do Novo Mandamento de Jesus, amar como Ele nos amou e ama.
Trata-se de uma nova proposta. O amor humano expressa um desejo de amar e ser amado, este é o amor dos imaturos espiritualmente falando, o que condiciona a atitude de dar à de receber. Em geral só se ama aquele que nos satisfaz os desejos e aquele que de uma forma ou de outra nos é simpático e agradável.
O amor de Jesus - como Cristo também nos amou - é diferente. Ele inaugura uma nova forma de amar que é o entregar-se a si mesmo por amor, e tal fato pressupõe o sacrifício.
A literatura hebraica que é toda simbólica viu em Abraão a prefiguração desta proposta. Para o Novo Testamento os dois maiores sacrifícios são o de Deus que deu o seu Filho amado em sacrifício para que através Dele tivéssemos acesso à Vida Eterna, há aqui uma analogia com o sacrifício de Abraão entregando seu filho Isaac em holocauso; o segundo maior sacrifício é o de Jesus que através de sua própria imolação realizou o projeto de Deus: e se entregou por nós a Deus
O sacrifício a Deus está presente em toda história da humanidade e ele é claramente expresso na literatura judaica. Podemos entendê-lo como expiação, como ação de graças, ou para se obter um favor do Criador. Há na consciência do Espírito em queda uma necessidade de reparação, e desde o princípio ele entende que esta recomposição se dá por meio de uma expiação para obter-se a graça novamente.
Jesus, como divisor de águas, inicia uma nova fase onde o sacrifício deixa de ser exterior para ser o de si próprio. A Doutrina Espírita explica melhor o porquê quando nos ensina que não há transferência de responsabilidades; ora se quem errou foi o Espírito, ele é quem deve expiar visando sua recuperação, não tem função mais o "bode expiatório", cada um é responsável por suas próprias atitudes inadvertidas.
Portanto, é preciso compreender que nada na vida de Jesus foi à toa, tudo tem a sua razão de ser dentro de Sua Pedagogia Superior. Se para atingir a ressurreição, Ele que já era ressurrecto, teve de se imolar na cruz, devemos ver neste passo nossa necessidade de tudo suportar em favor de nossa libertação. Este é apenas o primeiro passo.
Dizemos assim, pois dissemos "tudo suportar" que representa a disciplina que antecede à espontaneidade, conforme observação de Emmanuel, pois o que o Apóstolo da Gentilidade nos traz neste verso já está um pouco adiante: como oferta e sacrifício de odor suave.
Paulo joga muito bem com as palavras, ele tira a expressão - odor suave [agradável a Deus] - do Antigo Testamento, dando a ela um conceito do Novo, representando o amor de Cristo, o que fez com que Ele se sacrificasse em paz e harmonia com Deus.
Isso se dá quando usando da compreensão como virtude superior entendemos o mecanismo universal de redenção do Espírito e o realizamos em nós com espontaneidade. É a oferta de Abel que se sublima em Jesus, o dar de si mesmo, caminhar a segunda milha…
Podemos ainda como a título de breve conclusão valorizarmos ainda mais a frase que destacamos como a mais importante do versículo: entregou por nós a Deus.
Vemos a aí a síntese da trajetória de Jesus, e se assim analisamos, não é para termos um melhor conhecimento da história e deste personagem admirável, mas para que O pudéssemos ter como exemplo, o que aliás é um diferencial da Doutrina Espírita. Por ela Jesus deixa de ser mito ou ídolo a ser cultuado para tornar-se Guia e Modelo.
O verbo "entregar" - se entregou - deve ser por nós analisado e vermos em tudo oportunidade de nos entregarmos àquilo que estamos realizando. Ou seja, é o ato de nos doarmos por inteiro às nossas atividades, é tudo fazermos de coração, com alma. Só assim faremos o Bem, bem. E este é um dos objetivos, qualidade total.
Com Jesus esta entrega ganha um novo caráter, por quê? Porque ele se entrega por nós, isto é pela humanidade. É um ato de amor, onde o que é levado em conta não é o interesse pessoal. Jesus não se entregou para fazer a alegria de Deus e assim evoluir um pouco mais, não, ele se entregou por nós, o objetivo Dele era através do exemplo nos instrumentalizar para que pudéssemos alcançar nossa própria libertação. Foi um ato supremo de doação, e como temos insistido é preciso encararmos tal situação como exemplo a aplicarmos em nossa vida, senão, qual o objetivo do Evangelho ou de Jesus ter vindo a nós?
E para fechar a conclusão temos que Ele se entregou a Deus. Não foi uma entrega qualquer, nem a qualquer pessoa ou objetivo, mas a Deus, no sentido de andar dentro de Sua Lei.
Existem aí vários exemplos a serem seguidos, mas por enquanto vamos ficar com apenas um. Quando tudo fizermos por algo, e sentirmos que não temos a condição de nada mais realizarmos, ou seja, que nos escapa a possibilidade de mais fazermos, é sinal que devemos entregar o processo a Deus, é aí que Ele vai começar a falar e a operar mais efetivamente. Quando depende de nós, nós somos quem devemos fazer, mas quando não, é Ele quem age, e é nesse momento que na maioria das vezes é de maior angústia e sofrimento, é que Ele mais se faz presente.
Nos entreguemos a Deus e aquietemos o nosso coração.
Feliz Natal...
Nota:
- Levítico, 4: 31
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