segunda-feira, julho 16, 2012

Batismo, Um Desafio Cristão






Batismo e Reencarnação: Uma Reflexão Espírita à Luz do Evangelho

“Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal.” (Isaías 1:16)

O tema do batismo sempre desafiou nossa compreensão, especialmente quando buscamos alinhá-lo ao entendimento evangélico e à visão espírita. As religiões cristãs tradicionais praticam o batismo de diferentes formas, enquanto o Espiritismo — também de origem cristã — não o considera necessário. Com quem está a razão?

João Batista, Espírito de elevada evolução e precursor de Jesus, batizava. E mais: anunciava que Jesus também batizaria. No entanto, o evangelista João afirma que Jesus não batizava diretamente, mas sim seus discípulos. Polêmicas à parte, o evangelho de Mateus registra que, antes de sua ascensão, Jesus orientou seus seguidores a fazerem discípulos e batizá-los em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo[i]. E como o próprio Cristo afirma: “A Escritura não pode ser anulada.”

Sendo Jesus o Guia e Modelo da humanidade, conforme nos ensinam os Espíritos codificadores, e sendo Seu Evangelho o roteiro essencial para nossas vidas, não deveríamos nós, espíritas, considerar o batismo como parte de nossa jornada espiritual?

A Origem e o Significado do Batismo

A palavra batismo vem do grego baptizo, que significa mergulhar ou imergir, derivando de bapto, com sentido semelhante. Um exemplo curioso vem do poeta e médico grego Nicander (200 a.C.), que ao descrever uma receita de picles, usa os dois termos: primeiro bapto (imersão temporária em água fervente), depois baptizo (imersão definitiva em vinagre). A diferença é clara: baptizo implica transformação permanente.

Historicamente, há registros do batismo na Caldeia, na Grécia Antiga e no Judaísmo. Os judeus praticavam o mikvá, banho de purificação, em diversas ocasiões: conversão de gentios, rituais de limpeza, preparação para o Templo. João Batista, portanto, não inventou o batismo, mas o ressignificou: seu batismo era moral, não ritual. Era único, não repetitivo. Simbolizava arrependimento e conversão definitiva.

João anunciava que seu batismo seria superado por outro — o de Jesus — que viria com fogo e Espírito. O batismo com água representa a justiça; o de Jesus, o amor. E como o amor é maior que a justiça, o batismo do Cristo transcende o do Precursor.

Batismo e Reencarnação: Um Paralelo Espiritual

Podemos compreender o batismo de João como símbolo da reencarnação. O Espírito, ao reencarnar, mergulha no líquido amniótico, inicia sua jornada física e passa por provas para se purificar e evoluir. A reencarnação é, portanto, a maior expressão da justiça divina — é o batismo da alma no cadinho da vida.

Dessa forma, todos os filhos de Deus — espíritas, cristãos ou não — devem se batizar. Mas não necessariamente por meio de rituais externos. O verdadeiro batismo é espiritual, é a transformação interior.

Mas se o batismo de João não se repetia, como pode simbolizar a reencarnação, que é múltipla?

A resposta está na codificação espírita:

“Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.” (O Livro dos Espíritos, questão 167)

Cada encarnação é um novo passo. Quando o Espírito se purifica, não precisa mais reencarnar. Assim como o batismo de João era único, a reencarnação também tem um fim: a perfeição.

O Batismo com Fogo e Espírito Santo

Jesus nos alerta: “Não vim trazer a paz, mas a espada.” A espada representa a luta íntima, o esforço consciente de transformação. O batismo com fogo é a purificação pelas dores, desafios e provas da vida. É o cadinho onde nossas imperfeições são queimadas, como o ouro na fornalha.

Mas para que esse batismo seja autêntico, é preciso que seja vivido com consciência e alegria — como aplicação prática das lições do Mestre.

Só após esse batismo é que podemos aspirar ao batismo com o Espírito Santo: a santificação pela vivência plena das virtudes evangélicas. Ser batizado com o Espírito é tornar-se colaborador ativo do Cristo, ajudando na redenção das almas.

Batizar em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo

A orientação de Jesus para batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo representa o plano divino de salvação. É a implantação do Evangelho no coração dos filhos de Deus. É a nossa colaboração com o Criador na construção de um mundo regenerado.

Compreendendo essa dinâmica espiritual, o salmista expressa com beleza e humildade:

“Devolve-me o júbilo da tua salvação, E que um espírito generoso me sustente. Vou ensinar teus caminhos aos transgressores, Para que os pecadores voltem a ti.” (Salmos 51:12-13)

Essa súplica revela o movimento essencial do Espírito em processo de redenção: receber a luz, sustentar-se nela e compartilhá-la com os que ainda caminham na sombra. É o ciclo da evolução consciente.

Na visão espiritual, Deus Pai é a Fonte Irradiadora de todo Bem e de todo Amor. O Filho, representado por Jesus, é a expressão operacional desse Amor — o Verbo encarnado que nos guia. O Espírito Santo representa a comunhão dos Espíritos redimidos, que vibram em perfeita sintonia com o Criador e colaboram na obra divina. São os trabalhadores do Alto, que, em uníssono com o Pai, atuam em favor da humanidade.

Assim, batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo é muito mais do que um rito: é um convite à transformação integral. É o chamado para que cada criatura se alinhe aos três níveis da Trindade Universal — recebendo a irradiação divina, agindo como filho responsável e tornando-se Espírito redimido pela recomposição da própria consciência.

Essa é a marcha da evolução: saímos do Pai como centelhas divinas, tornamo-nos filhos conscientes e, ao final da jornada, retornamos ao Pai como Espíritos Santos, plenos e realizados.

🌿 Conclusão: O Batismo como Renascimento Espiritual

O apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos, sintetiza com profundidade:

“Ou não sabeis que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? Portanto, pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova.” (Romanos 6:3-4)

O verdadeiro batismo não é um ritual externo, mas uma disposição moral profunda. É conversão, é renascimento, é vida nova. E ninguém pode realizar esse processo por nós — ele é pessoal, íntimo, de dentro para fora.

Paulo nos propõe três etapas espirituais: morte, sepultamento e ressurreição.

  • Morte: o fim dos desejos inferiores, dos hábitos que nos afastam da luz, das ilusões da transitoriedade.
  • Sepultamento: o rompimento definitivo com os laços fluídicos do passado, a desvinculação das amarras mentais que nos prendem à matéria.
  • Ressurreição: o surgimento da Nova Criatura, o Espírito que se recompõe, que renasce em santidade e consciência, pronto para viver em plenitude.

Esse processo pode parecer doloroso — afinal, morrer para o mundo exige coragem. Mas é justamente essa morte que nos conduz à Vida Verdadeira, à Vida Abundante, à Vida Eterna.

O batismo, portanto, é o rompimento com a velha criatura, com o ego dominado pelas paixões, com o príncipe deste mundo. É o nascimento do Espírito livre, senhor de si mesmo, herdeiro do Reino, filho de Deus em plenitude.



[i] Cf. João, 4: 2

 

 

Bibliografia

A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Ed. Paulinas, 1992.
BibleWorks For Windows, Versão 7.0.012g. BibleWorks, 2006.
Dicionário Bíblico Strong . Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Rio de Janeiro: FEB, 1944.
. O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980.



1 Cf. João, 4: 2
2 Mateus, 28: 19
3 João, 10: 35
4 Dicionário Bíblico Strong . Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002
5 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Comentário da questão 171
6 Idem, Q 168
7 Id., ib. Q. 132
8 Mateus, 3: 7,8 e 10
9 João, 1: 31
10 KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Rio de Janeiro: FEB, 1944. I Parte, cap. VII
11 Cf. Mateus, 10: 34
12 Cf. Mateus, 28: 19
13 Salmo, 51: 14 e 15
14 Romanos, 6: 3 e 4

2 comentários:

  1. Os espíritas fazem uma análise teológica fraca e superficial . De certo o batismo era uma prática que antecedia o cristianismo, mas o tema não se limita a isto. A Igreja primitiva continuou praticando o batismo mas com novo sentindo, como parte da caminhada cristã . Batismo não é o fim nem o início da carreira cristã . É um passo do trecho. Vcs espíritas interpretam o tema de uma forma isolada . Leiam com atenção Atos dos apóstolos . Leiam as cartas paulinas . O apóstolo Paulo mesmo batizou muitas pessoas . É aí , como fica ?

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  2. Anônimo11:00 AM

    298. — Considerando que as religiões invocam o Evangelho de Mateus,3:11 ( † ) para justificar a necessidade do batismo em seus característicos cerimoniais, como deverá proceder o espiritista em face desse assunto?

    — Os espiritistas sinceros, na sagrada missão de paternidade, devem compreender que o batismo, aludido no Evangelho, é o da invocação das bênçãos divinas para quantos a eles se reúnem no instituto santificado da família.

    Longe de quaisquer cerimônias de natureza religiosa, que possam significar uma continuação dos fetichismos da Igreja Romana, que se aproveitou do símbolo evangélico para a chamada venda dos sacramentos, o espiritista deve entender o batismo como o apelo do seu coração ao Pai de Misericórdia, para que os seus esforços sejam santificados no trabalho de conduzir as almas a ele confiadas no instituto familiar, compreendendo, além do mais, que esse ato de amor e de compromisso divino deve ser continuado por toda a vida, na renúncia e no sacrifício, em favor da perfeita cristianização dos filhos, no apostolado do trabalho e da dedicação.

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