Este é outro tema de
grande importância na teologia paulina e que não pode ficar de fora
se pretendemos comentar o pensamento de Paulo sob a perspectiva
espírita.
Sobre justificação
pela fé já foram escritos vários livros, verdadeiros tratados
teológicos. O tema é tão importante que Lutero baseia a Reforma
Protestante na questão de como se alcança esta justificação.
Não pretendemos fechar
questão sobre o assunto e nem achamos que temos condições de
debater o assunto com a profundidade necessária, entretanto é
preciso realizar alguns comentários dentro de nosso objetivo que é
estudar o Evangelho à luz da Doutrina Espírita mantendo sempre o
enfoque reeducativo.
A primeira vez que
Paulo trata o assunto é na Carta aos Gálatas sendo que em Romanos
ele irá aprofundar a questão.
Vamos tomar por base a
citação de Gálatas:
Sabendo, entretanto, que o homem não se justifica pelas obras da
lei, mas pela fé em Jesus Cristo, nós também cremos em Cristo
Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras
da Lei, porque pelas obras da Lei ninguém será justificado.
(Gálatas, 3: 16)
Como temos feito até
então, e para manter a simplicidade de nosso estudo faz-se
necessário conceituar o que seja justificação, obras da Lei, e
fé.
Justificação
deve ser compreendida no contexto judaico como o ato de ser feito ou
considerado justo. Quem irá justificar o homem é Deus. (Romanos, 3:
30).
Compreender isto é
fundamental, pois ser considerado justo é estar em comunhão com
Deus, é manter a Aliança com o Criador. Deus é Santo, sem pecados,
desta forma para estar em comunhão com Ele é preciso estar no
estado de santidade, sem afastar-se de Sua Lei.
E como se consegue
isto? Pelas obras? Não, Paulo é claro: pela fé em Cristo-Jesus.
Neste passo é
importante conceituar nossa segunda expressão: obras da Lei.
Lei é a
tradução da palavra grega nomos que é usada também para
traduzir Torah. Todavia aqui obras da Lei não significa as
obras da Torah em seu sentido espiritual de ensinamento que
transforma. Seriam as obras do legalismo judaico, da observação dos
preceitos puramente religiosos, como a circuncisão, a observação
do sábado, da abstinência de carne suína, dos rituais de
purificação, etc.
Nos dias de hoje seria
observar mais os preceitos que todas religiões têm do que a
observância da transformação moral, ou de autoiluminação, por
exemplo.
Sendo assim Paulo
combate todo tipo de discriminação ou exclusão em favor de uma
manutenção do estado de harmonia entre criatura e Criador.
Essencial desta forma
compreender o significado bíblico de fé seja no Novo
Testamento ou no Antigo onde fé é emunah.
Tanto o grego pistis,
quanto o hebraico emunah expressam fidelidade, confiança.
Não se trata de uma crença meramente intelectual, mas de um estado
de obediência, de comprometimento. Trata-se de uma fé operacional.
Todo o enfraquecimento
de compreensão do que seja fé em nosso vocabulário se deu pelo
motivo de que não existe em português um verbo que expresse o ato
de ter fé em seu sentido bíblico. Em português o verbo encontrado
que mais se aproximou foi “crer”, entretanto, este verbo não
expressa a totalidade do que é ter fé. Crer é apenas um componente
do ato de ter fé, e talvez um dos menores.
Outro ponto que tem
sido destacado pelos eruditos modernos e que têm ampla lógica e
concordância com o Espiritismo que tem Jesus não por ídolo ou
mito, mas como Modelo, é que Paulo talvez pensasse ao dizer fé
em Cristo-Jesus, não só o ato de ser fiel a Jesus, mas à
atitude de ter a fidelidade de Cristo. Assim, não seria simplesmente
ter fé em Cristo-Jesus, mas ter a fé de Cristo-Jesus, a mesma que O
levou a ser plenamente fiel ao Pai e aos Seus desígnios.
Foi por esta fidelidade
que Ele, Jesus, o Autor e Consumador da fé, trocou a alegria que lhe
estava proposta pela cruz da ignomínia1
e assim ensinar que o caminho da justificação passa pelo
testemunho de sacrificar-se em favor da evangelização dos outros
como forma de glorificar ao Pai e assim estar presente Nele sendo
declarado Justo.
1
Cf. Hebreus, 12: 2
2 comentários:
Gostei da explicação Claudio, me ajudou a entender este aspecto da carta de Paulo aos Romanos. Obrigado
Muito bom o artigo. Gostei muito das explicações apresentadas.
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