sexta-feira, novembro 21, 2025

O Evangelho por José Damasceno Sobral - A Vocação de Mateus



Mateus 9:9-13;
Cap. 24 – item 11, pág. 366;
 
"9 E Jesus, passando adiante dali, viu assentado na alfândega um homem chamado Mateus e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu. 10 E aconteceu que, estando ele em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores e sentaram-se juntamente com Jesus e seus discípulos. 11 E os fariseus, vendo isso, disseram aos seus discípulos; por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? 12 Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: não necessitam de médicos os sãos, mas sim, os doentes. 13 Ide, porém, e aprendei o que significa: misericórdia, quero e não sacrifício. Porque eu não vim para chamar os justos, mas para os pecadores, ao arrependimento." (Mt 9:9-13).
 
"E JESUS, PASSANDO ADIANTE DALI"
O episódio ocorreu em Cafarnaum. O Mestre sempre esteve em movimento: em seu tempo, visitava cidades e aldeias; hoje, sua mensagem se espalha por inúmeros meios, tornando viva a sua presença entre nós.
"VIU ASSENTADO NA ALFÂNDEGA UM HOMEM"
Lucas (5:27) acrescenta: "um publicano chamado Levi, sentado na coletoria". Os publicanos eram cobradores de impostos que antecipavam valores e depois os arrecadavam. Zaqueu também era publicano (Lc 19:1). Eram desprezados pelo povo, pois cobravam além do devido, justificando-se por possíveis prejuízos — e porque o dinheiro se destinava ao império romano. Nem todos agiam assim, mas o simples fato de cobrar impostos já era motivo de antipatia. Jesus, ao ver Mateus na coletoria, mostra que em qualquer lugar podem ser encontrados homens de boa vontade. Não devemos julgar uma classe inteira pelo comportamento de alguns. Mateus estava sentado, identificado com a postura egoísta do "venha a nós".
"CHAMADO MATEUS"
Marcos e Lucas o chamam Levi. Mateus significa "Dom de Jeová". Filho de Alfeu (Mc 2:14). A mudança de nome era símbolo de renovação: Simão tornou-se Pedro; Saulo, Paulo. Ainda hoje, algumas comunidades religiosas mantêm esse costume. Quando o Mestre cruza nosso caminho, sua presença nos incomoda se não estivermos dispostos a mudar de vida e enfrentar nossos conflitos íntimos.
"E DISSE-LHE: SEGUE-ME"
O convite é universal, feito a todas as criaturas. No imperativo, desperta entusiasmo e fortalece a disposição. Mas Jesus apenas convida: não força ninguém, respeita o livre-arbítrio. Muitos adiam a decisão, inventando desculpas. Outros querem ser cristãos sem mudar de vida. Mas não se pode servir a dois senhores.
"E, ELE, LEVANTANDO-SE, O SEGUIU"
Levantar-se não é apenas físico: é também mental e espiritual. É adquirir nova visão sobre pessoas, coisas e o mundo. Lucas acrescenta: "deixando tudo" (5:28). Seguir o Mestre exige abandonar o que contraria seus princípios: egoísmo, vaidade, orgulho, ostentação. Não se trata de abandonar família ou deveres, mas de renunciar ao apego e ao comodismo.
Esse ensinamento permanece atual. Mateus, provavelmente, possuía uma extensa lista de devedores registrada em seus pertences. "Deixar tudo" e seguir Jesus é também deixar nossas próprias listas de quem nos deve, seja material ou espiritualmente, permitindo que todas as coisas se tornem novas (Apocalipse 21:5).
"E ACONTECEU QUE, ESTANDO ELE EM CASA SENTADO À MESA..." (Mt 9:10)
Mateus, em alegria, ofereceu um banquete a Jesus (Lc 5:29). Como publicano rico, devia possuir casa ampla. Vemos aí sinais de transformação: antes, sentado na coletoria, apenas recebendo; agora, à mesa de sua casa, oferecendo. Antes, comodismo egoísta; agora, partilha e reflexão.
"CHEGARAM MUITOS PUBLICANOS E PECADORES"
Eram seus companheiros habituais. Nossa mudança deve influenciar nossos amigos. "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens..." (Mt 5:16). O banquete revela o contentamento de Mateus.
"E SENTARAM-SE COM JESUS E SEUS DISCÍPULOS"
Jesus e seus discípulos, junto de Mateus e seus amigos. Comer juntos significa afinidade e proximidade. Os pecadores eram os que viviam fora dos rituais, assumindo sua condição sem máscaras, o que escandalizava os fariseus. O Evangelho, ao entrar em nosso coração, encontra nossas imperfeições: os "comensais" internos. Mateus deixou tudo; nós também precisamos de decisão firme para abandonar o que nos prende.
"E OS FARISEUS, VENDO ISTO..." (Mt 9:11)
Os fariseus eram os intelectuais da época. Em nós, representam a razão que questiona. Não buscavam aprender, mas semear dúvidas e enfraquecer os discípulos. Perguntaram: "Por que come o vosso Mestre com publicanos e pecadores?". Eles só conviviam com seus iguais; Jesus, ao contrário, buscava os pobres, enfermos e necessitados.
Naquele tempo, banquetes tinham portas abertas: convidados se sentavam, e curiosos podiam entrar e observar. Comer junto significava comunhão. A verdadeira transformação deve partir de dentro, do coração.
"JESUS, PORÉM, OUVINDO, DISSE-LHES..." (Mt 9:12)
Conhecendo a malícia dos fariseus e para proteger seus discípulos, Jesus respondeu: "Não necessitam de médico os sãos, mas sim os doentes". Ele é o Médico das almas. Publicanos, pecadores e até os fariseus eram enfermos espirituais. Mais grave que a doença do corpo é a do espírito. Pior ainda é o doente que se julga saudável: cegos que dizem ver, surdos que afirmam ouvir, mortos que aparentam vida.
Jesus está presente para todos:
  • "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei." (Mt 11:28)
  • "Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá." (Jo 11:25)
"Ide, porém, e aprendei o que significa: misericórdia, quero e não sacrifício. Porque eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento." (Mt 9:13)
"IDE, PORÉM, E APRENDEI O QUE SIGNIFICA"
Paciência, tolerância, misericórdia e perdão muitas vezes são vistos como sinais de fraqueza ou falta de atitude. No entanto, quando Jesus ordena: "Ide e aprendei", Ele nos lembra que apenas a vida, com seus altos e baixos, é capaz de ensinar o verdadeiro sentido dessas virtudes. É pela experiência que adquirimos uma visão mais humana e compassiva dos acontecimentos.
"MISERICÓRDIA QUERO E NÃO SACRIFÍCIO"
Praticar misericórdia é muito mais difícil do que oferecer um sacrifício ritual. O povo judeu estava acostumado a sacrificar bois, ovelhas e pombos — uma religião exterior, baseada em ritos. Hoje, esse comportamento continua, muitas vezes reduzido à simples presença em cultos. Mas Jesus nos mostra que o essencial não é dar coisas, e sim dar-se: oferecer o coração, a compreensão e o amor.
"PORQUE EU NÃO VIM A CHAMAR OS JUSTOS"
Os justos não necessitam de chamado, pois já se encontram alinhados com o bem. Mas é importante lembrar que existem "justos relativos": qualquer pessoa que, em determinado momento, vive com consciência tranquila e coração em paz. Essa condição nos conforta e fortalece, mas não deve servir de acomodação.
"MAS OS PECADORES AO ARREPENDIMENTO"
Aqui Jesus se revela como o Médico das almas. O pecado — o afastamento do bem — é a raiz de todos os males. Deus estabeleceu suas leis, e elas mesmas nos corrigem quando não as seguimos. O ideal é viver de tal forma que nossa conduta dispense a necessidade de vigilância externa, como a presença de um policial. Arrepender-se é interromper a queda e iniciar a subida: um movimento de retorno ao equilíbrio e à harmonia.
  • "Digo-vos que haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." (Lc 15:7)
  • "Porque eu quero misericórdia, e não sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos." (Oseias 6:6)
  • "Esta é uma palavra fiel e digna de toda aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal." (1Tm 1:15)
Referências

Texto atualizado por Cláudio Fajardo (CF) a partir de anotações da reunião de José Damasceno Sobral em Belo Horizonte, 7 de junho de 1979. As anotações em vermelho são atuais feitas por mim (CF)

 
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