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"Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel." (Atos 9:15 – ARC)
Na tessitura espiritual das Escrituras, há personagens que, embora separados por séculos e contextos, revelam paralelos profundos em suas jornadas com Deus. É o caso de Jonas, o profeta do Antigo Testamento, e Paulo de Tarso, o apóstolo dos gentios. Ambos foram chamados para missões que transcendiam fronteiras, ambos resistiram ao chamado, e ambos, após um período de recolhimento e transformação, tornaram-se instrumentos vivos da misericórdia divina.
Jonas: o profeta que fugiu
O livro de Jonas, considerado por muitos teólogos modernos como uma parábola ou ficção didática, não tem como objetivo principal narrar fatos históricos, mas transmitir verdades espirituais. Jonas é convocado por Deus para pregar em Nínive, cidade estrangeira e símbolo da impiedade. Em vez de obedecer, ele foge para Társis, embarcando numa jornada de recusa e resistência.
Mas a fuga de Jonas não é indiferente ao plano divino. A tempestade que se segue não é apenas climática, é espiritual. Ela representa o conflito entre a vontade humana e a vontade de Deus, o desequilíbrio que se instala quando o espírito se afasta de sua missão. No simbolismo bíblico, o mar é muitas vezes figura do inconsciente, do caos, da travessia interior. A tormenta, portanto, é o reflexo externo da crise íntima de Jonas, que tenta escapar do compromisso assumido no plano espiritual.
A tempestade também cumpre uma função pedagógica: despertar Jonas para a gravidade de sua escolha. Ela obriga o profeta a reconhecer sua responsabilidade, a se entregar voluntariamente ao mar, ou seja, ao processo de transformação. É nesse momento que ele é engolido por um grande peixe, onde permanece por três dias, em silêncio e escuridão. É o tempo da reflexão, da morte simbólica do ego, da preparação para o renascimento. Ao sair do ventre do peixe, Jonas finalmente cumpre sua missão, e Nínive se converte.
E aqui reside um ponto singular: Jonas é o único profeta do Antigo Testamento enviado diretamente aos gentios. Os demais profetas falam ao povo de Israel, à casa de Judá, aos filhos da aliança. Jonas, porém, é enviado a um povo estrangeiro, considerado impuro, e sua mensagem provoca arrependimento coletivo. É uma antecipação da universalidade da misericórdia divina, a mesma que Paulo, séculos depois, levaria aos gentios com o Evangelho do Cristo.
Paulo: o apóstolo que perseguiu
Séculos depois, Paulo de Tarso, fariseu zeloso, persegue os cristãos com fervor. Mas no caminho de Damasco, é surpreendido pela luz do Cristo. Cai por terra, fica cego e em jejum por três dias, tempo idêntico ao de Jonas no ventre do peixe. É o momento de ruptura, de revisão interior, de renascimento espiritual.
Paulo, que antes combatia a fé, torna-se seu maior propagador. E assim como Jonas foi enviado aos gentios de Nínive, Paulo é escolhido para levar o Evangelho aos gentios de todo o mundo. Ele mesmo reconhece que sua missão já estava traçada no plano espiritual:
"Todavia, Deus me separou desde o ventre de minha mãe e me chamou por sua graça." (Gálatas 1:15)
Três dias de escuridão, três dias de renascimento
A analogia entre Jonas e Paulo se aprofunda nos três dias de recolhimento. Ambos passam por um período de suspensão da visão, Jonas no ventre do peixe, Paulo na cegueira física. Ambos são chamados a rever suas posturas, a renunciar à fuga ou à violência, e a abraçar a missão divina com humildade.
Esses três dias são úteros simbólicos, onde o velho homem morre e o novo homem nasce. São o intervalo necessário para que a alma, tocada pela luz, se prepare para servir.
Missão entre os gentios
Jonas é o único profeta do Antigo Testamento enviado diretamente aos gentios. Paulo é o apóstolo dos gentios, aquele que rompe as barreiras do judaísmo e universaliza o Evangelho. Ambos são instrumentos da misericórdia divina, levando a mensagem de salvação àqueles que estavam fora do círculo religioso tradicional.
A pedagogia divina
Jonas e Paulo revelam que Deus não impõe — educa. O chamado pode ser recusado, a missão pode ser adiada, mas o amor do Senhor é paciente e firme. Ele espera, transforma, e quando a criatura se recolhe ao silêncio das provas, o chamado ressurge com mais luz.
Ambos são testemunhos vivos de que a vontade divina não se frustra, e de que a resistência humana pode ser vencida pela força do amor.
Conclusão
Jonas e Paulo são parábolas vivas da reeducação espiritual. Um pela fuga, outro pela perseguição. Mas ambos, enfim, pela obediência. Que suas histórias nos inspirem a ouvir o chamado do Alto, mesmo quando ele nos leva para além das fronteiras do conforto. Porque é lá, no terreno da entrega, que a missão se cumpre e a alma se engrandece.
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