segunda-feira, fevereiro 10, 2025

Expressões Idiomáticas na Bíblia





As expressões idiomáticas são parte essencial de qualquer língua, carregando significados figurados que vão além das palavras literais. Na Bíblia, encontramos diversas expressões idiomáticas que, ao serem compreendidas, enriquecem nossa interpretação dos textos sagrados. Este estudo explora algumas dessas expressões, destacando seu contexto cultural e seu impacto na compreensão bíblica.
Expressões idiomáticas são frases específicas de uma língua, que apresentam sentido figurado.
Quando cada parte de uma expressão idiomática é traduzida para outra língua, essa expressão perde o seu sentido, porque ela não é formada por uma combinação de palavras com seu sentido literal.
As expressões idiomáticas, também chamadas de idiotismos, são usadas para nos expressarmos de forma mais cômica e persuasiva. A sua origem é cultural. Vejamos alguns exemplos em português:
a preço de banana: significa barato, fazendo referência ao preço acessível em que a banana é vendida no Brasil.
beijo de Judas: significa falsidade, fazendo referência ao fato de Judas ter dado um beijo a Jesus para o identificar aos soldados que o queriam prender.
agradar gregos e troianos: significa agradar grupos com interesses diferentes, fazendo referência à rivalidade histórica entre esses povos.
Nos idiomas bíblicos, hebraico, aramaico e grego temos muitas expressões idiomáticas. Quem lê a Bíblia precisa entender estas para poder compreender o sentido correto do texto. E os tradutores também precisam entendê-las para poder traduzi-las com exatidão.
Existem muitas expressões idiomáticas que têm origem na Bíblia e são usadas no cotidiano, mesmo por pessoas que não são ligadas a este livro, com isto, fica mais fácil entendê-las, pois a Bíblia influenciou muito a cultura e o idioma ao longo dos séculos.
  • Menina dos olhos: Refere-se a algo muito precioso e vem do Salmo 17:8, onde Davi pede a Deus para ser guardado como a menina dos olhos.
  • Num piscar de olhos: Usada para descrever algo que acontece muito rapidamente, essa expressão aparece em 1 Coríntios 15:52.
  • Pérolas aos porcos: Significa oferecer algo valioso a quem não tem condições de apreciar. Jesus usou essa expressão em Mateus 7:6.
    • Aqui podemos fazer uma comparação diferenciando esta expressão daquela que Jesus diz "dar coisas santas aos cães"! A expressão "pérolas aos porcos" geralmente significa oferecer algo valioso a quem não sabe apreciá-lo. Já "dar coisas santas aos cães" tem uma conotação semelhante, mas pode ser interpretada como dar algo sagrado ou importante a quem não tem a capacidade de entender ou valorizar. Há uma distinção sutil entre as duas: "pérolas aos porcos" para aqueles que têm conhecimento mas não o utilizam adequadamente, são recalcitrantes; "dar coisas santas aos cães" são aqueles que ainda estão no início de sua evolução e não têm o conhecimento necessário.
  • Cego guiando cego: Refere-se a seguir alguém que não tem conhecimento ou entendimento, mencionada por Jesus em Mateus 15:14.
  • Engolir sapo: Expressão usada para descrever a situação em que alguém precisa suportar algo desagradável sem reclamar. A origem dessa expressão está ligada a relatos bíblicos das pragas que atingiram o Egito no tempo de Moisés. Uma dessas pragas foi a infestação de rãs, que se tornaram um grande incômodo para os egípcios, inclusive aparecendo em seus pratos durante as refeições.
  • Comei as gorduras, bebei as doçuras: em Neemias 8:10 pode ser vista como uma expressão idiomática. No contexto bíblico, essa frase é um convite à celebração e à alegria. Neemias estava incentivando o povo a comemorar e a compartilhar suas bênçãos com os outros, especialmente com aqueles que não tinham nada preparado para si. A "gordura" e a "doçura" simbolizam os melhores e mais prazerosos alimentos disponíveis, representando a abundância e a generosidade. A mensagem central é que, em um dia consagrado ao Senhor, o povo deveria se alegrar e fortalecer-se na alegria do Senhor, compartilhando essa alegria com os necessitados.
Entretanto, existem outras expressões que podem, se não compreendidas, alterar o entendimento original.
"A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso." (Mateus 6:22-23)
Aqui, a expressão "olhos bons" deve ser interpretada como uma metáfora para generosidade e uma visão positiva da vida. Ter "olhos bons" significa ser uma pessoa generosa e altruísta, o que traz luz e positividade para toda a vida da pessoa. Por outro lado, "olhos maus" representam avareza e uma visão negativa, o que resulta em escuridão e negatividade.
Portanto, "olhos bons" não significa olhos que tenham uma boa capacidade física de ver, mas um olhar bom, baseado em bons sentimentos do coração.
Outra expressão importante de ser analisada é "cana agitada pelo vento" (Mateus 11:7). Jesus fala sobre João Batista. Ele pergunta às multidões: "O que fostes ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento?". Esta é uma expressão que pode gerar controvérsia já que no deserto não tem "cana".  Faz-se necessário compreender que ela é usada para descrever algo ou alguém que é facilmente influenciado ou instável, uma pessoa volúvel.
No contexto bíblico, Jesus está destacando que João Batista não era uma pessoa fraca ou facilmente influenciável, mas alguém firme e resoluto em sua missão. É uma metáfora poderosa que nos lembra da importância de sermos firmes em nossas convicções.
  • "Aquele que não odiar pai e mãe não é digno de mim" (Lucas 14:26)
Essa frase de Jesus é considerada uma expressão idiomática. Quando Jesus diz esta frase ele não está incentivando o ódio literal. Na cultura judaica da época, o termo "odiar" era frequentemente usado em um sentido comparativo, significando "amar menos" ou "dar menos prioridade".
Jesus estava enfatizando a necessidade de colocar o compromisso com Ele acima de todos os outros relacionamentos e prioridades. Em outras palavras, o amor e a lealdade a Jesus devem ser tão grandes que, em comparação, todos os outros amores parecem menores.
  • "É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus" (Mateus 19:24).
Esta expressão é frequentemente interpretada de várias maneiras.
Alguns estudiosos sugerem que Jesus estava usando uma hipérbole, uma figura de linguagem que exagera para efeito dramático, para enfatizar a dificuldade dos ricos em se desapegar de suas posses materiais e seguir a Deus. Outros acreditam que "fundo de uma agulha" poderia se referir a uma pequena porta em Jerusalém, onde um camelo teria que se ajoelhar e ser descarregado para passar, simbolizando humildade e desprendimento.
A existência deste porta "fundo de uma agulha" em Jerusalém na época de Jesus é um tema de debate entre estudiosos. Não há evidências arqueológicas ou históricas concretas que confirmem a existência de tal porta com esse nome específico. A interpretação mais aceita é que Jesus estava usando uma hipérbole para ilustrar a dificuldade dos ricos em entrar no Reino de Deus devido ao apego às suas posses materiais.
Vejamos alguns exemplos nas Cartas de Paulo:
Muitas das passagens polêmicas nas cartas de Paulo podem ser mal interpretadas devido ao desconhecimento das expressões idiomáticas e do contexto cultural da época. Paulo frequentemente usava linguagem figurativa e expressões idiomáticas que eram bem compreendidas por seus contemporâneos, mas que podem ser confusas para leitores modernos.
Por exemplo, em 1 Coríntios 9:22, Paulo diz: "Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns." Aqui, ele não está sugerindo que comprometeria seus princípios, mas sim que se adaptava culturalmente para alcançar diferentes grupos de pessoas com a mensagem do Evangelho.
Outro exemplo é em Romanos 12:20, onde Paulo cita Provérbios 25:21-22: "Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça." Esta expressão idiomática significa que atos de bondade podem levar o inimigo ao arrependimento e à mudança de comportamento.
  • "Espinho na carne" (2 Coríntios 12:7): Paulo fala sobre um "espinho na carne" que o atormenta. Esta expressão é geralmente entendida como uma metáfora para uma dificuldade persistente ou um problema pessoal que ele enfrentava, embora o exato significado não seja claro.
  • "Vasos de ira" e "vasos de misericórdia" (Romanos 9:22-23): Paulo usa a metáfora dos vasos para falar sobre pessoas destinadas à ira ou à misericórdia de Deus. Esta linguagem figurativa pode ser difícil de entender sem considerar o contexto teológico e cultural. Hoje, à luz dos ensinamentos espíritas podemos entender a "ira" como sendo uma reação da Lei às nossas transgressões, e a "misericórdia", ao contrário, como uma manifestação do amor de Deus para aquele que ama, pois, segundo o próprio apóstolo, o amor é o cumprimento da Lei (Rm, 13: 10)
  • "Morrer é lucro" (Filipenses 1:21): Quando Paulo diz "para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro", ele está expressando sua profunda devoção a Cristo e a crença de que a morte o levaria a estar com Cristo, o que ele considerava um ganho. Temos aqui um contraste entre as questões espirituais, e as materiais, onde as primeiras são mais valorizadas pelo apóstolo por serem eternas.
  • "Cobrir a cabeça" (1 Coríntios 11:4-6): Paulo fala sobre homens e mulheres cobrindo a cabeça durante a oração ou profecia. Esta instrução está profundamente enraizada nas normas culturais e sociais da época, e pode ser mal compreendida se retirada desse contexto.
  • "Circuncisão do coração" (Romanos 2:29): Paulo usa a expressão "circuncisão do coração" para contrastar a circuncisão física com a transformação espiritual interna, enfatizando a importância da fé e da obediência a Deus.
Paulo escreveu em um tempo e cultura específicos, e suas palavras eram direcionadas a comunidades com entendimentos e práticas particulares.
Algumas passagens que parecem sugerir a inferioridade das mulheres, como 1 Coríntios 14:34-35 ("as mulheres devem ficar caladas nas igrejas"), podem ser entendidas de maneira diferente quando consideramos o contexto cultural e as normas sociais da época. Naquele tempo, era comum que as mulheres não tivessem acesso à educação formal, e a instrução de Paulo poderia estar relacionada à manutenção da ordem durante os cultos, em vez de uma declaração sobre a inferioridade das mulheres.
Sobre este assunto importa considerar que o índice de analfabetismo era bastante alto. Estima-se que a maioria da população do Império Romano era analfabeta, com taxas de alfabetização variando entre 5% e 20%, dependendo da região e do contexto social. A alfabetização era mais comum entre as classes altas e os cidadãos urbanos, enquanto a maioria das pessoas nas áreas rurais e das classes mais baixas não sabia ler nem escrever.
Entre as mulheres, os índices de analfabetismo na época de Paulo eram ainda mais altos. A educação formal era predominantemente reservada para os homens, especialmente aqueles de classes sociais mais altas. As mulheres, em geral, tinham menos acesso à educação e, portanto, a taxa de alfabetização entre elas era significativamente menor.
Essa disparidade na educação reflete as normas culturais e sociais da época, onde as responsabilidades das mulheres eram principalmente domésticas e familiares. Isso também ajuda a entender por que Paulo e outros líderes religiosos da época poderiam ter dado instruções específicas sobre o comportamento das mulheres nas assembleias religiosas, considerando o contexto de baixa alfabetização e as expectativas sociais.
Paulo também reconheceu e elogiou várias mulheres em suas cartas, como Priscila, Febe e Júnia, que desempenharam papéis significativos nas primeiras comunidades cristãs. Isso sugere que Paulo via as mulheres como colaboradoras valiosas no ministério.
Outras expressões:
Mateus, 10: 27
Em luz: Publicamente, para que todos saibam.
Pregai sobre os telhados: Expressão que significa "proclamar publicamente".
Mateus, 24: 31
Quatro ventos: refere-se aos quatro pontos cardeais (norte, sul, leste, oeste). Como dizer "todas as direções, todo lugar"
Mateus 26:23
O que mete comigo a mão no prato: Na cultura judaica da época, compartilhar um prato era um sinal de intimidade e confiança. Portanto, essa expressão destaca a gravidade da traição de Judas, que, apesar de compartilhar momentos próximos e íntimos com Jesus, ainda assim o trairia.
Conclusão:
Compreender as expressões idiomáticas bíblicas é fundamental para uma interpretação precisa dos textos sagrados. Essas expressões refletem a riqueza cultural e linguística da época, oferecendo uma visão mais profunda da mensagem bíblica. Ao decifrá-las, podemos apreciar melhor a sabedoria e a beleza contidas nas Escrituras, enriquecendo nossa experiência espiritual e cultural.
Como temos dito, muitas vezes, expressões idiomáticas e figuras de linguagem podem ser mal compreendidas se não forem analisadas dentro de seu contexto original o que gera um prejuízo para o real entendimento.


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