segunda-feira, fevereiro 03, 2025

A Função do Trabalho

#Pública






Analisar a função do trabalho, observando seu grande valor na formação do Espírito, é um grande desafio, visto que, até pouco tempo atrás, trabalhar era tido como uma atitude inferior, destinada apenas aos escravos e aos socialmente excluídos.
A afirmativa bíblica "com o suor do teu rosto comerás o teu pão"[1] foi mal interpretada. Por conclusões apressadas e imediatistas, o homem elegeu o ócio como um ponto a conquistar, aprofundando ainda mais sua queda moral.
Foi com Jesus, o sociólogo maior de todos os tempos, que o trabalho ganhou real significado:
"Mas quem quiser se tornar grande no meio de vós, seja vosso servo. E quem quiser, dentre vós, ser o primeiro, deve ser vosso servidor."[2]
"Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também."[3]
Infelizmente, ao tornar-se religião oficial do império, e sofrer mais influência do paganismo romano, o Cristianismo, com o tempo, abandonou as propostas iniciais do Cristo. Com isso, seus seguidores esqueceram a função maior do ato de servir.
Alguns missionários a serviço de Jesus retornaram ao planeta para resgatar as "primícias do Reino". Entre eles, destacamos as figuras de Francisco de Assis, Lutero e Joana d'Arc. Porém, é a partir da Revolução Industrial que se inicia o processo de resgate do trabalho como virtude a ser conquistada. Nesse período ocorre uma maior conscientização da classe trabalhadora.
No século XIX, devido ao maior amadurecimento da Humanidade, a verdade vem à tona. Vemos Kardec, sincero discípulo do Senhor, perguntar às entidades que o dirigiam:
A necessidade do trabalho é uma lei da natureza?
Ao que eles respondem:
"O trabalho é uma lei natural…"[4]
E vão mais além, ao afirmar que o trabalho não é somente material:
"O Espírito trabalha como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho."[5]
A partir daí, o espiritualismo fincou raízes na consciência fértil da Humanidade. No início do século XX, Pietro Ubaldi desenvolveu a tese que colocou o ato de servir em seu lugar correto. Inspirado pela voz que lembrava Jesus e o Espírito da Verdade, afirmou:
"O trabalho não é uma necessidade econômica, mas uma necessidade moral."[6]
Ao que Emmanuel completa, através da iluminada psicografia de Francisco Cândido Xavier:
Não vale, contudo, agir por agir. As regiões infernais vibram repletas de movimento.[7]
Entendemos aqui que a movimentação por um fim útil pode, muitas vezes, nos aprisionar em sentimentos inferiores, já que cada um se movimenta de acordo com o seu estado evolutivo. Presos que ainda somos a uma retaguarda formada por anseios de nosso subconsciente dominado por instintos embrutecidos, insistimos em vibrar pensando somente no conforto próprio e nos nossos interesses, esquecendo de retirar da oportunidade de ação os recursos enobrecedores da alma.
"Os caminhos da evolução no nível humano são ciência e trabalho", afirma Ubaldi, em perfeita consonância com a questão 676 de O Livro dos Espíritos. Nela, os Espíritos afirmam que o trabalho é uma consequência da natureza corporal do homem, uma expiação e um meio de aperfeiçoar a inteligência.
Nesse ponto, retornamos ao texto bíblico e, usando sua simbologia, vemos que a necessidade de "ganhar o pão com o suor do rosto" só aparece após a perda do paraíso. É com o rompimento com a Lei de Deus e o distanciamento dos desígnios superiores que o trabalho surge como expiação. Isso ocorre devido ao aprofundamento da criatura na matéria, apagando-se as possibilidades divinas no homem. Porém, é preciso compreender que esse trabalho é o instrumento mais eficiente de resgate dos potenciais do Espírito, através do aperfeiçoamento da inteligência e da auto-iluminação da criatura, conforme a expressão evangélica "resplandeça a vossa luz."[8]
Em seu Evangelho, Jesus é o exemplo maior. Não o encontramos ocioso em nenhum momento, nem mesmo nos festivos ou jantares dos quais participava. O Senhor aproveitava para servir e ensinar por meio de sua ação edificante em favor do próximo.
Voltando ao autor de A Grande Síntese, nos deparamos com a afirmação:
Maravilhoso é vosso dinamismo trabalhador e criador, mas não o tomeis como meta absoluta, como tipo definitivo e completo de vida, mas apenas como meio para atingir um estado mais distante e algo superior.
Ao que Emmanuel parece concordar:
Além do trabalho-obrigação que nos remunera de pronto, é necessário nos atentarmos ao prazer de servir.[9]
Todavia, sabemos que essa substituição proposta por Emmanuel se dá naturalmente. O homem ainda se acha prisioneiro dos interesses materiais, e a vida, sempre dinâmica em seu modo de agir, o impulsiona a conquistas importantes para o seu plano atual de evolução, por meio do trabalho voltado às questões imediatistas.
O homem pensa que trabalha exclusivamente para enriquecer e desfrutar os bens terrenos, porém, a Providência o ensina sutilmente a se esforçar, colaborar e servir, para atingir seu objetivo superior. "Vossa atividade humana ilumina-se, então, com luz interior; valoriza-se com significado imensamente mais alto", lembra Ubaldi. E ainda: "Todos os vossos males são devidos à vossa imperfeição social e à vossa impotência de saber fazer melhor."
O capítulo 79 de A Grande Síntese é farto de colocações que nos ajudam a compreender a utilidade do trabalho e a evolução da compreensão do homem a seu respeito. Do mesmo modo que Emmanuel em colocação anterior, Ubaldi afirma: "Ao conceito de trabalho econômico tem que substituir-se o de trabalho função social, direi mais: função biológica construtora."
Mostramos em nossos comentários a função do trabalho de tornar o homem melhor, objetivo este que é o da própria existência. Não temos a menor dúvida que o ato de servir é o melhor instrumento de auto-iluminação para o homem de todas as eras. "O trabalho-ação transforma o ambiente; o trabalho-serviço transforma o homem." [10]
Como o sentido da vida é para frente e para o alto, esse impulso de buscar algo melhor – que é Deus em nós – nos leva a trabalhar por nosso conforto (Lei de Conservação) e de nossos seres queridos (Lei de Amor e Caridade). Porém, como o sentido da vida é a evolução, nos aperfeiçoamos, aprimorando, assim, a legislação que nos orienta, e criando uma ética mais próxima da verdadeira moral, que é a observância da Lei de Deus. Como consequência, melhoramos o ambiente e criamos mais conforto e soluções adequadas para problemas que, desde sempre, desafiam a Humanidade. Esse é o trabalho função social.
Ubaldi ainda acrescenta sobre o trabalho: "função biológica construtora". Insistimos em afirmar que o projeto da vida para todos nós é a evolução. Evolução significa superarmos a animalidade e aperfeiçoarmo-nos moralmente. É também a construção constante de um biótipo mais adiantado, capaz de vivenciar uma ética superior de forma espontânea.
É fato, e a Antropologia confirma, que o tipo biológico do ser humano evoluiu consideravelmente do homem primitivo ao atual. Não só o organismo físico mudou, mas também sua psicologia. Essa construção de um psiquismo mais adiantado não se dá ao acaso, mas é fruto do sacrifício, do esforço e da abnegação que o homem aprende diariamente, na busca incessante e contínua de refletir com mais qualidade e à luz dos planos celestiais. Só a repetição constante cria automatismos e aptidões cada vez mais claros e nobres.
Para encerrar estes singelos comentários, é importante concluir os apontamentos citados por Kardec, Ubaldi e Emmanuel, e, principalmente, a atitude constante do Educador maior da Humanidade, que é Jesus:
  • O trabalho é um instrumento de construção eterna;
  • É disciplina do Espírito;
  • O trabalho não é uma condenação social dos deserdados, mas um dever de todos. É imoral não colaborar;
  • A abnegação começa onde termina o dever. É a "segunda milha a caminhar" que nos ensina Jesus em seu iluminado Sermão. É dar a outra face, largar a capa quando nos for exigida a túnica.
Cláudio Fajardo
Extraído da Revista "O Médium" editado pela AME de Juiz de Fora (MG) de ·
[1] Gênesis, 3: 19.
[2] Mateus, 20: 26 e 27.
[3] João, 5: 17.
[4] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Questão 674.
[5] Ibidem, Questão 675.
[6] UBALDI, Pietro. A Grande Síntese, 18 ª Ed. Campos dos Goytacazes: Fraternidade Francisco de Assis, 1997. Cap. 79
[7] XAVIER, Francisco C./ Emmanuel (Espírito). Pensamento e Vida, 9ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991. Cap. 7.
[8] Mateus, 5: 16.
[9] Pensamento e Vida, Cap. 7.
[10] Pensamento e Vida, Cap. 7.
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