quinta-feira, dezembro 11, 2025

Visão Espírita do Natal

 





Embora associemos o Natal ao nascimento de Jesus, a tradição da festividade remonta a milênios. As origens do Natal vêm desde dois mil anos antes de Cristo. Tudo começou com um antigo festival mesopotâmico que simbolizava a passagem de um ano para o outro, o Zagmuk. Para os mesopotâmicos, o Ano Novo representava uma grande crise. Devido à chegada do inverno, eles acreditavam que os monstros do caos se enfureciam e Marduk, seu principal deus, precisava derrotá-los para preservar a continuidade da vida na Terra. O festival de Ano Novo, que durava 12 dias, era realizado para ajudar Marduk em sua batalha.

A mesopotâmia inspirou a cultura de muitos povos, como a dos gregos, que assimilaram as raízes do festival, celebrando a luta de Zeus contra o titã Cronos. Mais tarde, por intermédio da Grécia, costume alcançou os romanos, sendo absorvido pelo festival chamado Saturnália, pois era em homenagem a Saturno. A festa começava no dia 17 de dezembro e ia até o 1º de janeiro, comemorando o solstício do inverno. De acordo com seus cálculos, o dia 25 era a data em que o Sol se encontrava mais fraco, porém pronto para recomeçar seu crescimento e espalhar vida por toda a Terra.

Durante a data, que acabou conhecida como o Dia do Nascimento do Sol Invicto, as escolas eram fechadas e ninguém trabalhava. Eram realizadas festas nas ruas, grandes jantares eram oferecidos aos amigos, e árvores verdes – ornamentados por muitas velas – enfeitavam as salas para espantar os maus espíritos da escuridão. Os mesmos objetos eram usados para presentear uns aos outros.

Depois de Cristo

 Nos primeiros anos do Cristianismo, a Páscoa era o feriado principal. O nascimento de Jesus não era celebrado.

No século IV, a Igreja decidiu instituir o nascimento de Jesus com um feriado. Mas havia um problema: a Bíblia não menciona a data de seu nascimento. Então, apesar de algumas evidências sugerirem que o nascimento de Jesus ocorreu na primavera, o Papa Júlio I escolheu 25 de dezembro. Alguns estudiosos acreditam que esta data foi adotada num esforço de absorver as tradições pagãs da Saturnália.

A maior parte dos historiadores afirma que o primeiro Natal, como conhecemos hoje, foi celebrado no ano 336 d.C. A troca de presentes passou a simbolizar as ofertas feitas pelos três reis magos ao menino Jesus, assim como outros rituais também foram adaptados.

Hoje, as Igrejas Ortodoxas grega e russa, celebram o Natal no dia 6 de janeiro, também referido como o “Dia dos Três Reis”, que seria o dia em que os três magos teriam encontrado Jesus na manjedoura.

Data Provável do Natal

 Lemos no Evangelho de Lucas: “E aconteceu, naqueles dias, que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse. Este primeiro alistamento foi feito sendo Quirino governador da Síria.”[1] César Augusto reinou de 30 a.C a 14 d.C.

Mas o censo ocorreu em 6 d.C., o que permite ver que a determinação da data está historicamente imprecisa. Há, no entanto, uma tradução proposta, segundo a Bíblia de Jerusalém: “Esse recenseamento foi anterior àquele realizado quando Quirino era governador da Síria.”

Jesus nasceu antes da morte de Herodes, morte esta que aconteceu em 4 a.C., provavelmente entre 8 e 5 a.C. A chamada Era Cristã foi estabelecida por Dionísio, o pequeno, apenas no século 6 e é fruto de um erro de cálculo.

Quando Jesus iniciou o seu ministério ele tinha provavelmente 33 anos, ou até 36. E Dionísio, o pequeno, considerou como se ele tivesse 30 anos, embora Lucas (3:23) fale em “mais ou menos 30 anos”.

Neste ponto a revelação espírita pode, como em tantos outros, contribuir com os historiadores.

Humberto de Campos, em mensagem psicografia por Chico Xavier e publicada em Crônicas de Além-túmulo, aponta o ano 749 da era romana como sendo o ano do nascimento de Jesus, o que corresponderia ao ano 5 a.C.

Do mesmo modo, Emmanuel informa-nos em Há 2000 Anos que o ano da crucificação de Jesus foi o 33 a.C. Sendo assim, portanto, Jesus iniciou o seu ministério com 34 ou 35 anos e desencarnou com 37 ou 38.

Um Significado Espiritual

 Diz, então, a sequência do Evangelho de Lucas: “E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. E subiu da Galileia também José, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de Davi chamada Belém (porque era da casa e família de Davi)”[2]

Belém situa-se a 6 quilômetros de Jerusalém e a 800 metros de altitude, nos montes da Judeia. Por isso a expressão “subiu da Galileia à Judeia”.

Buscando o sentido espiritual do Evangelho, podemos entender Nazaré como sendo nossas vivências na área da razão. É o racional que hoje, no dia a dia, fala mais alto em nossos procedimentos.

Belém seria assim, a representação de nosso encaminhamento levando em conta o sentimento equilibrado, a intuição, ou o amadurecimento da própria razão pelo equilíbrio desta, através da vivência, com o emocional.

O nascimento de Jesus em Belém significaria, assim, o início de uma nova era em que a justiça se converte em amor, e o racional é espiritualizado através de seu perfeito equilíbrio com o emocional.

Historicamente, não há certeza sobre Jesus ter nascido em Belém ou Nazaré. O que realmente importa, porém, é apropriarmos de seu sentido reeducativo, é saber que, para que o Cristo nasça em nossa intimidade é necessário agir equilibrando sentimento e razão, intelecto e moral, conhecimento e aplicação. Pois, se no plano horizontal necessitamos da ciência em nossas movimentações cotidianas, para verticalizarmos nossas conquistas não podemos prescindir de uma moral elevada consoante os ensinamentos contidos no Evangelho.

Para que o Cristo nascesse, Maria e José tiveram que subir da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de Davi chamada Belém, significando assim a necessidade de subirmos espiritualmente para refletirmos o Cristo em toda sua grandeza.

Prossegue a Narrativa

 O Evangelho de Lucas nos conta, então, que “...a fim de alistar-se com Maria, sua mulher, que estava grávida. E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz. E deu à luz o seu filho primogênito, e envolveu-o em panos e deitou-se numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem.”[3]

Jesus vem à luz por meio de Maria. Assim narra o evangelista: “E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria.”[4]

“Virgem” aqui se refere a núbil (mulher em idade para se casar), ou mulher jovem que, em hebraico é almah. Era um termo usado quando se referia a uma donzela ou jovem casada recentemente, não havendo nenhuma referência em particular à virgindade como entendemos hoje.

Gabriel, então, disse: “E eis que em teu ventre conceberás, e dará à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus.[5] Maria estava preparada, por isso pôde conceber Jesus em seu ventre, isto é, dentro de si.

E nós, o que estamos cultivando, o que estamos construindo dentro de nós mesmos? Quando estaremos preparados para trazer à luz o Cristo imanente em nós? Aquele que, segundo o texto evangélico, “será grande e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu Reino não terá fim.[6]

No entanto, Maria indaga: “Como se fará isso, visto que não conheço varão?” E respondendo o anjo, disse-lhe: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.”

 A outra possível tradução para “Espírito Santo” é “sopro sagrado”, dando a entender a presença de Deus em nós quando a Ele estamos ajustados. Àquele tempo a presença de Deus (IHVH) era manifesta por uma nuvem, por isso o uso da expressão “cobrirá com sua sombra”

Nasce a Virtude nos Corações

 A descida do “sopro sagrado” representa bem o momento de fecundação da virtude em nós. O valor vem do alto por meio da revelação superior, necessitando ser por nós absorvido e vivenciado para fixação, que se dá com o nascimento do novo ser em que nos transformamos a partir de então. Por isso, o Cristo é sempre fecundado pelo Espírito Santo.

“Disse, então, Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela[7]”. Perfeitamente ajustada aos Desígnios Superiores, Maria se entrega totalmente a eles. É aquele momento em que há perfeito entendimento do mecanismo da vida, quando o Espírito sabe que o mais importante é atender a Vontade do Pai e, então cumpre-a fielmente. É a liberdade-obediência. Encontramos assim em Maria as três qualidades básicas para que o Cristo possa nascer: confiança, consciência e obediência, sintetizadas na fé.

Mais Lições a Serem Aprendidas

 Jesus envolvido em panos nos ensina a lição de simplicidade: enquanto nos preocupamos tanto com os acessórios em nossa vida do dia a dia, os Espíritos superiores ocupam-se com o que verdadeiramente é importante para a vida imortal.

A manjedoura é o tabuleiro em que se deposita comida para vacas, cavalos etc. em estábulos. Segundo Emmanuel em A Caminho da Luz, “a manjedoura assinalava o ponto inicial da lição salvadora do Cristo, como a dizer que a humildade representa a chave de todas as virtudes.”

Por meio de Jesus colocado em um tabuleiro como alimento para animais, o Evangelho ensina-nos que, se quisermos deixar a condição de animalidade em favor de uma espiritualidade mais autêntica, é preciso que tenhamos o Cristo, ou a Boa Nova, por ele proposta, como alimento definitivo de nossas almas. Condição esta confirmada por ele mesmo quando mais adiante nos afirma: “Eu sou o pão da vida[8].” Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.

Outra lição encontrada é a da resignação, “...porque não havia lugar para eles na estalagem[9]“. É muito comum este fato, quando nos ajustamos aos desígnios superiores e agimos em favor do amor e da fraternidade, não há para nós lugar onde se instala o interesse imediatista do mundo material.

A Visita dos Magos

 Narrada no Evangelho de Mateus, a visita dos magos e suas dádivas originaram as tradições de presentes no Natal. No entanto, dádivas seriam doações espontâneas de algo valioso, material ou não, a alguém; presente, oferta, mimo, brinde. Não é o que acontece atualmente no Natal.

Os presentes nem sempre são espontâneos, mas fruto de interesses outros. O que não tem valor material não é bem aceito como presente, mostrando assim a faixa de interesses a que estamos ajustados. A expressão “seus tesouros[10] que se refere aos presentes ofertados, dá a entender que estes já lhes pertenciam, ou seja, que já tinham sido por eles conquistados. Então deveríamos dar valores que já são nossos, nossas conquistas individuais, de nós mesmos e espontaneamente.

Os presentes também contêm significados. O ouro refere-se à autoridade sobre as coisas materiais; o incenso, à autoridade sobre as questões espirituais. A mirra é uma planta de cuja casca sai uma resina aromática. De aroma agradável e gosto amargo, na Antiguidade, segundo o Dicionário Houaiss, ela era usada como incenso e remédio.

Pode revelar, desta forma, dois significados. Foi dado a Jesus o poder sobre as enfermidades: “Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si…“, diz Isaias, 53:4. E representa também a necessidade do testemunho (”gosto amargo”), testemunho este que dá o poder e autoridade sobre as enfermidades e sobre as questões materiais e espirituais.

O Personagem Principal

 Se historicamente não podemos precisar com certeza onde e quando se deu a noite do nascimento de nosso Mestre Maior, é certo que ela aconteceu. Emmanuel assim a descreve em A Caminho da Luz: “Harmonias divinas cantavam um hino de sublimadas esperanças no coração dos homens e da Natureza. A manjedoura é o teatro de todas as glorificações da luz e da humildade, e, enquanto alvorecia uma nova era para o globo terrestre, nunca mais se esqueceria o Natal, a noite silenciosa, noite santa”.

Como já dissemos, o nascimento de Jesus representa o início de uma nova era em que a justiça se converte em amor, e a fraternidade pura através de sua exemplificação, meta a ser alicerçada em nossos corações. Antes era o homem biológico, depois, o homem espiritual.

Na festa que preparamos ao final de cada ano, Jesus deveria ser personagem principal. Assim, como devemos nos preparar para ela, qual a melhor vestimenta a usar?

Aqui deixamos duas passagens evangélicas para refletirmos sobre estes temas: uma de Mateus: “Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-me de comer, tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então, os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E, quando te vimos estrangeiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E, quando te vimos enfermo ou na prisão e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes[11].”

Que façamos em nome do Cristo um Natal diferente. Que saiamos de nós mesmos, de nossos caprichos e desejos pueris, buscando atender as necessidades de nossos semelhantes mais carentes. Reclamamos do “pouco” que temos, mas quão muito é esse pouco se comparado ao enorme percentual da humanidade que muito menos tem, chegando a faltar até o básico necessário? Lembremos destas palavras: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes…”

Em outra passagem narrada por Mateus, lemos: “E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo…[12] Para que possamos estar vestidos com a “túnica nupcial[13]” é preciso estarmos ajustados ao fluxo da vida que é a Lei Superior, que é Amor. Os lírios “não trabalham e nem fiam”, mas cumprem a sua missão de enfeitar mesmo tendo nascido em condições adversas (brejo, lodo etc.).

Ao dizer que nem mesmo o Rei Salomão em toda a sua exuberância se vestiu como qualquer deles, a beleza que Jesus observa é a que vem de dentro, aquela gerada pela consciência tranquila do dever cumprido e do ajuste aos Propósitos Superiores.

Nada dá mais segurança e firmeza do que o Evangelho vivenciado. Assim, firmemo-nos em seus ensinamentos de moral superior e estaremos preparados para que o Cristo nasça em nós, e pelos frutos de nossas ações também possamos ser chamados de Filhos do Altíssimo ou Filho de Deus, por quem quer que seja.


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[1] Lucas, 2: 1 e 2

[2] Idem, 3 e 4

[3] Lucas, 2: 5 a 7

[4] Idem, 1: 26 e 27

[5] Idem, 1: 31

[6] Idem, 1: 32 e 33

[7] Idem, 1: 38

[8] João, 6: 35

[9] Lucas, 2: 7

[10] Mateus, 2: 11

[11] Mateus, 25: 34 a 40

[12] Mateus, 28 e 29

[13] Mateus, 22: 11

 

 


 

 

 



 

 

 

 

sexta-feira, novembro 28, 2025

Mateus 3:11 e a Visão Espírita do Batismo


#ClaudioFajardoAutor

A Interpretação Espírita de Mateus 3:11
No artigo Batismo, Um Desafio Cristão, recebi a seguinte questão: considerando que muitas religiões invocam o Evangelho de Mateus 3:11 para justificar a necessidade do batismo em seus cerimoniais, como deve proceder o espírita diante desse assunto?
O sentido simbólico das palavras de João Batista
Para o Espiritismo, as palavras de João Batista — "Eu, em verdade, vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu... Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo" — devem ser compreendidas em seu significado espiritual e simbólico.
  • Batismo com água: representava a preparação e o arrependimento do povo, um símbolo de limpeza externa, mas sem poder de purificar o espírito por si só. Pode ser entendido como metáfora da própria reencarnação, oportunidade de reinício e aprendizado.
  • Batismo com Espírito Santo e fogo: simboliza a ação de Jesus, que transforma o ser humano pelo Evangelho e pela vivência moral. O "fogo" representa a purificação interior, as provações e expiações que consomem as imperfeições e renovam a alma.
  • Purificação pela reforma íntima: a verdadeira limpeza é interna e ocorre pelo esforço contínuo de cada indivíduo em se aprimorar moralmente, transformando pensamentos, sentimentos e atitudes para o bem.
Rito e vivência
O Espiritismo respeita o batismo como rito de outras religiões, mas distingue a cerimônia externa da transformação espiritual genuína. A salvação, ou progresso espiritual, não depende de rituais, mas da vivência dos preceitos evangélicos no cotidiano.
Como deve proceder o espírita
  • Compreender o sentido espiritual: o batismo real é o da renovação moral, não o ritual externo.
  • Respeitar as crenças alheias: ao ser convidado para um batismo em outra religião, o espírita pode participar respeitosamente, sem ferir seus princípios.
  • Educar os filhos na moral cristã: a orientação é formar a consciência desde cedo nos ensinamentos de Jesus, sem necessidade de ritos simbólicos.
  • Consciência individual: a elevação espiritual é uma jornada pessoal, realizada pelo contato íntimo com a própria consciência e pela prática do bem.
Reflexão Apostólica
Paulo nos lembra: "Fostes sepultados com ele no batismo, também com ele ressuscitastes, pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos" (Colossenses 2:12).
O batismo, em sua origem, significava imersão na água como símbolo de limpeza e compromisso de transformação. Mais importante que o rito era a conversão íntima da criatura.
Para o espírita, o batismo pode ser visto como símbolo da própria reencarnação: o mergulho no líquido amniótico representa o renascimento, e a nova existência é a oportunidade de mudança moral. Mas o essencial continua sendo o nascer do espírito (João 3:5).
Paulo aprofunda essa visão ao comparar o batismo com a crucificação: morrer para o "homem velho" e ressurgir como "novo homem", voltado à vida espiritual. O batismo, portanto, é a morte dos interesses puramente materiais e o renascimento para os valores eternos.
Essa morte simbólica pode ser dolorosa, pois exige desapego, mas é também prenúncio da vitória sobre o pecado e da verdadeira ressurreição do espírito. A cruz, que parecia loucura ao mundo, foi para Cristo a exemplificação necessária da libertação. Assim também nós, ao sepultar o homem velho, ressuscitamos em novidade de vida, pela fé no poder de Deus.
Conclusão
O batismo, para o espiritista, não é um rito externo, mas um processo contínuo de reforma íntima e **renascimento

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sexta-feira, novembro 21, 2025

O Evangelho por José Damasceno Sobral - A Vocação de Mateus






Mateus 9:9-13;
Cap. 24 – item 11, pág. 366;
 
"9 E Jesus, passando adiante dali, viu assentado na alfândega um homem chamado Mateus e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu. 10 E aconteceu que, estando ele em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores e sentaram-se juntamente com Jesus e seus discípulos. 11 E os fariseus, vendo isso, disseram aos seus discípulos; por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? 12 Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: não necessitam de médicos os sãos, mas sim, os doentes. 13 Ide, porém, e aprendei o que significa: misericórdia, quero e não sacrifício. Porque eu não vim para chamar os justos, mas para os pecadores, ao arrependimento." (Mt 9:9-13).
 
"E JESUS, PASSANDO ADIANTE DALI"
O episódio ocorreu em Cafarnaum. O Mestre sempre esteve em movimento: em seu tempo, visitava cidades e aldeias; hoje, sua mensagem se espalha por inúmeros meios, tornando viva a sua presença entre nós.
"VIU ASSENTADO NA ALFÂNDEGA UM HOMEM"
Lucas (5:27) acrescenta: "um publicano chamado Levi, sentado na coletoria". Os publicanos eram cobradores de impostos que antecipavam valores e depois os arrecadavam. Zaqueu também era publicano (Lc 19:1). Eram desprezados pelo povo, pois cobravam além do devido, justificando-se por possíveis prejuízos — e porque o dinheiro se destinava ao império romano. Nem todos agiam assim, mas o simples fato de cobrar impostos já era motivo de antipatia. Jesus, ao ver Mateus na coletoria, mostra que em qualquer lugar podem ser encontrados homens de boa vontade. Não devemos julgar uma classe inteira pelo comportamento de alguns. Mateus estava sentado, identificado com a postura egoísta do "venha a nós".
"CHAMADO MATEUS"
Marcos e Lucas o chamam Levi. Mateus significa "Dom de Jeová". Filho de Alfeu (Mc 2:14). A mudança de nome era símbolo de renovação: Simão tornou-se Pedro; Saulo, Paulo. Ainda hoje, algumas comunidades religiosas mantêm esse costume. Quando o Mestre cruza nosso caminho, sua presença nos incomoda se não estivermos dispostos a mudar de vida e enfrentar nossos conflitos íntimos.
"E DISSE-LHE: SEGUE-ME"
O convite é universal, feito a todas as criaturas. No imperativo, desperta entusiasmo e fortalece a disposição. Mas Jesus apenas convida: não força ninguém, respeita o livre-arbítrio. Muitos adiam a decisão, inventando desculpas. Outros querem ser cristãos sem mudar de vida. Mas não se pode servir a dois senhores.
"E, ELE, LEVANTANDO-SE, O SEGUIU"
Levantar-se não é apenas físico: é também mental e espiritual. É adquirir nova visão sobre pessoas, coisas e o mundo. Lucas acrescenta: "deixando tudo" (5:28). Seguir o Mestre exige abandonar o que contraria seus princípios: egoísmo, vaidade, orgulho, ostentação. Não se trata de abandonar família ou deveres, mas de renunciar ao apego e ao comodismo.
Esse ensinamento permanece atual. Mateus, provavelmente, possuía uma extensa lista de devedores registrada em seus pertences. "Deixar tudo" e seguir Jesus é também deixar nossas próprias listas de quem nos deve, seja material ou espiritualmente, permitindo que todas as coisas se tornem novas (Apocalipse 21:5).
"E ACONTECEU QUE, ESTANDO ELE EM CASA SENTADO À MESA..." (Mt 9:10)
Mateus, em alegria, ofereceu um banquete a Jesus (Lc 5:29). Como publicano rico, devia possuir casa ampla. Vemos aí sinais de transformação: antes, sentado na coletoria, apenas recebendo; agora, à mesa de sua casa, oferecendo. Antes, comodismo egoísta; agora, partilha e reflexão.
"CHEGARAM MUITOS PUBLICANOS E PECADORES"
Eram seus companheiros habituais. Nossa mudança deve influenciar nossos amigos. "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens..." (Mt 5:16). O banquete revela o contentamento de Mateus.
"E SENTARAM-SE COM JESUS E SEUS DISCÍPULOS"
Jesus e seus discípulos, junto de Mateus e seus amigos. Comer juntos significa afinidade e proximidade. Os pecadores eram os que viviam fora dos rituais, assumindo sua condição sem máscaras, o que escandalizava os fariseus. O Evangelho, ao entrar em nosso coração, encontra nossas imperfeições: os "comensais" internos. Mateus deixou tudo; nós também precisamos de decisão firme para abandonar o que nos prende.
"E OS FARISEUS, VENDO ISTO..." (Mt 9:11)
Os fariseus eram os intelectuais da época. Em nós, representam a razão que questiona. Não buscavam aprender, mas semear dúvidas e enfraquecer os discípulos. Perguntaram: "Por que come o vosso Mestre com publicanos e pecadores?". Eles só conviviam com seus iguais; Jesus, ao contrário, buscava os pobres, enfermos e necessitados.
Naquele tempo, banquetes tinham portas abertas: convidados se sentavam, e curiosos podiam entrar e observar. Comer junto significava comunhão. A verdadeira transformação deve partir de dentro, do coração.
"JESUS, PORÉM, OUVINDO, DISSE-LHES..." (Mt 9:12)
Conhecendo a malícia dos fariseus e para proteger seus discípulos, Jesus respondeu: "Não necessitam de médico os sãos, mas sim os doentes". Ele é o Médico das almas. Publicanos, pecadores e até os fariseus eram enfermos espirituais. Mais grave que a doença do corpo é a do espírito. Pior ainda é o doente que se julga saudável: cegos que dizem ver, surdos que afirmam ouvir, mortos que aparentam vida.
Jesus está presente para todos:
  • "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei." (Mt 11:28)
  • "Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá." (Jo 11:25)
"Ide, porém, e aprendei o que significa: misericórdia, quero e não sacrifício. Porque eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento." (Mt 9:13)
"IDE, PORÉM, E APRENDEI O QUE SIGNIFICA"
Paciência, tolerância, misericórdia e perdão muitas vezes são vistos como sinais de fraqueza ou falta de atitude. No entanto, quando Jesus ordena: "Ide e aprendei", Ele nos lembra que apenas a vida, com seus altos e baixos, é capaz de ensinar o verdadeiro sentido dessas virtudes. É pela experiência que adquirimos uma visão mais humana e compassiva dos acontecimentos.
"MISERICÓRDIA QUERO E NÃO SACRIFÍCIO"
Praticar misericórdia é muito mais difícil do que oferecer um sacrifício ritual. O povo judeu estava acostumado a sacrificar bois, ovelhas e pombos — uma religião exterior, baseada em ritos. Hoje, esse comportamento continua, muitas vezes reduzido à simples presença em cultos. Mas Jesus nos mostra que o essencial não é dar coisas, e sim dar-se: oferecer o coração, a compreensão e o amor.
"PORQUE EU NÃO VIM A CHAMAR OS JUSTOS"
Os justos não necessitam de chamado, pois já se encontram alinhados com o bem. Mas é importante lembrar que existem "justos relativos": qualquer pessoa que, em determinado momento, vive com consciência tranquila e coração em paz. Essa condição nos conforta e fortalece, mas não deve servir de acomodação.
"MAS OS PECADORES AO ARREPENDIMENTO"
Aqui Jesus se revela como o Médico das almas. O pecado — o afastamento do bem — é a raiz de todos os males. Deus estabeleceu suas leis, e elas mesmas nos corrigem quando não as seguimos. O ideal é viver de tal forma que nossa conduta dispense a necessidade de vigilância externa, como a presença de um policial. Arrepender-se é interromper a queda e iniciar a subida: um movimento de retorno ao equilíbrio e à harmonia.
  • "Digo-vos que haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." (Lc 15:7)
  • "Porque eu quero misericórdia, e não sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos." (Oseias 6:6)
  • "Esta é uma palavra fiel e digna de toda aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal." (1Tm 1:15)
Referências

Texto atualizado por Cláudio Fajardo (CF) a partir de anotações da reunião de José Damasceno Sobral em Belo Horizonte, 7 de junho de 1979. As anotações em vermelho são atuais feitas por mim (CF)

 
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